Conversas

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— Você quer ajuda aí?

— Não, eu consigo, só preciso de mais um segundinho...

Me estico tentando alcançar a prateleira de cima do armário, o que eu tenho de baixinha não está escrito, passo muitos apuros dependendo dos lugares onde vou. Mas assim com muita facilidade vejo meu cunhado parar ao meu lado estender a mão e com muita tranquilidade pegar a caixa de cereal. Ele a coloca diante de mim e a sacode com um certo humor no olhar.

— Bom dia, Djamilah — diz ele.

— Bom dia senhor Graham — respondo e pego a caixa.

Bem, o que posso dizer? O homem parece ter saído de uma capa de revistas esportivas. Talvez tenha 1,90 de altura, mas isso parece não ser obstáculo algum para ele, sempre que tenho que fazer contato visual olho para cima. Os cabelos dele estão úmidos e ele usa uma calça de flanela xadrez e camisa folgada, chinelas, ele tem pés grandes, mãos grandes, ombros largos, realmente é tudo isso e um pouco mais.

— Estou preparando o café das crianças — aviso.

— Amanda chegou pela madrugada de Vancouver — notifica ele.

Ah, está explicado o bom humor.

— Eu pedi que ela viesse para te conhecer, a minha irmã chegará por volta das 11:00.

— Ótimo, como ela se chama?

— Anne Maria.

— É um nome lindo.

Coloco o cereal nos potes, mas ainda não despejo o leite, ainda estou me entendendo com essa super cozinha que tem absolutamente tudo, estou pensando sobre fazer mistos quentes, pegar umas frutas, me parece bem mais saudável, mas mamãe me disse ontem a noite que as crianças só comem cereal e afim de não contrariar o bonito — literalmente bonito — do meu cunhado optei por não fazer para eles.

— Já colocou pó de café na cafeteira?

— Eu fiz com filtro de papel — indico a garrafa em cima da mesa.

— Ah, bom.

Eu nem consigo imaginar que além dos meus pais alguém possa tomar café coado aqui, mas não digo nada, abro a geladeira e pego a vasilha com queijo e os pães integrais, já liguei a sanduicheira.

Fico refletindo sobre o que o meu pai disse a respeito de Arthur Graham, pensando sobre como talvez ele tenha sido só mais um peão que foi usado nas estratégias da minha irmã de se dar bem na vida.

Eu sei que ela gostava dele, mas que também gostava muito mais do fato de que poderia ascender social e financeiramente ao lado de um americano rico.

Abro a torradeira e monto os mistos então a fecho e pego ovos na geladeira, vou preparar um ovo com gema mole para acompanhar e deixar algumas frutas na mesa, aqui tem tanta opção de comida que não consegui pensar em nada muito extravagante para fazer.

— Quer ajuda?

— Não, eu preparo tudo sozinha, o que quer comer?

— Você vai... cozinhar para mim?

— Não devo? Eu quem fiquei responsável pelo café.

— Achei que a minha sogra faria isso.

— Ok, pode esperar por ela.

Acordei e desci pensando sobre preparar o café porque quero me sentir útil, não gosto de ficar muito tempo parada, se eu houvesse ido passar esse feriado com os meus avós e tios, primos e parentes, a essa hora no Brasil eu já teria nadado, tomado um café coado no pano pela Voca e comido o pão que ela assa na lenha para alimentar toda a tribo todos os dias.

Garota Gorda - Conto - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora