Chase ainda estava boquiaberto com tudo o que estava ouvindo enquanto mapeava os sensores elétricos de Nines, o mais velho dos dois mordendo o lábio inferior com tanta força que Chase pensou que fosse arrancá-lo totalmente, ele removeu os dedos da superfície dos fios e Nines suspirou aliviado quando o Exe parou de avaliá-lo.
— A boa notícia é que nada de elétrico foi danificado — disse Chase esfregando as mãos para dissipar a estática residual dos próprios dedos — A má é que vou ter que desamassar suas placas parte por parte.
— E isso é uma má notícia pra quem, exatamente? — perguntou Nines em seu sofá, braços caídos ao lado do corpo e olhos fechados, a bochecha já fechada com pontos instantâneos de fita e seu olho já tinha parado de vazar.
— Muito engraçado — disse Chase pegando uma das placas com a mão, desatarraxando os pontos de pressão com um estalo, Nines estremeceu com a sensação — Você vai atrás dele?
— Pretendo — respondeu ele ainda de olhos fechados — Laurent me deve respostas.
— Você ainda acha que foi ele, não é? — perguntou Chase.
Nines não respondeu, ao invés disso ficou olhando fixamente para o teto com a mente absorta em pensamentos enquanto repassava a gravação do diálogo em seu sistema, uma pequena tela reproduzindo o vídeo em seus olhos robóticos como se fosse um holograma que apenas ele poderia ver mostrava os dois homens conversando e ele tentava fazer o reconhecimento facial de pelo menos um deles. Ele ficou frustrado rapidamente e chacoalhou a cabeça, dispensando o pop-up de sua visão.
— Você acha que foi ele — disse Chase, não mais perguntando.
— Você não conhece o Laurent — respondeu Nines o encarando, apenas a cabeça rolando no encosto do sofá enquanto o loiro trabalhava em suas placas, sentado no chão.
— Nem você o conhece, entendo que esteja desconfiado, mas você disse que a garota nem sabia que você trabalhava pro Laurent, pode ser que ele não saiba sobre o que está acontecendo na boate também — Chase desamassou uma placa com um martelo de seu kit de ferramentas.
— Você é muito ingênuo, Kilowatt, e eu não trabalho pro Laurent, ele apenas me contratou para um serviço temporário — disse Nines cruzando seus braços sobre o peito agora vestido com uma regata preta de algodão — Ele é um gângster.
— E você um mercenário — respondeu o garoto elétrico — Isso te faz uma pessoa ruim? Porque eu sei que você não é.
— Não, mas se não é ele quem está sumindo com os nossos, alguém está — rosnou Nines encarando o mais novo, ele conseguia ver apenas a nuca de Chase de onde ele estava sentado no chão, reparando os estragos de bala — Desculpe, eu não deveria ter sido grosseiro com o cara que está consertando o meu braço com um martelo — as mechas azuis balançavam de um lado para o outro acompanhando a cabeça do seu amigo quando ele negou, Nines estendeu as pernas sobre a mesa de centro.
Chase era um garoto magro e pequeno, ficando ainda mais evidente pela discrepância exagerada de altura entre os dois: onde Nines era alto e sombrio, Chase era um pequeno raio de sol literal que poderia explodir uma estação de energia se ficasse empolgado demais — e isso literalmente já tinha acontecido; eles o apelidaram de Kilowatt, a unidade de medida, por conta de seus poderes elétricos, seus olhos pareciam duas lanternas brilhantes e seu cabelo loiro era raspado em um moicano que ele deixava caído ao longo do rosto redondo com mechas de tinta azul brilhante.
Nines era discreto, quieto e assustador.
Chase era chamativo, falante e energético.
Eles faziam uma dupla estranhamente funcional ao longo de todos os anos que estavam juntos desde a fuga do projeto, uma união tão forte que, mesmo que não compartilhassem o mesmo sangue, eles eram próximos como seriam se fossem irmãos de mãe e pai. Nines não o trocaria por nada e se algo acontecesse com Kilowatt, ele reviraria o mundo para encontrar os responsáveis.
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O Experimento Número Nove
Ciencia FicciónNines era um ciborgue projetado pelo Projeto Gênese com o objetivo de servir a humanidade, mas um acidente que expôs as crueldades que aconteciam lá dentro obrigou os cientistas a fecharem as portas. Mais de dez anos depois, as outras cobaias sobrev...