Capítulo 10 - Encontro na cafeteria.

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Read your lips, I'd rather kiss 'em right back
(Leio seus lábios, mas preferiria beijá-los) (Ed Sheeran)

Os passos de Gilbert no corredor eram precisos, mais seguros e de certa forma mais orgulhosos, porque eram passos que sabiam para onde estavam indo e não mais se perdiam como nos primeiros dias ali.

A semana anterior tinha sido difícil, porque apesar de não demonstrar, Gilbert se sentira inseguro a respeito de sua capacidade de dar aulas naquelas condições. Contudo, tivera sorte de ter alunos muito simpáticos e dispostos à ajudá-lo no que fosse possível.

Eram jovens bastante inteligentes, e que se esforçavam para estarem sempre em dia com as atividades que Gilbert costumava passar no fim de cada aula. Ele tinha ótimos destaques ali, mas nem tinha necessidade de enfatizar que Anne se destacava mais que todos.

Ela tinha uma inteligência impressionante, e a maneira como interpretava cada obra que estudavam era de um discernimento perfeito. Gilbert estava surpreso, e cada vez mais encantado por aquela garota de pavio curto e língua afiada. Anne dominava seus pensamentos desde que a conhecera, e conviver com ela diariamente não tinha diminuído sua fixação por ela.

Mesmo agora que sabia que Anne o odiava, Gilbert não conseguia mudar o rumo de seus desejos. Ela o evitara a semana inteira, mas o rapaz não aceitava esse distanciamento da parte dela, e por isso durante as aulas, ele dava um jeito de estar em contado com ela verbalmente, já que visualmente, ainda não era possível.

De todas as coisas que lamentava não conseguir fazer por sua falta de visão, não poder ver o rosto de Anne era a maior delas. Ele queria poder ver os olhos dela enquanto ela lia uma das obras de seus autores favoritos em voz alta na sala, ou ver as expressões faciais dela mudarem muitas vezes durante um debate entre alunos, que Gilbert gostava de promover. Ela tinha uma alma apaixonada, e deixava isso transparecer quando declamava um dos poemas de Camões. Era prazeroso ouvir a voz dela se elevar em pontos mais complexos, e se suavizar nos pontos mais românticos. Anne sabia dar o tom certo a cada linha, fosse ele dramático ou não.

Ela seria uma excelente oradora se dedicasse seu talento a essa área, embora o rapaz imaginasse que ela dificilmente pensasse nisso, pois a ruivinha já tinha deixado seu amor pela literatura bastante explícito. No entanto, Gilbert tinha certeza que ela se daria bem em qualquer coisa na qual colocasse seu coração, pois sua dedicação e força de vontade eram fantásticos.

O rapaz até se sentiria feliz se pudessem ser amigos, mesmo que seus coração protestasse contra essa ideia . Contudo, Anne parecia ter declarado uma guerra fria contra ele, tratando-o com tanto desprezo que chegava a lhe doer o peito.

Se fosse qualquer outra pessoa, ele teria rido desse comportamento, pois nunca se importara com opiniões alheias a cerca de sua conduta, mas por alguma razão, não ser bem visto pelos olhos de Anne o incomodava a ponto de deixá-lo irritado por horas, e isso sim nunca lhe acontecera antes.

Gilbert caminhou mais um pouco, seus passos contados até onde deveria andar. Sua bengala se tornara sua melhor amiga, pois era o único guia que possuía para lhe dar o mínimo de liberdade que sua cegueira permitia.

Ele chegou no degrau que lhe mostrava que estava no lugar certo, passou por ele com cuidado, caminhou mais alguns passos e entrou na sala de aula.

-Seja bem vindo professor.- ele ouviu seus alunos dizerem e sorriu. Apesar de ser muito jovem, Gilbert era bastante respeitado ali, e isso o animava profundamente. Ele tinha pensado antes de começar naquela faculdade, que talvez encontrasse jovens que não o enxergariam como um profissional gabaritado para dar-lhes aula, pois seu último professor tinha mais de quarenta anos e Gilbert tinha a metade disso, porém, se surpreendera pela boa aceitação, e a boa vontade de colaborar com ele o mais que pudesse.

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