Capítulo 21 - Tentação

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You're every line, you're every word, you're everything! (Você é cada frase, você é cada palavra, você é tudo!)

Michael Bublé

Caminhar na praia se tornara uma das atividades frequentes de Anne. Ela conseguia pensar longe da presença de Gilbert e longe daqueles sentimentos que pareciam enlouquecê-la aos poucos.

Assim, naquela linda manhã, ela decidiu mais uma vez que precisava de um tempo para si mesma. Não desejava a companhia de ninguém, uma vez que a solidão lhe caia bem em momentos como aquele. Ainda não tinha falado com Diana, depois que ela dissera palavras duras à amiga.

Não gostava daquele clima pesado entre as duas, mas não conseguia se arrepender do que dissera. Diana tinha que tomar uma decisão. Não podia ficar dividida daquela forma. Anne pensava que, se sua amiga não via nenhum futuro com Jerry, deveria deixá-lo ir e ser feliz com outra pessoa.

Anne abaixou-se e fez um desenho na areia com um graveto que encontrou jogado no chão. Ela gostava do cheiro do mar e da brisa que batia em seus cabelos. Os fios rubros estavam mais rebeldes do que nunca, mas apesar de ainda não apreciar totalmente a cor deles, ela estava gostando das ondas que formavam nas pontas, pois não precisava ter tanto trabalho para fazer penteados elaborados pela manhã, para os quais não levava o menor jeito.

Uma onda chegou até ela, molhando-lhe os pés. Sem pensar muito, ela tirou os sapatos, enquanto seus olhos seguiam os movimentos do mar. A praia estava deserta e era maravilhoso estar ali, ouvindo o canto hipnotizante dele. Anne pensou em Gilbert e seu coração deu um salto, como se a mera lembrança do rapaz pudesse atingir todo o seu sistema.

Não queria sentir-se daquela maneira. Seus sentimentos por ele estavam cada vez mais fortes. Ela compreendia que estava apaixonada, mesmo que nunca tivesse sentido nada parecido para comparar. Mas uma mulher sabia quando seu coração fora conquistado, e Anne desconfiava que se apaixonara por Gilbert quando o vira naquela festa pela primeira vez.

Tentara se convencer de que o odiava, porque assim era mais fácil se manter longe. Ela entendia que ele nunca olharia diferente e, mesmo agora que estavam juntos, Anne duvidava que Gilbert a visse de outra forma, especialmente quando Winnie estava por perto.

Anne abraçou o próprio corpo, quando uma brisa mais fria chegou até ela, causando-lhe arrepios. Ela detestava pensar que a loira estava cada vez mais próxima de Gilbert e isso a deixava tão infeliz, que não sabia como lidar com aquele gosto amargo nos lábios.

Gilbert dissera que precisava dela. Anne até acreditaria se não estivesse naquela situação delicada e mil perguntas em sua cabeça. Será que seu distinto noivo diria a mesma coisa se pudesse enxergar? Talvez nem estivessem naquele noivado, pois com certeza Gilbert teria levado seu casamento com Winnie adiante.

O pior de tudo naquela situação era que Anne descobrira o quanto precisava de Gilbert também. Não quisera admitir antes, porque tinha medo da intensidade do que sentia. Mas, de repente, estar com ele, beijá-lo, sentir o toque dele suave em sua pele a fizera ansiar por ser amada de verdade, ser o mundo de alguém, mesmo com todas as suas imperfeições.

A sina da órfã que ninguém queria parecia ainda entoar dentro dela como uma canção antiga. Essa sensação a fazia se lembrar de que,por mais que agora usasse roupas de boa qualidade , tivesse um bom emprego e um teto sobre sua cabeça, em sua mente continuava sendo a garota maltrapilha que chegara na casa dos Cuthberts com apenas uma mala surrada nas mãos.

Inquieta com tantos pensamentos cruzando sua mente ao mesmo tempo, Anne decidiu caminhar um pouco, sentindo a umidade da areia nas solas de seus pés descalços, sem tirar os olhos do mar, como se ali estivessem as respostas para suas indagações.

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⏰ Última atualização: Aug 25 ⏰

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