Capítulo III - Aquele com o caso do metamorfo

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    A manhã era de uma terça-feira. As estradas empoeiradas eram largas e apresentavam o enorme comércio. Os carros, de grande ou pequeno porte, eram comandados por civis domados pela cafeína ou as bebidas não prometidas àqueles que comandavam os volantes, esta que com frequência era consumida, sendo lucro para a maior demanda das cafeterias e bares. Os comerciantes esforçavam-se para divulgar sua fonte de renda, pobres e coitados nas ruas.

    A claridade quente borbulhou os póros da pele. Os ventos elevaram os cabelos ondulados conforme as paisagens em seus pincéis detalhados de cores moviam-se. Seus olhos correram para ambos os lados da estrada antes de desabotoar a bolsa.

    A música baixa em seus ouvidos, garantia-lhe a trilha sonora do filme que era aquele, sua vida, e embora seus pensamentos a corrompesse aos poucos, a morena encontrava-se parcialmente tranquila.

    — Adoro terças-feiras. — Se pronunciou Sam, esse que havia despertado há pouco.

    — Precisamos do sangue de um metamorfo, de um djinn e de uma sereia, nessa ordem. — Disse Ameer ajeitando papéis no banco de trás. — O resto vocês deixam comigo.

    — E o que eu vou ter que fazer com isso? Não me diga que eu vou ter que beber essa coisa. — Fez-se feição desgostosa.

    — É a mudança da realidade do corpo com vitalidade, segundo as anotações do meu pai. Eu preciso apenas purificar a mistura. Acredito que vá funcionar dessa forma.

    — Espera aí, você não tem certeza? — Dean cruzou a direita com o impala, estacionando.

    — Não é como se a cura fosse feita exatamente para a criatura que vocês mataram, mas a ideia principal é essa. — Suspirou unindo tudo. — A verdadeira cura para o verme se dá a partir da extração de fluídos dele, o que nós não temos agora, por isso é considerado algo raro. Não é como se fossemos achar outro com facilidade.

    — Tem razão. — Sam desatou do veículo, seguido de Ameer.

    As árvores, naquela parte da cidade, traziam sombra ao verde e constrastavam com as orbes de mesma cor da mulher. Visto as cercas marrons de madeira, parte apodrecida, um campo vasto de mato alto era acompanhado pelos raios de sol.

    Quando Dean, em sua delicadeza, tocou repetidas vezes a porta após ter deixado a bagagem no assoalho da varanda, Bobby se dispôs a atender com rapidez.

    — Não sabe bater uma única vez, seu idiota?

    — Oi, Bobby. — Dean tocou os ombros do mesmo e entrou.

    — Olá, Bobby. — Sam estendeu a mão para um aperto.

    — Como você está, meu rapaz? — Perguntou o senhor mais velho antes de ceder a passagem.

    — Um pouco melhor, graças aos cuidados da Ameer.

    — Então você deve ser a Ameer. — Ao mirar às orbes da mulher, Bobby recuou um passo. — Meu Deus, é a filha do Millon. Entre, menina.

    Keyshawn elevou as sobrancelhas surpresa, mais ainda Bobby pela forma como se prostrou ante a presença da mesma.

    Bobby ajeitou o chapéu na cabeça, coçando a barba em confusão. Antes que Ameer se pronunciasse, Sam o fez em seu lugar.

    — Se conhecem?

    — Millon era um grande parceiro nas caçadas, ajudou muito seu pai e a mim. John e eu ficamos devastados quando soubemos da morte.

    — John? Tio John é o pai deles? — Ela surpreendeu-se mais.

    — Como assim tio John? — Rebateu Sam.

    — Tá legal, e eu sou a Cristina Rocha, o que vocês acham? Porque esse casos de família tá um saco. — Dean reapareceu com uma garrafa de cerveja.

    — John se feriu em uma caçada e passou uns dias na casa de férias do meu pai. Me ensinou a atirar naquela época. Ele me falou muito sobre seus filhos e em como sentia a falta deles. — A jovem respondeu. — Como é que ele está?

