Nada Será Como Antes - Simone e Soraya

Torrada e café

Cris... esta história não está onde está e não existiria da forma que ela existe se não fosse por você. Você e seus olhos tão atentos, mas tão atentos, que leem não só o enredo que construo em cada capítulo, mas quem está aqui, do outro lado, escrevendo. E que privilégio que é ser lida por você e seus olhos tão gentis, pelo menos comigo!

Você e seus comentários que me desmontam, que me emocionam, que me fazem ter certeza de que sim, eu deveria estar escrevendo esta história, neste tom intimista, buscando exatamente o pequeno, o delicado, o detalhe, a sutileza, o singelo, o que está longe dos olhos das pessoas em relação às nossas queridas personagens.

A sua leitura é um abraço tão aconchegante que dá vontade de morar nele! Eu não te dedico este capítulo, eu te dedico esta história, inteira. Porque ela é tão sua quanto ela é minha. Obrigada por tanto 💕

.....................................................................................................

Ainda não era oficialmente a temporada das chuvas no Mato Grosso do Sul, mas as nuvens se derramavam mansas sobre Três Lagoas. Pacífica e constante, a água regava o mundo do lado de fora da janela. Era cedo ainda, bem no início da manhã, quando a consciência pareceu retornar e ela tinha ouvido o chamado da chuva. Simone Tebet observava os pingos delicados com o mesmo brilho nos olhos que tinha quando criança. Amava aquela cortina de água dançante e os sussurros que ouvia em seu coração sempre que chovia.

A morena vestia apenas uma calcinha de algodão e a camisa de seu pijama e se abraçou a sua pouca roupa sentindo ainda mais forte o cheiro de Soraya Thronicke se impregnar nela. A noite anterior já ia alta quando as duas despertaram aos primeiros trovões, mesmo que ao longe. Tomaram banho juntas, lavaram o cabelo uma da outra e Simone adorou a textura do óleo corporal de frutas vermelhas seguido do hidratante de cereja que Soraya espalhou em seu corpo.

Ajeitaram as poucas coisas que haviam levado e se vestiram, Soraya com uma camisola branca curtíssima e Simone com um de seus muitos pijamas de cetim azul marinho, composto de uma camisa de botões e a calça comprida. Depois, foram para a cozinha, onde as duas encontraram pão caseiro que havia sido assado naquela tarde, geleias feitas ali mesmo e a geladeira muito bem abastecida com instruções de dona Fairte.

Prepararam um lanche tardio, Simone fez um chá para elas enquanto a tempestade se aproximava, vagarosa, como se não quisesse atrapalhar as duas mulheres. Quando foram se deitar, almas e corpos saciados, de mãos dadas, Soraya pediu que a outra senadora tirasse a calça, queria sentir a pele dela enquanto dormiam. Simone sorriu e cedeu. Trocaram os lençóis entre risos e bochechas enrubescidas e então se aconchegaram, beijando-se até que o chamado do sono foi mais forte. Nem os relâmpagos e trovões foram suficientes para perturbar a paz de se terem uma da outra.

Com as lembranças ainda tão recentes, a morena sorriu. Soraya ainda dormia na cama de Simone. O primeiro fim de semana delas, no refúgio dela. Havia tanto que não ia até lá e agora simplesmente parecia mais do que certo que a loira fizesse parte de sua paisagem, que não poderia ser mais bonita. Ou poderia. Com os olhos indóceis de Soraya intensificando tudo ao redor e dentro dela. Simone suspirou e abandonou a janela, voltando para a cama.

Acostumada a acordar cedo para sua rotina matinal antes do trabalho, Tebet ainda ficou um tempo deitada de lado, a cabeça apoiada em sua mão, observando o sono de Soraya e a achou ainda mais bonita. Desconfiou que sempre acharia quando a assistisse dormindo, tão mansa.

A morena não gostava muito de dormir de abraço, tinha preferido preservar seu espaço ao longo da vida e de seus outros relacionamentos, mas entendeu que nada seria como antes da primeira vez que Soraya havia aconchegado o corpo dela ao de Simone. Ali, tivera sua primeira lição para ressignificar a paz, a felicidade, o amor.