𝖯𝖮𝖳𝖳𝖤𝖱?|𝖣𝗋𝖺𝖼𝗈 𝖬𝖺𝗅𝖿𝗈𝗒 𝖯𝗈𝗋𝗍𝗎𝗀𝗎𝖾̂𝗌

106

Horas depois, o quarto ainda estava escuro.

Eu preferia assim; sentada no peitoril da janela e olhando para o grande jardim do outro lado do vidro.

Acabei aqui depois de tentar pular e perceber que a janela nem se movia, e eu não tinha minha varinha para tirar o feitiço dela. Além do fato de que eu não tinha permissão para usar magia fora de Hogwarts, em primeiro lugar.

Era tudo uma grande confusão, de qualquer maneira. Um que eu não tinha certeza de como sair ainda.

Então, antes de descobrir isso,pensei que merecia uma pequena pausa para não fazer nada além de admirar.Você pensaria que dormir por mais de uma semana seguida faria você acordar sentindo-se energizado e relaxado, mas, na verdade, era exatamente o oposto.

Eu me sentia  exausta e, francamente, não muito descansada.E eu sabia que a noite que se aproximava não iria melhorar nada disso.

Suspirei uma vez, o som da minha própria respiração enchendo o quarto antes que o som da maçaneta girando fizesse minha cabeça virar em sua direção.

Antes que a porta se abrisse totalmente, e antes que revelasse alguém,eu me virei para ela, minhas pernas agora penduradas na borda. "Draco?"Eu perguntei para a escuridão, sentindo-me cada vez mais animada por ele ter voltado.

Eu queria me desculpar,parar de discutir e descobrir algo com ele. Algo que não acabaria com a morte de nenhum de nós, agora que Voldemort não precisava mais dele.

Porém, ao perceber quem estava realmente parado na porta, minha respiração engatou de uma maneira bastante desagradável. Meu corpo imediatamente enrijeceu com a percepção.

"Não é bem assim", disse Voldemort,uma pitada de diversão em sua voz enquanto ele fechava e trancava a porta atrás de si. A luz do quarto acendeu ao mesmo tempo que a porta caiu nas dobradiças com um baque alto.

O brilho repentino me fazendo estremecer e fechar os olhos apenas por um segundo antes de lembrar quem acabou de entrar no quarto.

A pequena quantidade de boa energia aqui foi sugada assim que ele entrou, e já parecia muito mais frio. "Ele tem visitado você, não é? Que fofo." Ele comentou claramente, os olhos examinando o quarto antes de inevitavelmente pousar em mim. "Agora,agora. Se eu quisesse te machucar,eu teria enviado Bellatrix aqui.Eu senti que deveríamos ter uma conversinha, não é?"

Eu não conseguia parar de olhar para o ponto em seu rosto onde deveria estar seu nariz, ou sua careca, seus lábios finos. Tudo nele era repulsivo; meu corpo pedindo,implorando, para me mover o mais longe possível dele.

Mas minhas costas já estavam pressionadas contra o parapeito da janela, e eu não poderia me mover mais sem parecer assustada. E ele simplesmente não parava de se aproximar cada vez mais de mim.

"Não tenho nada a dizer a você",consegui dizer. Levou tudo dentro de mim para soar tão calma quanto eu.

"Ah, sim," ele continuou,despreocupado com minhas palavras enquanto um sorriso tão horrível que causou arrepios na minha espinha se formou em seus lábios. Isso revelou seus dentes sujos e podres.

E então, observei a roupa cinza,velha e empoeirada que ele usava se transformar gradualmente em um elegante terno preto. Eu franzi minhas sobrancelhas com o que ele fez, embora ele apenas se admirasse antes de seus olhos se voltarem para mim.

"O que você acha?" Ele perguntou,olhando para si mesmo mais uma vez, sarcasmo em suas palavras."Eu sei o quanto você gosta do garoto Malfoy; talvez isso faça você falar."

Meus olhos se contraíram em irritação com suas palavras, sobrancelhas ainda franzidas com uma expressão confusa no meu rosto.

"Sabe, Rose Potter, enquanto você dormia, eu fiz a cortesia de vasculhar aqui-" Ele bateu sua varinha contra sua própria cabeça duas vezes, "-um pouco. Honestamente,isso me deixou um pouco doente.Vendo todo esse potencial desperdiçado em emoções, amizade, amor."  Ele balançou a cabeça com desdém.

