Não se precisava de muito para perceber que Aster Trigoni era um Exe.
Ele tinha sido exposto a um experimento tão agressivo que mudou profunda e drasticamente sua biologia a ponto que ela se tornou algo facilmente descrito como, na melhor das hipóteses, estranho — mas talvez o termo mais apropriado fosse único. Sua pele era uma casca dura manchada de preto e amarelo, com juntas macias que permitiam seus membros se dobrarem; sua cabeça, assim como braços e pernas, eram recobertos de fibras grossas e pegajosas no lugar de pelos e cabelos; e seus olhos tinham um aspecto vítreo, fragmentado e de cor verde cítrico, parecendo muito uma bola de golfe colorida e transparente; porém, isso não era a coisa mais estranha sobre Aster Trigoni: a coisa mais estranha sobre ele era o fato de ter quatro asas enormes e flexíveis que pareciam ser feitas de papel celofane saindo de suas costas.
Trigoni se parecia, sobretudo, com uma abelha.
Fora a sua aparência assustadora — digna de uma criatura saída de um conto de Lovecraft — ele era a criatura mais doce e inofensiva que Nines teve o prazer de conhecer em toda a sua vida. Aster mantinha um pequeno abrigo para Exes na parte abandonada do distrito periférico da cidade, chamada carinhosamente de Colmeia.
Chamar de pequeno, no entanto, era uma ironia absoluta: a Colmeia, na verdade, funcionava em uma estação de metrô desativada e seus túneis anexos, Aster criou sozinho uma estufa sob o enorme teto de vidro da antiga entrada e cultivou todas as plantas ali com as próprias mãos, usando sementes e o pólen que acabava preso em seu corpo para manter o ciclo de vida das plantas funcionando.
Era o único lugar que Nines conhecia que ainda tinha algo de verde crescendo no coração da favela e era lá que o ciborgue estava agora, parado diante dos portões parcialmente obstruídos enquanto observava o pequeno homem-inseto regando um canteiro de plantas sob a clarabóia em uma plataforma.
Isso não seria estranho para um humano, se não fosse o fato de Aster estar pairando no ar há vários metros do chão como um helicóptero e suas asas não fizessem tanto barulho.
— Você veio! — gritou Aster lá do alto assim que percebeu o ciborgue, Nines teve que proteger seus olhos da claridade e do pó que se ergueu conforme o zangão descia e pairava sobre o chão de concreto.
— Queria ver como todos vocês estavam com meus próprios olhos, ter certeza de que estavam todos seguros — respondeu quando pôde fazer contato visual com Aster, eles estavam parados no pequeno intervalo entre os lances de escadas — Vi as modificações que você fez aqui desde a última vez, bom trabalho — elogiou Nines.
— Você tá bajulando — disse o menor um pouco constrangido, descendo as escadas até a parede de azulejos quebrado no fundo onde havia uma torneira, Aster encheu novamente o regador de metal que ele tinha nas mãos — Kilowatt está lá atrás com as crianças, elas encontraram um videogame antigo e pediram para ele consertar.
Nines franze a testa em confusão.
— E como exatamente eles estão jogando se não tem energia aqui? — perguntou o ciborgue, a abelha deu um sorriso divertido de espremer os olhos enquanto fechava a torneira.
— Ah, você vai ver quando chegar — respondeu vibrando as asas com empolgação.
Nines desceu as escadas até a plataforma — onde antes corria o metrô e agora funcionava a parte do alojamento — para encontrar Chase e as crianças, ele só não esperava que todos eles estivessem amontoados uns perto dos outros ao redor de um Kilowatt com cabos de força na boca com uma expressão entediada. Ele arregalou os olhos e seu sorriso fino rasgou o rosto incrédulo enquanto o grupo de crianças abrigadas por Aster brigava por um videogame portátil antigo de dois controles, um vermelho e um azul, Nines terminou de descer as escadas precariamente iluminadas e se aproximou do grupo quase sem fazer barulho, ouvindo a conversa estridente lá embaixo.
![](https://img.wattpad.com/cover/331194590-288-k490774.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Experimento Número Nove
Science FictionNines era um ciborgue projetado pelo Projeto Gênese com o objetivo de servir a humanidade, mas um acidente que expôs as crueldades que aconteciam lá dentro obrigou os cientistas a fecharem as portas. Mais de dez anos depois, as outras cobaias sobrev...