O Cunhado

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Acho que nem se eu sonhasse por diversas vezes conseguiria descrever toda a grandeza desse quarto, quer dizer, uma suíte em um segundo andar com cama de casal, escrivaninha, sacada e até mesmo uma lareira.

Quem diria?

Já tirei meu casaco e os tênis, estou sentada na cama do quarto, olhando através da porta da sacada a neve caindo lá fora entre as árvores que cercam a propriedade o cenário realmente é de tirar o fôlego.

Sei que nem que se eu juntasse tantos meses de salário tiraria férias num lugar hospedada numa casa dessas.

Escuto o som da maçaneta sendo girada e fico de pé, assim de uma forma bem natural vejo o meu cunhado entrando no quarto carregando a minha mala de mão e a minha mochila.

— Ah, obrigada — digo em português. — Eu já estava indo buscar.

— Não é problema — responde ele em português e coloca a mala e a mochila no chão perto da cama. — Precisa de alguma coisa?

— Não, está tudo ótimo — sorrio. — Eu já estou indo para ajudar com as crianças.

— Ah, não fomos apresentados formalmente, mas sou Arthur, muito prazer — ele estende a mão grande na minha direção.

— Eu sou Djamilah — estendo a mão e seguro a dele com um cumprimento firme e rápido.

Ele tem mãos lisas e suaves.

— Gostou do hotel? — Arthur indaga. — Espero que tenha apreciado a viagem também.

— Sim, foi tudo maravilhoso — admito.

— Seus pais me disseram que você poderá nos auxiliar com as crianças, farei uma viagem dia trinta e um e retornarei após o dia dez, algum problema se puder ficar com eles?

— Nenhum, fique tranquilo.

— Perfeito.

Penso comigo e não consigo me questionar sobre a Mara ter se casado com um gringo lindo e bilionário, ela sempre foi a filha mais bonita e também a mais inteligente ao ver dos meus pais, sei que ela sempre sobre o que queria e onde queria chegar, só que ver ele assim de perto realmente é bem impressionante.

Ele fica por alguns momentos me olhando e isso é um pouco constrangedor, não faço muito ideia do porque, mas imagino que ele talvez esteja intimamente esperando que eu fale porque não estive na vida da minha irmã nos últimos anos ou enfim, desde que eu saí de casa.

— Precisa que eu fale um pouco ao meu respeito?

— Bem, não espero que se incomode, mas você ficará com os meus filhos por dias e eu não a conheço em nenhum sentido — ele parece um pouco deslocado. — Seus pais não souberam me falar nem onde você trabalha.

Se eles se importassem o suficiente para querer saber...

— Bom, eu já fui babá por sete anos em uma família em São Paulo, eu sei passar, cozinhar, e limpar a casa, sei que as crianças estão em fase de desenvolvimento então conheço algumas atividades pedagógicas que posso desenvolver...

— Eles têm uma babá, eu quero saber sobre você — os olhos azuis são curiosos e de alguma forma afiados.

— Tenho trinta e oito anos, sou solteira, sem filhos, nunca me casei e moro sozinha em Campinas uma cidade do interior de São Paulo, atualmente sou operadora de caixa em um supermercado e em alguns dias da semana pela noite eu olho uma senhora idosa da minha rua, eu tenho dois gatos e adoro ler — falo um pouco sem graça.

— E com quem deixou os seus gatos? — ele enfia as mãos dentro dos bolsos da calça.

— Com a filha dessa senhora que eu olho, pedi que ela desse uma olhada na minha casa também.

— Não temos animais.

— Ah.

— Na cozinha tem um quadro com os horários das crianças e as coisas que elas têm que fazer, como os seus pais virão comigo então poderá contar com a babá e com os funcionários caso precise de alguma coisa.

Meus pais também vão?

— Parece meio surpresa.

— Sem problemas.

— Não me apeteço de saber que você está aqui agora, principalmente porque você nunca teve consideração alguma pela Mara, não veio ao funeral dela, portanto, estou deixando bem claro que só está aqui por conta dos meus sogros, do contrário para mim não faria diferença alguma se viesse ou não.

É recíproco.

Percebo o tom de arrogância na voz dele, quando ele me olha mais uma vez de cima abaixo noto o desdém em seu olhar e penso comigo, como por um segundo cheguei a pensar que esse cara poderia ser no mínimo educado e gentil.

Eu nem quero imaginar as coisas que a Mara disse para ele ao meu respeito.

— Estamos esperando para o almoço, não demore.

— Sim senhor.

Ele me lança um olhar estranho e depois sai do quarto em passos largos ao mesmo tempo consigo voltar a respirar de novo dizendo para mim mesma que em qualquer oportunidade que eu tiver assim que almoçarmos vou sentar com os meus pais e conversar.

E quanto a esse arrogante prepotente, vou ignorar o máximo que eu puder. Já mal o conheço e sei que não passa de um esnobe, assim como a minha irmã sempre foi.



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Garota Gorda - Conto - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora