Capítulo 1

31.7K 2.5K 269
                                    

JOSHUA SMITH

— Vamos continuar ignorando o óbvio? — Kane fala enquanto me ocupo em tirar meus patins. O treino foi cansativo e preciso tomar um banho rápido para sair sem me atrasar.

— Do que está falando? — Downing, outro companheiro de time, pergunta ao tirar seus equipamentos. ]

— Smith tem ido ao dentista uma vez por semana há mais de um mês. — Recupero minha postura e arqueio uma sobrancelha para o idiota, esperando-o continuar. — Todos estranhamos esse cuidado exagerado e repentino com os dentes. Ele e o treinador sussurram pelos cantos e, apesar de parecer impossível, o homem conseguiu estar mais calado que nunca! Ninguém vai falar nada?

— Você não tem uma vida própria? — Pergunto para ele. — Quando se tornou um stalker que controla minha rotina e agenda?

— Certo, não vamos exagerar aqui. — Malkin dá um passo a frente, erguendo as mãos em sinal rendição, como o bom capitão assistente que é. — Estamos curiosos? Sim, sem dúvida, mas também somos todos amigos aqui e respeitaremos até que Smith sinta vontade de nos contar o que está acontecendo.

— Talvez eu não queira compartilhar nada. — É um grande blefe. Eu contarei para todos em algum momento, só não me pareceu a oportunidade certa.

Eu mesmo não sei como lidar com minha vida no momento. Sinto estou na entrada do paraíso, mas não posso aproveitar nada. Sempre quis ter uma família e agora eu encontrei uma mulher incrívelmente foda, ela está grávida e eu estou aterrorizado.

Parece que uma bomba de livros sobre paternidade explodiu na minha casa e estou desenvolvendo certa compulsão por comprar mais dessa categoria, como se os livros pudessem me ensinar tudo o que é preciso saber para criar bem outro ser humano. Quero dizer, é tão fácil sonhar e fantasiar, mas ter a realidade batendo à porta é assustador como o inferno!

— Você está no seu direito. — Mal dá de ombros.

— É algum problema com Libby Ann? — Fleury questiona e sinto meu rosto se contorcer em uma careta.

— Não. Ela está muito bem no Texas, eu acho.

— Então qual é o problema? — Kane passa a mão pelo cabelo úmido de suor.

— Não há problema. Estou checando minha saúde bucal, fazendo exames e consultas de rotina. Esse tipo de coisa.

— Você está doente? — Downing pergunta.

— Não! É coisa de rotina. Não há nada para se preocupar.

— E os sussurros às escondidas com o treinador? — Kane me faz revirar os olhos de impaciência.

— Treino, Kane. Táticas de treino. Somos jogadores com um campeonato importante pela frente, todos precisamos praticar e melhorar.

— Droga! Você está mesmo escondendo algo. — Fleury reclama.

— O que?

— Cara, você não faz discursos motivacionais e tem pavor de dentista. — Nosso goleiro continua com seu discurso. Confiro as horas em meu telefone, preciso ser rápido ou vamos nos atrasar para a consulta. — Normalmente você diria algo como "não é da conta de vocês. Vão para o inferno".

— Não sei do que estão falando.

— E agora ele está desconversando. — Kane faz uma expressão exagerada de choque. — Nunca esperamos isso de você, sulista reclamão.

— Kane, você não pode cuidar da sua vida?

— Isso sim soa como algo que você diria.

— É por isso que estou dizendo. — Fecho minha bolsa com os equipamentos, ficando de pé com a toalha em meu ombro. — Eu preciso tomar banho e sair. Vocês podem ficar aqui com suas teorias idiotas, eu não me importo.

— Não agiria tão diferente se não fosse importante. — Kane alfineta. — Tudo bem, Joshua. Podemos esperar pela sua boa vontade como os bons garotos que somos.

— Kane, limites. — Malkin chama sua atenção, mesmo todos sabendo que é inútil. — Não forçamos os outros aqui. Somos companheiros de time, precisamos uns dos outros para jogar, nós confiamos um no outro, não criamos teorias.

— E se Smith estiver precisando de ajuda?

— Eu não estou.

— Como pode saber?

— É a porra da minha vida, eu saberia se precisasse de vocês cuidando dela, não acha?

Os caras se calam, observando minha pequena explosão de impaciência. Eles são o mais próximo de família que tenho aqui. Precisei me mudar para o extremo oposto do país para jogar e detesto admitir que Kane está certo. Eles sempre estiveram prontos para me apoiar e ajudar, mesmo nos momentos em que muita paciência era exigida como as voltas e términos com Libby Ann, uma mais complicada que a outra.

— Entendido. — Kane fala uma última vez e se senta em silêncio, se ocupando em desatar os patins.

— Vocês estão certos. — Solto um suspiro longe e cansado, apertando a toalha como uma força de aliviar os estresse. — Não há dentista, há um obstetra. As consultas semanais são para fazer ultrassons. Eu vou ser pai.

— Ha-Ha. Grande piada. — Kane balança a cabeça. — Não precisa disso, cara. Nós já entendemos que você não quer falar e para mim o assunto morreu.

— Não estou mentindo. Tem um bebê a caminho.

— Eu não acredito. — Fleury se recosta com os braços cruzados no peito. — Você é um recluso.

— Mesmo os reclusos podem reproduzir. — Malkin dá de ombros. — Parabéns, cara.

— Obrigado. Preciso de sair rápido, tenho que buscar a minha senhora para a consulta.

— Quando você começou a namorar? — Kane pergunta. — Até onde eu sei, você passa o seu tempo consertando aquela caminhonete velha, não transando.

— Essa é a parte complicada. Eu não tenho uma namorada.

— Oh, merda! — Downing se levanta. — Libby Ann está grávida?

— Por Deus, não! Se estiver com certeza não é meu.

— Eu estou confuso. — Fleury franze o cenho. — Realmente confuso.  Nada disso era o combinado quando pedimos para Kane irritar o Smith até ele falar o que está acontecendo.

— Vocês fizeram o que? — Respiro fundo, lembrando a mim mesmo que não tenho tempo extra para gastar com toda essa loucura. — Encontrei uma mulher especial, nós nos envolvemos e ela engravidou. Não estamos juntos. Fim da história.

Apenas uma noite - Os Jogadores #2Onde histórias criam vida. Descubra agora