Capítulo 12 - Apaixonados

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I've told a million lies but now I tell a single truth, There's you in everything I do. (Já contei um milhão de mentiras, mas agora conto uma única verdade, há você em tudo o que faço.) Imagine Dragons.

Anne tomava seu café desanimada aquela manhã, enquanto seus olhos inquietos não paravam de seguir os ponteiros do relógio que se tornara seu inimigo nos últimos minutos, correndo rápido como se tivessem mais pressa que ela para que a hora de ir para faculdade chegasse logo, e ela tivesse que deixar a segurança do pensionato para enfrentar sua primeira batalha do dia que se relacionava a seu professor de literatura.

Anne estava se esforçando para sequer pronunciar o nome dele em voz alta, ato que não era tão difícil de fazer, quando se pensava na força de vontade de sua própria mente que não a deixava esquecer aquilo que não devia ter acontecido.

Gilbert a beijara, e esse fato não lhe saía da cabeça, assim como o motivo dele. Estava com raiva de si mesma por não ter escapado a tempo, mas a verdade era que não podia mentir para si mesma. Quisera aquele beijo desde que o conhecera, sonhara com ele e fantasiara sobre ele em seus momentos mais vulneráveis, quando admitia para si mesma que o que sentia por Gilbert ia além da raiva e do ressentimento.

Não sabia se estava apaixonada, porque nunca sentira nada assim por ninguém. Mas podia entender que o que Gilbert a fazia sentir não era como uma enfermidade que após tratada e ministrado o remédio certo passaria. Era diferente, tão intenso que a fazia querer rir e chorar ao mesmo tempo. Também magoava, a deixava triste em certos momentos, e também a fazia se sentir corajosa o suficiente para seguir o que seu coração desejava, especialmente quando ele a olhava como se realmente viesse o que se escondia dentro de seu espírito sensível e vulnerável.

Contudo, Anne tinha medo de acreditar nas palavras bonitas que Gilbert lhe dizia, porque no passado ele as usara muito bem, lhe dera um minuto de ilusão de tudo que poderiam ser juntos, para depois destruir seu sonho sem realmente se importar com isso.

Ela aprendera a lição muito bem, depois de compreender que o romance que queria viver só podia ser possível quando estava dormindo, porque ali qualquer fantasia podia ser manipulada, usada, reproduzida da forma que desejasse, onde poderia ser quem quisesse e fazer o que tivesse vontade.

Mas em sua realidade, isso mudava radicalmente. Não deixaria se ser quem era, porque não tinha como modificar suas origens, ou preencher a enorme lacuna que pouco explicava quem seus pais tinham sido, se haviam se amado, se ela tinha parentes em algum lugar, se tinha uma história além daquela construída dentro do orfanato.

Sua vida antes de Green Gables sempre fora uma enorme página em branco, e era por isso, que demorara tanto para se aceitar como era, e entender que poderia construir uma vida totalmente nova em outro lugar sem depender do que fora antes dela. E conseguira.

Ainda tinha certas reservas quanto a si mesma, mas aprendera a se aceitar como era sem grandes ilusões. Nunca seria majestosa como Diana em seu porte de rainha, ou delicada como a Srta. Stacy quando segurava uma xícara de chá, ou extremamente exuberante como Winnie Rose que a impressionara desde que a conhecera .

Mas sabia reconhecer que era inteligente, tinha facilidade para explicar algo extremamente difícil e se fazer entender, declamar uma poesia com a emoção que ela exigia, e também sabia ser uma amiga fiel sempre que necessário. Além do mais, ser bonita ou elegante não a ajudariam a ser uma professora de verdade, talento e dedicação ao seu trabalho sim, e quanto isso não precisaria se preocupa, pois ouvira desde cedo, da maioria das pessoas que a conheciam, que o magistério estava no seu sangue e era para isso que precisava se preparar.

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