Prólogo

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Prólogo

09 de Maio de 2017

Ume Inori

As gotas de chuva molhavam sem trégua toda a extensão do meu corpo, fazendo com que minhas roupas se colassem ainda mais em minha pele arrepiada pelo vento frio. Abracei ainda mais forte minha mochila tentando amenizar, inutilmente, a provável ruína que meus livros sofreriam com toda aquela água gelada que caía dos céus. De qualquer forma, se esse fosse o caso, eu me recusava a comprar outros, afinal, faltava apenas algumas semanas para que minha vida escolar chegasse ao fim.

Minha consciência não parava de me repreender por ter esquecido o guarda-chuva em casa naquela manhã, o que fez com que o meu eu do fim da tarde sofresse as consequências com toda aquela chuva. Bom, mas do que adiantava reclamar e esbravejar naquele momento? O leite, ou melhor, a água já tinha se derramado mesmo.

Apressei o passo cantarolando uma música infantil qualquer enquanto virava a esquina que dava direto na rua de casa e quase gemi em satisfação quando avistei o cercado gradeado que rodeava a residência. Continuei caminhando já imaginando o banho quente que tomaria assim que passasse pela porta do banheiro residente em meu quarto e o filme que assistiria depois disso, enquanto terminava o trabalho de artes.

Estava tão empolgada para sair logo do ar frio e molhado que me rodeava que quase não notei a garotinha sentada no meio fio, três casas antes da minha. Quase... mas não se ignora uma criança, que por sinal não devia ter mais de quatro anos, chorando no meio da chuva.

"O que uma criança daquele tamanho estava fazendo sozinha ali? Por que estava chorando?"

Quase que intuitivamente me aproximei lentamente da menininha e me abaixei ao seu lado com cuidado para não assustá-la. Ela tinha a cabeça entre os joelhos e soluçava baixinho, suas roupas estavam encharcadas assim como as minhas e a fita que prendia seus cabelos castanhos claros começava a escorregar.

"Pelos céus, o que eu devia fazer?!"

Olhei em volta em busca de algum adulto que fosse responsável pela criança, mas só encontrei a porta da casa onde estávamos paradas em frente aberta, não parecia ter sido arrombada. Voltei meus olhos para a garotinha e toquei seu ombro com delicadeza, sentindo um nervosismo percorrer meu corpo enquanto ideias do que podia ter acontecido se instalavam em meu cérebro. Será que tinha acontecido alguma coisa grave?

Ela levantou a cabeça assustada arregalando os olhos castanhos e se encolhendo um pouco.

– Ei, aconteceu alguma coisa? – Perguntei com delicadeza, do jeitinho que sempre acabamos falando com crianças mais novinhas, mesmo sabendo que era óbvio que sim. A expressão da garotinha passou de assustada para chorosa novamente e ela assentiu – Quer me contar? – Me sentei ao seu lado deixando a mochila na calçada, olhando mais uma vez para a porta para ver se ninguém saia de lá à procura da mais nova. Senti uma mãozinha agarrar meu braço suavemente e o choro baixinho ganhar um pouco mais de força. Voltei meus olhos novamente para a expressão chorosa da minha companhia na calçada e quase senti vontade de chorar também, odiava ver crianças chorando, ainda mais quando eu não fazia ideia do motivo.

A chuva tinha diminuído e agora uma garoa fina roçava minha pele, mas o ar se tornava mais gelado por conta do aumento do vento. Precisava saber logo o que aconteceu e resolver, porque eu começava a tremer de frio e a garotinha ao meu lado também.

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