Os Sobrinhos

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— Como funciona o meu brinquedo?

Ainda não quero acreditar que um menino do tamanho do Pedro não sabe como mexer num ioiô, já Aurora parece realmente ter dificuldade em saber como segurar a mola maluca sem ter derrubado ao menos duas vezes seguidas nos últimos dois minutos.

As crianças quiseram abrir os presentes e então estou vendo diversos papéis rasgados e embalagens jogadas pela sala, elas foram direto nas minhas caixas, também dei conjuntos de massinha de modelar, lego e diversos brinquedinhos infantis para ambos.

— Amei minha camisa — papai diz mostrando a camisa do flamengo que eu trouxe para ele.

— E eu adorei meu kit de sobrevivência — mamãe fala mostrando a caixinha com um kit de licores com tacinhas.

Vou até a árvore e pego a embalagem de cor azul escura, é claro que eu tenho um pouco mais de receio agora que esse tal de Arthur mostrou as garras, mas quis ser gentil e trouxe o presente para ele.

— Esse é para o senhor.

Ele olha para a caixinha e depois para mim como se estivesse totalmente surpreso com o fato de eu dar um presente para ele.

— Eu não sabia o que dar, então pensei em algo que o senhor pode usar no dia a dia.

— Não precisava — Arthur diz e pega a caixinha. — Obrigado.

— Por nada.

Volto para o sofá e abro outra embalagem com Aurora, ela dá um berro ao ver o conjunto de maquiagem infantil que comprei para ela, já Pedro comemora ao ver um boneco do homem aranha em tamanho médio com diversos acessórios.

Eu comprei tudo isso com as minhas economias, queria que as crianças ficassem felizes com a minha chegada, foram presentes que adquiri na loja de uma conhecida do meu bairro, tudo na faixa dos trinta a cinquenta reais, os mais caros foram os dos meus pais, na verdade do meu pai, já que a camisa é original e comprei em outra loja de esportes no centro.

Fico olhando discretamente para o meu cunhado e vendo-o abrir a caixinha e retirar o presente que dei para ele da embalagem, é um kit composto por uma vela aromatizada, duas pulseiras de cores preta e marrom e um perfume de tamanho médio.

É claro que eu não imaginava que ele fosse se comportar como um completo grosso comigo, eu sei que talvez ele não use nada disso, ainda mais agora vendo bem de perto tudo isso, contudo, quis causar boa impressão.

Ele pega o perfume e analisa a embalagem depois devolve a caixa e olha na minha direção, desvio o olhar para as crianças e me inclino ajudando Pedro a tirar tudo da caixa, os acessórios do homem aranha.

— Nós compramos isso para você — mamãe me entrega a caixinha. — Esperamos que goste.

— Não precisava — falo sincera.

Pego a caixa e depois dou um abraço nela, abro-a e vejo papai colocar a camisa do Flamengo dele, os olhos brilhando, a barriguinha saliente e redonda dele fica mais evidente, mas é muito a cara dele.

Abro a caixa e dou de cara com um relógio inteligente daqueles bem caros, fico por alguns momentos olhando e depois me sinto realmente medíocre por ter trazido tantos presentes baratos.

Não sei o que pensei, meus pais nunca foram ricos, apesar do marido da minha irmã ter condições, mamãe nunca chegou perto de falar nada sobre ele ser tão rico ao ponto de pagar tudo para que eu viesse.

O homem já não gosta de mim, vai eu dar uma vela de presente para ele.

— Obrigada, é todo chique — falo sincera. — Eu vou usar durante as minhas caminhadas.

— Imaginamos que iria gostar mesmo — papai fala e fica de lado. — Essa camisa me emagreceu bastante.

Sorrio, meus sobrinhos começam a rir e posso ver que mesmo de lado o meu cunhado parece querer esboçar um sorriso.

— Vamos almoçar — papai determina e pega Pedro no colo. — Gostou dos brinquedos?

— Eu adorei vovô! — Pedro berra e abraça seu boneco.

Sorrio um pouco feliz, começo a recolher as caixas e os papéis de presente, mamãe também, vejo que embaixo da árvore ainda restam dois presentes em caixas bem grandes e bonitas.

— Ainda faltam dois brinquedos — aviso para Aurora. — Que tal ir lá e buscar?

— São os do papai — Aurora responde atenta a maquiagem.

— São Ipads e novos vídeo games — Arthur avisa. — Depois eles abrem, o que são os meus presentes perto dos seus?

— Deve ser muito legal ser você — falo realmente chateada com a indireta. — Se quiser devolver eu aceito.

— Não é o caso — ele responde secamente.

— Ora vocês dois, parem! — mamãe ordena chateada.

Como se fosse culpa minha que esse cara de cu azedo não gosta de mim.

Junto todos os papéis de embalagens e vou até a cozinha, chego diante do cesto e jogo os papéis fazendo bolos com eles e com as embalagens, mamãe está recolhendo os brinquedos de cima dos sofás e colocando-os em apenas uma caixa.

— Obrigado pelo presente, mas eu não uso perfume barato — diz meu cunhado e joga a caixinha dentro do cesto de lixo.

Ele se afasta rumo a mesa de jantar sem nem olhar para trás. Fico paralisada diante da atitude por alguns instantes e me sinto completamente chocada com isso. Respiro fundo por algumas vezes e jogo o resto dos papéis de presente fora.

Começo a me afastar rumo a escada que dá para o andar de cima.

— Djamilah? O que houve?

— Perdi o apetite papai, depois eu como, obrigada.

Não poderia dizer mais nada.

Poderia? 



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DEGUSTAÇÃO

Garota Gorda - Conto - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora