Marcas Indeléveis - Crônicas

Finitude

Sempre fui uma pessoa muito organizada. Diria que até mesmo sistemática, daquelas que fazem lista de tudo o que se precisa comprar no supermercado antes de sair de casa, relendo-a várias vezes antes de chegar ao mercado, para não correr o risco de esquecer nada, mesmo que a lista esteja o tempo todo à mão.

Também sempre fui muito determinada. Planejei quase uma vida toda quando ainda estava no ensino médio: cursaria a faculdade dos sonhos, teria um trabalho no qual fosse apaixonada, cursaria duas pós-graduações e uma dezena de cursos de especialização.

Uma carreira profissional de sucesso.

Tentei seguir esse plano pelos próximos seis anos, e deu certo até certo ponto. Ou melhor, deu certo até o momento em que tudo começou a dar errado. Talvez nossas melhores ideias aos dezessete anos não sejam tão boas assim aos 23, afinal, mudamos muito no decorrer dos anos.

Eu sabia muito bem o que queria fazer da vida até me formar na faculdade. E, ironia ou não, a partir daí meu mundo desmoronou, porque agora eu sei que não quero nada daquilo que planejei. Minhas prioridades mudaram, meus interesses se modificaram, meus pensamentos amadureceram... mas isso não é nada. Intrigante mesmo é saber que meu sonho mudou.

É hora de fazer novos planos, mesmo que isso se assemelhe a um tiro no escuro. Contudo, se a vida é tão curta, o medo de arriscar não pode ser tão grande. Afinal, a vida é uma oportunidade única, não posso deixá-la escorrer pelos meus dedos um pouquinho a cada dia.

Até mesmo porque a vida se esvai de mansinho quando aceitamos uma realidade que não nos agrada ou quando invertemos nossos valores para nos enquadrar em uma sociedade deturpada. Não sabemos se estaremos vivos amanhã, mas sabemos que jamais poderemos voltar ao passado e recuperar os pedacinhos da vida que deixamos cair no caminho entre a casa e o trabalho.

Até que provem o contrário, só vivemos uma vez. Se, imediatamente aoacordar, nós nos lembrássemos do quanto a vida é finita, será que agiríamosexatamente como agimos todos os dias?