    De modo repentino, os grãos de areia que percorriam o piso podiam ser mais escutados do que as respirações dos presentes no cômodo. Dean virou o líquido da garrafa de uma vez, escorrendo pelos cantos da boca quando terminou, limpando com o tecido da roupa posta ao tronco do corpo. A sala pareceu estar carregada de nuvens negras, infestadas com fagulhas finas. Ameer sentiu um peso em seu peito, compreendendo o que lhes diziam com tamanho silêncio.

    — Precisamos de um caso com metamorfo. Ajuda a gente nisso, Bobby? — Dean quebrou a tensão instaurada.

    — É claro, rapazes, acho que será rápido. Vi algo parecido nos casos que recebi de um contato ontem. — O velho caminhou para uma pilha de papéis sobre o balcão frente a sua estante de livros. — Serafine Stilles, de 28 anos, foi atacada pelo namorado numa noite, mas sobreviveu. Ela alega ter brigado com ele e também apanhado do mesmo em uma festa, mas que estava diferente depois de se reencontrarem em duas horas, como se a briga não tivesse acontecido, foi quando o prenderam.

    — E o que mais? — Sam perguntou.

    — O que não foi divulgado nos jornais é que a polícia encontrou a orelha direita do sujeito no gramado, ela tinha o mesmo desenho da orelha de Bryan, que agora está preso. — Bobby olhou um por vez. — Isso é no Missouri.

    Dean ajeitou a gola do casaco, dobrando as mangas deste antes de tomar uma das malas da bagagem e joga-la nos ombros. Suas botas pesadas atormentavam a madeira do chão, que sacudia poeira às tuas calças.

    — Aonde vai? — Perguntou a mulher.

    — Ao Missouri.

    — Me leva com você.

    — Ah, mas não vou não. — A encarou de cima para baixo. — Você fica aqui e cuida do meu irmão caso ele precisar.

    Quando o Winchester mais velho pensou ter se desvencilhado desta, Ameer o segurou pelo braço, fazendo sua atenção voltar outra vez.

    — Eu fiz anotações essa manhã, tem tudo o que o Sam possa precisar nelas. Você não sabe a maneira mais eficaz de extrair o sangue e nem a dosagem correta. E eu sei como caçar essa coisa, então vamos mudar a conversa, eu vou com você.

    Como os segundos do relógio sob a parede coberta por escrituras, os olhos de ambos alternavam na busca da desistência de um único. Dean abriu um largo sorriso, rindo, não acreditando na decisão que tomou consigo. Percebeu que Ameer era uma mulher do tipo durona, essa que comprimia os próprios lábios, soltando o braço de Dean assim que percebeu ainda estar segurando-o.

    — Pegue suas coisas antes que eu me arrependa. — Disse ele saindo.

    — Me espere pôr Sam em um quarto.

    Ameer lembra-se de o ouvir suspirar enraivecido antes desta seguir Samuel para o quarto onde dormiria. Em primeira instância Sam não havia compreendido o interesse da médica em se achegar com ele no cômodo, mas ela o alertou de que precisaria descansar ao seu máximo, sem se esforçar por demais. Como passou a sentir-se sonolento, não demorou que ele seguisse suas orientações.

    — Será difícil a evolução do vírus com seus órgãos trabalhando menos, por isso preciso que você durma, Sam. Se sentir fome, está tudo preparado na bolsa. E, qualquer coisa, me liga. — Ela o ajeitou na cama, esse que a estranhou.

    — Eu que peço pra você me ligar, Dean não é algo fácil de se lidar. — Lhe deu um sorriso.

    — Eu me viro. — Ameer depositou um beijo em sua testa, comumente ao que fazia com seus pacientes no hospital. — Agora durma.

    Sam sorriu sem jeito ajeitando-se entre a única manta fina que colocou sobre si. Dean, que estranhou os gestos feitos pela moça ondulada, apareceu frente a porta em seus detalhes rubros de pentagramas diversos.

    — Se já colocou o bebê no berço é melhor nós irmos, Bryan morreu ontem na prisão.

A Cirurgiã da Morte (DW)Onde histórias criam vida. Descubra agora