Jane pensou que naquele momento, se ela não deixasse a menina frágil apossar de si mais uma vez, poderia perder todas as chances de encontrar o sereia.
— Sim. – Ela fez a voz mais doce e mais sofrida que conseguia no momento.
— Mas é claro que esta e eu fico contente com isso. – Ele pegou a mão dela. — Se tem medo, não faça isso de novo e me obedeça quando eu mandar.
Markus limpou a sujeira da própria roupa e voltou a sentar-se na mesa.
— Essa noite, - Ele começou enquanto ela olhava-o fingindo prestar atenção. — Sonhei com alguém que tinha o rosto bastante parecido com o seu. – Ele riu. — Mas quando meu pai batia nela, ela gritava e chorava, já você fica quieta quando apanha. – Ele tinha um sorriso estranho, uma expressão louca de quem havia visto algo muito aterrorizante. — Mas eu prefiro assim. Continue assim, não grite. As outras meninas choram demais, isso me irrita.
Jane já havia ouvido os gritos, os choros e feito curativos em muitos ferimentos. Com ela havia sido a primeira vez.
— Será que tem alguém lhe incomodando aqui na fazenda? – Ele tornou a face numa carranca. – Diga-me! É por isso que tem estado estranha esses dias? Se há alguém incomodando eu o esfolarei e darei a carne aos cães!
Uma das empregadas dissera uma vez que a mãe de Markus não era nobre como o pai, que era uma mulher doce e amável, e seus dias foram felizes na fazenda ao lado do marido e filho. Isso era o que pensavam. A verdade era outra e ninguém falava sobre esse assunto. Não haviam muitas fotos dela na casa, apenas no escritório de Markus ela viu um quadro com sua mãe e pai em frente à fazenda, de fato a mulher era muito bonita e os traços de Jane eram parecidos com os dela. Infelizmente a mãe de Markus falecera ao dar à luz a uma garotinha que morrera três dias depois do nascimento, o pai ficara amargurado e sofreu anos a fio deixando todas as responsabilidades no jovem menino. Talvez Markus visse em Jane algo nesse sentido, uma forma de ter o passado de sua mãe por perto. Que falta de sorte a minha!- Ela pensou.
Jane começou a ficar cada vez mais tempo a sós com Markus, a pedido dele a moça o servia em todas as refeições. Ele nunca tocou no assunto de ter batido nela e quando estava com raiva mandava que ela saísse do cômodo e a chamava de volta quando estava mais calmo. As vezes não dava tempo e ela levava bofetadas e xícaras e pratos voavam em sua direção. Não tardou para que ela passasse a se encolher quando ele vazia algum movimento, o que deixava Jane bastante irritada com ela mesma.
— Você está com uma expressão estranha. – Lantis a tirou de seus pensamentos tocando as mãos dela sobre a mesa. — Melhor não falarmos desse assunto também.
— Está tudo bem. – Ela disse aceitando o carinho que ele fazia em suas mãos. — Foram coisas que já aconteceram, não me machucam mais.
Jane, agindo como Lídia, envolveu-se com um dos rapazes da fazenda. Era um jovenzinho bobo e deixou que ele dissesse aos homens que tinham um caso e não custou a chegar nos ouvidos do patrão. O rapaz foi despedido no outro dia. Jane mostrou-se entristecida, parou de comer e fingiu estar doente de amor, ficou arredia e deixou transparecer o mal temperamento. Nada adiantava, ele parecia desculpar-lhe todas as imprudências como se pensasse que sua cachorrinha estava fazendo uma birra infantil. Ordenava que ela o seguisse pela casa e ficasse em pé em todos os cômodos que ele estava, mandava que ela não lhe levantasse os olhos e mantivesse sempre a cabeça baixa perante ele, quando ele queria olha-la segurava em seu queixo e corria os olhos sobre sua face, várias vezes ele elogiava a beleza de Jane, a cor em seus olhos, as maçãs em seu rosto, o arco do cupido em seus lábios rosados e cheios e aproximava tanto seu rosto do dela que Jane chegava a sentir ânsia no desespero dele a beijar. Mais de uma vez ele tocou-lhe os seios e encurralou-a sobre a parede fungando seu pescoço, Jane pensava em seu objetivo, imaginava o dia em que abriria um buraco no peito dele com sua espada e segurava o ar em seus pulmões para não sentir o cheiro de tabaco de Markus. Jane receava que as vontades dele para com ela estavam tomando outro rumo e temeu que seu plano pudesse ir por água abaixo.
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Ellysium - Impérios sob a água.
FantasíaO que se sabia sobre os piratas era o que realmente eram: ladrões, mercenários impiedosos. Mas, o que pouco falava-se sobre os piratas, era que eles abominavam qualquer tipo de escravização. Quando Jane juntou-se ao Alma Negra, ela sabia disso, e po...