VINTE E NOVE

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- Simone? Está tudo bem? - Perguntei enquanto fazia carinho em seus cabelos.

- Sim. - Sua voz saiu baixa, quase inaudível. Me afastei um pouco dela e a olhei nos olhos.

- O que aconteceu, Si? O que sua advogada queria com você há essa hora? - Com o polegar limpei a lágrima solitária que escorreu pelo seu rosto. - Me fala, eu quero te ajudar.

- A Vitória está morta.

A notícia veio como um supetão no peito.
Como assim morta?

- Minha advogada me ligou só para me deixar apar da situação... - Ela se calou quando o celular que ela havia me dado começou a tocar dentro de minha bolsa.

Senti o terror espalhar-se dentro de mim. Me afastei de Simone, peguei minha bolsa e a abri rapidamente, tremendo. Eu havia deixado o número com Maiara, para me ligar em caso de emergência.

Não. Meu Deus!

Implorei em pensamento, rezando para que fosse um engano. Talvez alguma mulher ligando para o número antigo de Simone. Mas meu medo aumentou quando vi o número de telefone de Maiara no visor.

- O que foi, Maiara? - Falei alto, com a voz apavorada, esganiçada, agarrando o celular com força.

- So... - Começou ela, com pesar na voz.

- O Carlos? Foi ele? Diga, pelo amor de Deus!

- Ele... E... Ele se foi, Soraya.

Eu sabia que aquilo poderia acontecer. Os médicos avisaram que era a reta final, que não havia mais jeito. Eu já vinha me preparando há um bom tempo e na verdade não suportava mais ver o sofrimento dele. Mas mesmo assim foi um choque.

Senti como se minhas entranhas se dobrassem por dentro. Minhas pernas e braços tornaram-se estranhamente dormentes e eu senti muito, muito frio. Um frio insuportável, que me fez começar a tremer incontrolavelmente. Minha visão encheu-se só de imagens dele, nos mais variados momentos de sua vida, como se um filme passasse sem ordem à minha frente.

-So, escute Soraya, foi melhor assim. Ele parou de sofrer.

Eu ouvia ela muito longe. Senti uma mão em meu ombro e o celular sendo retirado de minha mão.
Agarrei-o com força, sem conseguir raciocinar direito, mas sabendo que era importante ficar com o celular em mãos.

- Acalma-se, Soraya. Está tudo bem.

Tentei focalizar Simone. Cheguei a vê-la, debruçada sobre mim, senti meu ombro molhar com suas lágrimas.

Vitória. Ela também havia partido. Eu queria poder consolar a Simone, mas era demais para mim poder assimilar tudo de uma vez. Eu me sentia longe demais, confusa, sem conseguir pensar.

Carlos estava morto.

- Dê-me o celular. Isso. Alô. Sim, ela vai ficar bem.

iA voz de Simone me fez olhá-la, tentando entender o que ela dizia.

- Estamos indo. Pode deixar. Até logo.

Ela deixou o celular no bolso e olhou-me, triste.

-Vou pegar algo para você beber e ficar mais calma.

Eu me desesperei quando ela se afastou. Quis me levantar, mas minhas pernas não responderam.
Aquela fraqueza horrível!

Eu precisava voltar para a casa. Mas parecia completamente fora de mim.

- Aqui, beba um pouco. Vamos So. - Simone tocou meu rosto. Olhei-a, pedindo ajuda, sem conseguir falar. - Beba.

Senti o gosto da água doce em meus lábios, entornando um pouco por minha boca. Engoli e tossi. Ela me ajudou, calma e segura, com cuidado.
A bebida desceu queimando. Senti como se tivessem me sacudido. Murmurei para ela:

 CHANTAGEM - SIMORAYAOnde histórias criam vida. Descubra agora