Capítulo 1

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É início de julho em Londres.

O termômetro do Holland Park marcava 36ºC, uma das temperaturas mais altas já registradas na história da Inglaterra, e a tendência era que elas aumentassem.

Londres estava parcialmente parada. As escolas e creches haviam suspendido as aulas, muitas empresas, comerciantes e parte dos servidores públicos também tiveram os trabalhos suspensos por conta da onda de calor.

Eu, que havia acabado de receber o diploma de doutorado em neurocirurgia estava dedicada a cobrir o máximo de plantões que foram oferecidos no St. Mary's Hospital na última semana, graças a Andreas, que era chefe dos neurologistas e neurocirurgiões do hospital.

Depois de horas no St. Mary's eu estava de folga, aproveitando o dia no parque com Gelato, meu dálmata de estimação que tinha acabado de completar um ano de vida quando senti o celular vibrar no bolso do short de corrida. Vi o contato de Gabby na tela e não pude esconder o sorriso. Abri o portãozinho que dava acesso a uma área cercada do parque que era específica para cães, onde eles corriam juntos de um lado para o outro incansavelmente. Tirei a guia de Gelato e o vi correr para longe enquanto eu deslizava o dedo pela tela do celular e atendia a ligação de Gabby.

- A gata que está viva sempre aparece! - Saudei Gabby com o riso na voz.

- Parcialmente viva, Emma. A especialização tá acabando comigo. Quer me encontrar hoje? Esse calor horrendo tá exigindo uma cerveja! - Ela respondeu indignada, soltando as palavras rapidamente, como sempre fazia.

- Comigo tudo bem, e com você? - Falei em tom irônico. Olhei para o relógio de pulso que marcava 04:40 da tarde. - Só me diz que horário nos encontramos.

- Não sei, você está livre? - Ela perguntou distraída.

- Sí, estoy! - Respondi em um espanhol bom até demais. - Vim ao parque com o Lato.

- Horário de herdeira, em? Eu saio da clínica às 05:30. Estou de plantão caso algum animal passe mal por conta do calor. Às 07:00, o que acha?

- Horário de herdeira? - Fingi um tom de quem havia se ofendido. - Estou de folga de um plantão de 36 horas Gabriela, e você tem a pachorra?... - Soltei o ar pelo nariz e ouvi-a rir do outro lado. - Às 7 está perfeito, logo estou indo para casa.

- Você não existe mesmo! Te encontro no The Swan, ok? Você é perfeita e eu te amo.

- Também te amo Gabby! See ya! - Respondi, desligando a chamada e procurando por Gelato com os olhos.

Vi o dálmata correr atrás de um bulldog que perseguia um frisbee, com mais duas crianças em seu encalço. Coloquei o polegar e o indicador na boca e soltei um assobio alto que chamou a atenção de Gelato que acabara de capturar o frisbee. O dálmata arrancou em disparada na frente do bulldog e correu em minha direção, com as crianças logo atrás. Parei Gelato e tirei o frisbee de sua boca enquanto o bulldog me encarava, esperando um novo arremesso do objeto.

- Desculpe por isso ­- falei para o garoto que havia chegado antes da menina na perseguição dos cachorros.

- Tudo bem! Parece que fizeram amizade. - Ele apontou para Gelato e para o bulldog.

- Isso é ótimo! Mas precisamos ir, certo? - Perguntei, olhando para o dálmata que latiu em resposta.

- Você já vai embora?! - A menina parou ao lado de Gelato e o abraçou. - Você é fofinho!

- Com certeza vocês vão se encontrar outra vez, ok? - Falei para ela com um sorriso.

- Ok! - A menina respondeu, beijando o topo da cabeça, entre as orelhas macias de Gelato. - Tchauzinho! - Ela disse, retomando a corrida.

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