— Você é muito habilidosa.
— Obrigada.
Amanda é uma moça calada, mas bem ágil na cozinha, ela decidiu fazer uma massa com dois molhos e carne de molho, meus pais estão na sala com as crianças e com o meu cunhado, Anne está assistindo tv.
Estou fatiando a carne enquanto Amanda fatia os legumes e vegetais, olho através da janela e percebo que lá fora está nevando tanto que mal se vê as árvores dos fundos, não esperava que fosse ficar mais frio hoje.
— Sua irmã também era boa na cozinha? — pergunta ela baixinho.
— Acho que sim.
Deve ter se tornado, não faço a menor ideia.
Tenho a nítida impressão de que de alguma forma Amanda também não conhece muito sobre a Mara, que não sabe nada a respeito dela, acho que o meu cunhado não deve ter dito nada. Se fosse eu até preferiria assim, mas acredito que para ele pensar em casamento ela seja a garota certa.
A diferença de idade não parece incomodar nenhum dos dois, acho que ele tem cerca de trinta e seis anos, é mais novo que eu, mas para homens como ele facilmente é tranquilo namorar garotas mais novas.
Ele é bonito, rico e tem uma vida toda pela frente, acho que para alguém como Amanda seria algo bem recebido, isso daria a ela a chance de ter uma boa vida com direito a tudo.
Observo o rosto suavizado, olhos meio puxados e cabelos lisinhos presos para trás, ela tem olhos castanhos claros muito bonitos, nariz pequeno e boca pequena, maçãs do rosto que denunciam naturalidade, é magra e tem seios proporcionais ao corpo, imagino que também venha de uma família muito bem de dinheiro.
— Mal vejo a hora de me mudar para Charlotte — ela fala fatiando a cenoura. — O apartamento do Arthur na cidade é maior e tem mais espaço.
Quer dizer que eles não moravam aqui?
— O que faz no Brasil?
— Eu trabalho num mercado e sou cuidadora.
— Deve ser legal ter uma vida normal e longe dos holofotes.
— Deveria haver um?
— Sua irmã era bem popular e engajada em causas sociais, imagino que para você não é algo que esteja acostumada.
— Ah, não, eu não sou engajada nesses projetos.
— Eu e o Arthur nos conhecemos em uma viajem para a África em maio, fomos para ajudar em projetos que ele financia, desde então estamos juntos.
— Parece bem legal.
— Ele é um doce.
Só se for para você, né, querida?
— Bom.
Termino com a carne e levo para a pia.
— Deixa aí que eu finalizo, eu cuido do resto.
— Posso te ajudar se preferir.
— Não, eu mesma quero cozinhar para ele.
— Está bem, se precisar é só chamar.
Lavo as mãos com detergente e as seco com pano de pratos. Me afasto rumo a sala.
— Ela quer independência — aviso e vou para o sofá, me sento ao lado de Anne. — Então, terminou meu clipe?
— Sim — Anne sorri. — Depois te mostro.
— Obrigada.
Mamãe me olha de uma forma meio reprovadora, mas papai está longe de se sentir assim.
— O que foi? — pergunto confusa.
— Deixou as panelas sujas na pia — pragueja ela. — Acha que isso aqui é hotel?
— Cassandra, vai começar? — papai questiona.
— Ela fica se empanturrando com macarrão, assim nunca vai conseguir emagrecer, quem é o homem que vai querer se casar com uma mulher com cem quilos? Como ela poderá ser mãe?
Ouvir essas palavras da minha mãe é algo que me faz muito mal.
— Ela me deu um pouco do macarrão senhora Silva — Anne diz toda sem jeito.
— Cass, não é para tanto — Arthur diz. — Não deixamos pizza para ela, esqueceu?
— Não era para sobrar mesmo ou do contrário ela comeria tudo escondido, ela sempre faz isso, por isso é gorda assim.
Fico de pé e me sinto humilhada pelas palavras da minha mãe.
— Cassandra, já chega! — papai ordena com firmeza.
Mamãe cruza os braços e me olha com apatia.
— Estou mentindo? — pergunta para mim.
— Lamento que você tenha essa visão tão feia ao meu respeito — falo nervosa, olho para o meu cunhado. — Agora você pode perguntar para ela porque eu sai de casa, ela vai saber te explicar as coisas que ela fazia para me fazer sentir a pessoa mais nojenta do mundo, ao ponto de eu tentar me matar por conta disso.
Mamãe fica calada, imóvel, papai tira o óculos e respira fundo coçando as faces. Não era algo que eu pretendia dizer, mas enfim, não vou continuar a estragar o dia de ninguém. Saio da sala e subo as escadas depressa.
Quero distância deles, principalmente da minha mãe.
FIM DA DEGUSTAÇÃO
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Garota Gorda - Conto - DEGUSTAÇÃO
Short StoryDjamilah é uma operadora de caixa que aos 38 anos não pode dizer que vive uma vida romântica muito ativa, por ser uma mulher plus size sente na pele o preconceito de muitas pessoas. Tudo vira de cabeça para baixo quando sua mãe com quem não tem cont...