Capítulo 45 - A deriva.

119 17 217
                                    


A lua alta no céu iluminava um pouco a cela onde Lantis estava, pela escotilha ele via a água do mar convidativa e escura, os lábios cerrados e os punhos fechados numa frustração que não cabia dentro dele

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A lua alta no céu iluminava um pouco a cela onde Lantis estava, pela escotilha ele via a água do mar convidativa e escura, os lábios cerrados e os punhos fechados numa frustração que não cabia dentro dele. As dúvidas que dominavam seus pensamentos deixavam-no ansioso, ele estava com raiva e com medo, o suor escorria em seu pescoço delineando a marca por onde ele respirava debaixo da água e sua camisa grudava na pele da costas, pegajosa e incômoda. O que fazer agora? Se eu tivesse insistido com Jane e saído daquela cabine... Eu poderia estar morto ao invés de estar aqui, isso é burrice. Vou ser vendido? Ah, se dependesse somente do velho provavelmente sim. Eu seria usado de novo pelos homens de luxo. – Ele lamentava em seus pensamentos esfregando as mãos no rosto. - Vão me matar? Não...pior... Vão me levar às bruxas! Isso não pode acontecer, não depois de tudo. Jane... Eu não quero perde-la. Será que ele a matou? Não, ele me perguntou sobre ela, ele não sabe onde a capitã está. Eu preciso dar um jeito de sair daqui e encontrar Jane.

O sentimento de impotência que há meses havia deixado seu coração estava ali mais uma vez, mas dessa vez ele não abriria nenhuma brecha. Seria mais forte e mais resistente e se Markus ou Benjair ou qualquer um que fosse tentasse leva-lo as bruxas teriam que mata-lo porque ele iria lutar e não iria desistir. Haviam muitos problemas em estar no Alma Negra, foram dias difíceis e ele sofrera maus bocados, mas Lantis havia conquistado o seu lugar no navio. Fosse pela sua aparência mais forte e imponente, pelos amigos que fizera ou pelo trabalho duro em que contribuíra ele havia adquirido o respeito que se espera de uma tripulação pirata e isso era algo novo e lhe dava muita satisfação. Ele orgulhava-se de ser quem era e da história que carregava nas costas, ele era parte de algo muito maior do que qualquer um ali podia imaginar, ele fazia parte do povo da água, e queria mostrar a todos qual era a força que vinha do mar. Lantis sentia a mudança das águas e a sabia que algo vinha, logo a história iria mudar e ele queria fazer parte daquela transformação dessa vez e não apenas mais um na plateia dos acontecimentos.

Foram tantos anos sendo o objeto de alguém, foram alguns meses se desvencilhando de amarras impostas, foram poucas semanas descobrindo quem ele realmente era. A mente vagava pelas lembranças da infância com sua mãe, eram poucas as que resistiram a ida às bruxas e ele sabia que eram mais do que muitas sereias jamais teriam. As vezes ele lembrava-se de seu pai, um borrão no meio da água. Ele era forte, muito forte e muito rápido. Nada comparado ao que Lantis estava agora, diminuto naquela cela. Ele não iria se esquecer deles de novo! Não deixaria as bruxas arrancarem o pouco que havia lhe restado de pertencer a algum lugar.

Mais uma vez atrás dessas malditas barras de ferro! – Ele pensava. – Mais uma vez preso feito um animal!

O som de passos veio, um trio de piratas bêbados parou frente a ele, rindo. Eles estavam ali para vigiar a cela e o sereia, mas ao invés disso abriram os zíperes de suas calças e mijaram no chão próximo aos pés de Lantis. De novo.

— Vocês deveriam inovar um pouco, – Ele disse, seu tom cheio de escarnio e seus lábios com um sorriso. — Isso não surpreende ninguém, e é bem constrangedor pra vocês.

Ellysium - Impérios sob a água.Onde histórias criam vida. Descubra agora