CAPÍTULO 3

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COLDEX

Meu corpo flutua fora da montanha, até parar em uma gruta, onde sinto meu sangue gelar por completo. A cena é hedionda e macabra, e minha pequena e indefesa fêmea é a vítima dos machos imundos. Eu tento invadir aquela maldita situação e matar todos que ousam tocá-la, mas a imagem é apenas fumaça branca e névoa, eu assisto tudo e sinto que dói tanto quanto se meu coração fosse arrancado do peito.

— Filho?! — Uma mulher linda e de cabelos extremamente brancos se senta ao meu lado, sua mão toca minha cabeça e sinto meu desespero se calmar.

— Quem é você? — minha voz não passa de um sussurro, as lembranças me afogando e me matando aos poucos.

— Sou Sandia, ou como vocês chamam, a árvore do destino. — Eu olho para ela, raiva rasgando minha pele e quero destrui-la por permitir que minha fêmea sofra dessa forma. — Acalmasse. Sei que pareço no controle, porém, não é bem assim. Eu apenas tenho que fazer tudo funcionar, para que todas as outras coisas se mantenham em equilíbrio.

— Ela não merecia. Não merecemos. — Eu deixo meu rosto baixar sobre minhas mãos, as lágrimas de raiva e desespero me apertando por dentro. — Me sinto impotente.

— Não merecia. — Declarou, e voltou sua mão a minha cabeça com calma. — Coldex, como você, também não aceitei essa imposição do destino. — Olhei para a mulher, algo tão celestial e impossível.

A pele tão preta, que chega ao azul e nele contém brilho azuis claros, seus olhos são azuis quase branco como todo o resto, e as borboletas prateadas fazem uma pequena coroa ao redor de sua cabeça, titilando em sincronia, deixando evidente o grande contraste da cor da sua pele com a dos seus cabelos e olhos.

— O que quer dizer com isso? — questiono olhando a deusa.

— Eu sou a deusa de vocês. Fui escolhida por seu povo a milênios para protegê-los, e estou cansada de vê-los sofrerem. — Olhou para a distância. — Eu não permito mais isso. Quero meus filhos felizes, e sinto muito por não ter tomado uma posição muito antes, porém, era algo que não tive domínio. Seria muito para mim. — Sei que fala sobre o pandemônio que quase dizimou nossa espécie. — Eles foram punidos por fraquezas deles, mas muitos inocentes também foram abatidos, e essa dor pendura em mim como uma navalha afiada sempre a me cortar, sem nunca chegar a lugar nenhum.

— Eu, preciso salvar minha fêmea. — Peço sem orgulho. — Me ajude. Luzia é meu coração.

— Você irá, meu filho. — Soltou o ar devagar. — Quando tudo aconteceu, sua fêmea pediu a morte, para não ter que lidar com as lembranças dolorosas e nem fazer sua família sofrer, e o destino aceitou seu pedido, mas eu não. Ela está guardada, mas, precisamos apagar todas as lembranças que ela tem da situação, precisamos realizar o desejo dela, para que retorne para você.

— Faço qualquer coisa. — Me rendo em desespero por salvar minha companheira.

— Ela teve uma morte digna e honrada, como de uma verdadeira guerreira que dá sua vida por seus soldados, e isso fez ela cair em muitas graças, porém, tudo tem um preço. — Me olhou com certa hesitação. — Você tem mãos puras, nunca matou um ser humano seja do seu povo ou os da planície e isso garante um lugar benevolente, porém, para que todas as memórias dela morra, você terá que apagar elas de todas as mentes que também as mantém.

— Eu não entendo. — Questiono em desespero para descobrir o que tenho que fazer, minha cabeça cheia demais para pensar com agilidade.

— Terá que matar todos os que conhecem as memórias dela. — Indica e sinto alívio, porque eu faria isso, independente da deusa ter indicado.

O SEGREDO DA MONTANHA 3 |+18|Onde histórias criam vida. Descubra agora