Cemitério de borboletas

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Era noite de quarta-feira quando a terceira borboleta entrou no meu quarto. As duas que entraram anteriormente estavam mortas. Não matei, ninguém tampouco matou. Elas simplesmente não conseguiram sair do meu quarto e acabaram morrendo. Claro que elas não deveriam saber que sair não seria tão fácil quanto entrar, mas mesmo mantendo a porta aberta, duas borboletas morreram. Será que não puderam sair? Simplesmente não quiseram sair? Ou apenas não saíram a tempo, visto que mantive a porta aberta o tempo todo?

Por ora, me sinto como essas borboletas. Presa em uma realidade da qual não consigo sair. Não sei se por comodidade, falta de oportunidade ou, bem lá no fundo, por não saber. Sinto, de repente, que as coisas nunca vão mudar. Porque elas não podem mudar. Estão fixas, enraizadas, donas de uma realidade própria.

Com meu livre arbítrio, imaginei poder escolher o que queria para mim. Escolhi uma profissão, um estilo, um hobby e uma vida. Mas não pude seguir com todas minhas escolhas, pois continuo presa na mesma caixa. No mesmo cemitério de borboletas. Mudei a mim mesma, foi pouco. Mudar a realidade? Muito mais complexo.

Dentre as quatro paredes dessa realidade, não sei se posso ser livre. Não sei se posso viver o que escolhi para mim ou o que queria. Pois estar aqui é fácil, difícil é conseguir encontrar a saída a tempo. A terceira borboleta está tão presa quanto eu. Para ambas, as portas se mantêm abertas, mas se alguma conseguirá sair da caixa que a prende, somente o tempo dirá...

Marcas Indeléveis - CrônicasOnde histórias criam vida. Descubra agora