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Onze

24 de Setembro de 2017

Toji Fushiguro

  Hesitei.

  Hesitei levantar da cama.

  Hesitei passar pela porta da frente.

  Hesitei em colocar meus filhos no carro.

  Hesitei em passar pela entrada do cemitério.

  E agora...

  Hesitei em olhar para lápide de cimento claro que se encontrava a poucos centímetros de meus pés, com aquele nome extremamente familiar esculpido ali e com os dizeres "Amada filha, mãe e esposa" logo abaixo. Era a primeira vez que me encontrava ali desde o funeral.

  Tudo que havia feito durante toda a manhã até aquele momento tinha sido preenchido de hesitação. A pergunta de Ume na noite anterior tinha me deixado um tanto surpreso e até um pouco aliviado por ter uma possível solução para que Megumi e Tsumiki não tivessem que ficar perto de minha família. Porém, por mais que eu soubesse que seu "pedido de casamento" foi um gesto gentil e amigável para me ajudar e principalmente proteger meus filhos, ainda assim, alguma coisa familiar se agitou em mim e me impediu de respondê-la na noite anterior.

  Após a loira ver minha cara de espanto com o que tinha acabado de verbalizar, ela começou a explicar a ideia que tinha passado pela sua cabeça e logo depois começou a pedir mil desculpas por, segundo ela, estar se intrometendo demais na vida alheia. Fiquei alguns instantes em silêncio antes de tomar fôlego e responder que a ideia não era tão ruim e pedir um tempo para pensar.

  A verdade é que a ideia de casar novamente, mesmo apenas por uma conveniência necessária, estava atormentando meu juízo de uma maneira que eu não esperava que acontecesse. Fazia pouco mais de um ano que Mahina tinha partido e, por mais que me doesse, não podia negar que nunca fui um exemplo de marido, tudo graças à profissão que havia escolhido seguir. Ficava meses ausente e mesmo que eu amasse a família que construímos juntos em nosso casamento e sentisse falta deles em cada uma de minhas missões, quando estava em serviço tinha um sentimento que seria melhor se eu não retornasse. Era como se a minha existência estivesse ligada a apenas problemas e ao caos e se eu desaparecesse isso também deixaria de existir e quem sabe Mahina e meus filhos se livrassem dos fantasmas que rodeavam meu antigo sobrenome.

  Mas eu nunca estive tão errado quanto a isso.

  Acabaram com Mahina em minha ausência.

  Ela morreu porque achei que ficar longe faria com que meu pai se esquecesse do ódio que sentia por mim, mas ele apenas o redirecionou para ela. Afinal, qual a graça de machucar seu filho fisicamente se os ferimentos se curam? Se agora ele pode revidar?

  Não.

  Eiji Zenin tinha achado uma forma muito mais cruel de me quebrar, dessa vez de dentro para fora. Ele tinha me dado o gostinho de aproveitar alguns anos de "paz", tinha esperado até eu achar que havia me livrado dele e que minha família estava em segurança e depois... me deu um golpe que tirou meu ar e me levou ao inferno.

  – Papai! – Uma voz risonha me chamou novamente para a realidade – Vem brincar com a gente! – Levantei meus olhos e vi Tsumiki e Megumi correndo por entre as lápides fincadas na grama, pareciam brincar de pega-pega.

  Abri um pequeno sorriso.

  Eiji só não imaginava que eu tinha mais dois anjos para me salvar.

  – Já disse para vocês pararem de correr desse jeito! – Tentei chamar a atenção deles mais uma vez, mas só consegui dar um leve sorriso sendo condescendente. Meus olhos se voltaram mais uma vez para baixo, em direção a lápide de Mahina. – Essa teimosia deles vem grande parte de você, sabia?

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