Engoli em seco ao perceber que ele estava na minha cabeça. E um olhar de pânico se espalhou pelo meu rosto enquanto eu tentava me lembrar se eu sabia alguma coisa que ele não deveria saber.

"Pare de entrar em pânico," ele resmungou, se divertindo com a minha reação enquanto balançava a cabeça; desta vez de forma sarcástica."Nada aí que eu já não soubesse, sorte sua. Um dos meus leais seguidores teve a ideia de descobrir onde seu irmão está através de você." Ele observou minha reação cuidadosamente enquanto as palavras saíam de sua boca.

Eu não movi um único músculo,tentando não ser afetada por qualquer coisa que ele dissesse. Tudo o que ele queria era me irritar;me intimidar, e encontrar minhas fraquezas.

"Mas você já sabia disso, é claro."

Minha compostura anterior foi jogada pela janela com suas palavras,meus olhos se arregalando ligeiramente com sua sugestão antes de voltar rapidamente ao seu tamanho normal depois. Mas eu tinha certeza que ele notou,de qualquer maneira.

"Oh. Você realmente pensou que eu não percebi você ouvindo?" Ele perguntou divertido. "Que pena, ela é ingênua também." As últimas palavras foram mais um comentário para ele mesmo, embora toda a sua presença apenas me irritasse.

"O que você quer?" Eu cuspi,endireitando minha postura e estreitando os olhos para encará-lo. Neste ponto, ele estava muito perto de mim.Seu hálito cheirava a morte, e seus dentes também pareciam inadequados.

"Ah, ela fala," ele riu. "Eu quero que você saiba por que você está aqui." Sua voz ficou repentinamente séria; todos os traços de sarcasmo e ironia foram apagados de sua voz e tom como se nunca tivesse existido em primeiro lugar.

"Eu quero que você saiba a razão pela qual seus pais estão mortos. A razão pela qual você não pode ficar com Draco. A razão pela qual você não pode ser você mesma desde que veio para Hogwarts."

Minha respiração ficou mais pesada com suas palavras, sabendo o que ele estava insinuando; as palavras me deixando tonta e enjoada.

"Vamos. Você sabe do que estou falando,Rose." Ele se aproximou ainda mais de mim, o cheiro da morte ainda pairando sobre ele, não tornando a respiração muito mais fácil. "É tudo seu irmão," ele continuou. "Ele é a razão de tudo isso ter acontecido com você, porque eu torturei você,porque Sirius Black morreu. Porque você está sofrendo. Você não vê?"

Minha respiração tornou-se mais superficial na esperança de que isso ajudasse, mas não ajudou. Senti-me ficar com mais raiva e irritação a cada segundo. Cada palavra que saia de sua boca só me deixa mais furiosa.

"Temos o mesmo objetivo aqui. Sem Harry Potter, você pode ser verdadeiramente livre. Verdadeiramente você mesma.Com Draco ao seu lado."

Essa foi a gota d'água. Como ele ousa?

"Eu não preciso do meu irmão morto para ser eu mesma, ou para estar com Draco," eu cuspi. "Eu não sou obcecada- não é obsessão, é amor. Há uma diferença. Não que você saiba disso,com seus pais-"

Em retrospectiva, esse provavelmente não foi meu momento mais inteligente. Percebi assim que sua mão colidindo com força com minha bochecha me interrompeu; suas unhas compridas e sujas arranhando no processo, deixando uma sensação de queimação para trás.

Curvei-me de dor; cabeça completamente inclinada para a minha direita enquanto minha mão direita segurava minha bochecha esquerda em completa e absoluta agonia. Eu sibilei de dor, observando o sangue escorrer da minha mão enquanto eu olhava para ele.

"Garota estúpida, estúpida."Ele murmurou, virando-se enquanto balançava a cabeça em desapontamento. "Você vai se lembrar deste momento. Uma vez que todo o seu mundo desmoronar na sua frente, você vai se lembrar deste momento e desejar ter aproveitado a chance que acabou de ser dada."

Sua mão alcançou a maçaneta,e eu o observei se virar com os dentes cerrados e os olhos estreitados enquanto meu cabelo bagunçado caía sobre minha testa.

"Mas será tarde demais,Rose Potter. Você vai implorar por outra chance, mas será tarde demais."