Dez

836 108 66
                                    


Home – Toji Fushiguro.

Dez

23 de Setembro de 2017

Ume Inori

O silêncio parecia percorrer cada canto do ambiente como quando a geada percorre as janelas no inverno. Toji estava um passo à minha frente, então consegui ver quando os músculos das duas costas se tencionaram. Aquilo não era um bom sinal, definitivamente.

Meus braços se apertaram levemente em volta de Megumi que continuava adormecido agarrado em meu pescoço. Os olhos verdes de uma coloração opaca pareciam observar cada mísero movimento dos meus dedos ou de respiração que meu corpo fazia, como se cada ação fosse totalmente errada, quase uma ofensa a sua presença.

Engoli em seco, me sentindo ainda mais desconfortável quando o olhar perfurante daquele senhor percorreu meu corpo de uma maneira descarada. Seus lábios rachados se abriram em um sorriso, que só podia ser descrito como tenebroso, quando ele voltou a encarar meu rosto.

Senti o braço livre de Toji rodear minha cintura e me levar para mais perto dele com calma e firmeza, me passando uma certa segurança sob o olhar medonho que era lançado em minha direção.

– Não vai me apresentar sua nova namorada, meu filho? – A voz áspera e rouca, como a de alguém que fumava a muito tempo, cortou o silêncio como uma navalha.

Toji me apertou um pouco mais a ele, um arrepio se espalhou por meu corpo.

"Meu filho", aquele final parecia ter perfurado meus tímpanos como uma bala. Mesmo que eu tenha notado as semelhanças na aparência dos dois, não pude conter meus olhos de se arregalarem. A imagem nítida do machucado nas costas de Toji há algumas semanas antes invadiu minha mente e meu estômago se apertou ao pensar que o autor daquilo estava bem à minha frente.

– O que faz aqui? – A voz do moreno parecia revestida de raiva, mas ainda sim, contida.

Desviei meus olhos do senhor a nossa frente e encarei Toji. Sua expressão parecia congelada em seriedade, mas os olhos o entregavam, ódio e desagrado fervendo na íris esverdeada, como se pudesse transformar o próprio pai em cinzas com apenas aquele olhar.

– Toji, Toji – O velho estalou a língua, fazendo meu olhar voltar a recair sobre ele – Você continua com a mania mal educada de responder perguntas com outras perguntas. – Ele se levantou e deu um passo em nossa direção, parecia um lobo prestes a atacar – Acho que falhei no meu papel de pai ao tentar educá-lo.

A pressão dos dedos de meu amigo em minha cintura aumentaram, como se ele pudesse me fazer desaparecer da vista do predador em pele de humano à nossa frente.

– Saia da minha casa – Toji murmurou entredentes.

– Pensei que quisesse saber o que vim fazer aqui, meu... filho – Veneno. Aquilo era veneno sendo destilado por aquela boca rachada pelo tempo.

Moreno soltou um grunhido irritado.

– Nem pense em começar com esses jogos idiotas. – Era visível que o soldado tentava manter o tom de voz controlado e baixo para não acordar as crianças em nossos colos – Diga logo o que quer e saia!

O velho riu e sentou novamente, como se não tivesse a menor pressa de ir embora.

– Não vai nem perguntar como entrei aqui? – Arqueou uma sobrancelha levemente grisalha – Ou pelo menos me apresentar para a sua bela vizinha que mora a três casas daqui? – Senti meu corpo tremer com o sorriso perverso que se espalhou por cada canto de seu rosto – Apesar que.... – Fez uma pausa limpando um grão de poeira invisível de seu terno preto milimetricamente ajustado a seu corpo – Acho que ela já tenha ouvido você comentar muito mal de mim, afinal sempre foi um filho mal agradecido e rebelde e burro e...

Home - Toji Fushiguro.Onde histórias criam vida. Descubra agora