Dois meses depois
Gilbert ajeitou sua boina, amarrou o cachecol melhor ao redor do seu pescoço, e tateou em busca da bengala com a qual fora presenteado por um de seus amigos mais íntimos a fim de ajudá-lo a caminhar.
Se acostumar a ela estava sendo um desafio e tanto que se dispusera a enfrentar, depois que entendera que era isso ou ficar dependente de outras pessoas, e seu espírito era independente demais para aceitar tal coisa.
Nos primeiros dias em que tentara usá-la lhe valeram inúmeros tombos, suspiros de frustração, gritos de revolta, mas passado tais momentos, ele voltara a praticar e aprendeu que se contasse os passos até onde queria ir, não tropeçaria pelo caminho, e que se deixasse os objetos de uso diário no mesmo lugar, e na mesma posição, não teria dificuldades em encontrá-los, evitando assim de ficar irritado ao extremo ao derrubar tudo o o que havia em cima da escrivaninha para achar o que precisava.
Essa cegueira temporária fora um golpe duro ao seu orgulho, principalmente porque tivera que adiar tudo o que tinha planejado para os próximos meses. Para quem sempre esperava que as coisas acontecessem em sua vida rapidamente, exercitar sua paciência era uma tarefa difícil que estava aprendendo a realizar aos poucos.
Nos últimos dois meses ele passara por exames semanais para avaliar como estava a recuperação de seus olhos, e apesar de o médico ter lhe dito que estavam se curando como o esperado, na realidade ele não estava percebendo grande melhora. Continuava a ver apenas vultos, o que lhe causava uma grande aflição.
Apesar dos pesares, ele estava vivo e pronto a recomeçar, mesmo que não fosse da maneira que desejava. No entanto, não era a primeira vez que tinha que traçar um plano partindo do nada, assim, estava novamente trilhando caminhos um pouco mais áridos dessa vez.
Gilbert encontrou sua bengala no lugar que sempre a deixava quando ia para a cama todas as noites, pegou sua mala que continha apenas alguns pertences, respirou fundo e se preparou para deixar o lugar onde fora seu lar por dois meses.
Era estranho pensar que odiara ficar confinado ali por todo aquele tempo, e agora que o estava deixando definitivamente, preferia poder ficar mais um pouco, pois estava apavorado com o que iria enfrentar do lado de fora com sua deficiência temporária.
-Já vai Sr. Blythe?- Conne, sua enfermeira naqueles dois meses, lhe perguntou.
-Sim, está na hora, não é? Eu queria aproveitar a oportunidade para agradecer-lhe por todo o cuidado e paciência que teve comigo. Sei que não fui um paciente muito fácil.- Gilbert disse, se lembrando que nos primeiros dias, ele se recusava até a conversar, pois não se conformava com a situação na qual se encontrava, mas Conne com sua infinita serenidade foi conquistando-o aos poucos, e no fim da segunda semana já conversava com ela como se fosse uma verdadeira amiga, de quem sentiria uma falta imensa .
-Você é um ótimo rapaz,Gilbert. Solitário demais, devo lhe dizer. Não existe alguém te esperando lá fora? Uma namorada talvez?- Conne lhe perguntou, pois imaginava que um rapaz tão bonito e tão bem apessoado como ele deveria ter uma fila de garotas atrás de si, embora ele não tivesse recebido muitas visitas femininas naqueles meses de reclusão.
-Não tenho ninguém. - Gilbert respondeu com certa tranquilidade.
Winnie tinha desaparecido depois da primeira visita sem nenhuma explicação, o que lhe dera indícios de que o noivado estava rompido, assim como os planos de casamento. Não a culpava. Como não havia amor envolvido, ela não se sentira na obrigação de ficar ao lado dele naquele momento, e ele ainda tinha orgulho o bastante para não mendigar por sua atenção.
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Fire on Fire
FanfictionApós anos vivendo com os Cuthberts em Green Gables, Anne parecia ter finalmente encontrado o seu lugar. Estudante em uma das faculdades mais conceituadas do Canadá, ela não esperava que seus passos se cruzassem novamente com o rapaz mais debochado q...