Grama verde

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A grama verde e o chão de concreto. Contrastando abaixo do sol quente da tarde. Lampejos de memória, desejo e tédio. Olhando pela janela, só consigo pensar que me atrai mais a grama do vizinho. Tão mais verde, tão mais viva.

Suspiro. Num misto de anseios e decepções, já não sei mais o que esperar. Vivendo o hoje a cada dia, mas sem saber se ainda terei algo no futuro. Ou se viverei o hoje eternamente.

O hoje não me agrada muito. Talvez o presente do vizinho me agrade mais. Sem pressa, me perco num turbilhão de pensamentos, imagens e versos. Folheio uma ou outra página, rabisco uma frase, divago entre o final de uma série e a sinopse de um filme. Tenho a tarde toda. As horas se arrastam em minutos silenciosos. Minha mente grita, inquieta.

Quero tudo, quero nada. Mas quero agora. Tamborilo os dedos sob as folhas do caderno. Distraio-me observando a nuvem que parece um sorvete. Penso no passarinho que pousa no jardim, penso nas frases inacabadas da minha história.

Ainda está cedo, mas outrora será tarde. Tarde da noite, tarde do mês, tarde da vida. Os segundos me escorrem pelos dedos, o tempo passa mesmo que eu não perceba. Mesmo que não queira. Mesmo que não ligue.

Logo será tarde para tudo e para nada. Tarde para terminar minha história, para planejar o futuro, para regar meu jardim.

É hora de esquecer a grama do vizinho.

Retomo minha história e preencho as páginas com frases e versos. Preencho uma página, um livro, uma vida, com memória, desejo e tédio. Preencho aos poucos o tempo, que agora é meu aliado. Aos poucos, vou moldando meu futuro com minhas formas e nuances. Com meu olhar inspirado, às vezes equivocado, mas sempre decidido, determinado. Meu ponto de vista, minha vida, meu jardim.

Minha grama nunca esteve tão viva.

Marcas Indeléveis - CrônicasOnde histórias criam vida. Descubra agora