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Duas semanas se passaram rapidamente e logo se iniciou uma nova turnê para o Ghost e, apesar de nunca terem tocado no assunto em seus encontros, Rain constantemente pensava na noite que teve com Sodo, especialmente após os rituais, com as brincadeiras que o Fire Ghoul fazia constantemente no palco, mexendo com Rain, tocando-o, provocando-o, sussurrando em seu ouvido, mas Rain sabia que isso era apenas uma persona, não era real, era para o público, porque isso os levava a loucura, o problema que a ele também.

Já no meio da turnê, ao término de um dos rituais, após a despedida, Rain correu no backstage em direção ao camarim, seu peito palpitava, sentia náuseas e calafrios, encerrou a última música com a máscara ocultando suas lágrimas. Dessa vez, ele não conseguiu segurar, talvez tivesse sido o acúmulo de emoções, mesmo as boas, todo o agito dos últimos dias, aquela multidão à sua frente e a confusão de seus sentimentos, uma crise de ansiedade havia se desencadeado e esse era seu maior medo, que isso acontecesse em cima do palco e que talvez não pudesse controlar como fez hoje e quando Sodo, que veio correndo logo atrás chegou, ele estava sentado no sofá com o rosto entre as mãos, com os dedos puxando levemente os cabelos escuros, contando até dez baixinho para si mesmo, enquanto tentava respirar mais lentamente, mas sem grande sucesso.

-Hey, Rainboy, estou aqui...- disse enquanto sentava-se ao seu lado e o abraçava e começava a contar com ele, técnica que a terapeuta havia passado para acalmá-lo e distraí-lo durante um surto.

Quando os demais chegaram logo em seguida, Rain tinha a cabeça repousada no ombro de Sodo e suas mãos nas dele, e, diante da cena, todos perceberam que o maior realmente não estava bem e fizeram um semicírculo à sua volta, até que Swiss veio até Rain e se ajoelhou a sua frente enquanto afastava uma mecha de cabelo que estava grudada em seu rosto devido as lágrimas para trás de sua orelha.

-Oi, Chuvisco! Ficamos preocupados com você. Aconteceu algo com você durante o show? Alguém jogou algo e te machucou?

-Na verdade, acho que foi uma crise de pânico ou ansiedade, Swiss- respondeu Sodo, já que Rain apenas estava quieto com o rosto afundado no ombro do companheiro de banda- Ele vem tratando disso faz um tempinho, mas acho que é impossível evitar que aconteça sempre.

-Entendo...acho melhor esse mocinho voltar para o hotel então, nada de after, podemos pedir para alguém da equipe ficar com ele ou se você achar melhor, Rain, um de nós mesmo. Somos uma família, irmão, você sabe que pode contar com a gente, não sabe?

-Eu fico, não estou com clima para festinhas mesmo. Eu levo o Rain para o hotel e garanto que ele vai ficar bem.

Todos concordaram com Sodo e Rain se sentiu grato por esse carinho dos amigos, pois nesse exato momento, ele sentia-se o maior peso do universo, por mais que seu lado racional tentasse gritar que isso era uma mentira absurda, a voz dos monstros em sua cabeça estava alta demais.

A caminho do hotel, Sodo não soltou a mão de Rain em nenhum momento, mesmo no táxi, sempre fazendo carinho em seus dedos e olhando-o com ternura. Ao chegar, apesar dos olhares, eles seguiram de mãos dadas até o quarto de Rain, não importava o pensamento das pessoas que passavam por eles, Sodo queria garantir que Rain se sentisse protegido, sentisse que não estava sozinho.

-Consegue tomar banho sozinho, Rain?- perguntou Sodo enquanto deixava as mochilas ao pé da cama.

-Não sei se eu tenho forças, Dew...

-Confia que eu possa te ajudar nisso? Prometo não fazer nada, Baby...

Rain acenou positivamente com a cabeça e foi ao banheiro, e, como se adivinhasse, Aether lhe mandava uma mensagem:

"Se você abusar dele, já se considere castrado"

O menor jogou o celular na cama, pegou uma muda de roupa qualquer na mala que estava no quarto e o seguiu. Sem maldade, o abraçou pelas costas, deixando ambos de frente ao espelho, revelando um Rain cansado, choroso, prestes a desabar novamente e as suas costas um Dewdrop 100% protetor. Sodo já havia presenciado essa cena algumas vezes nas últimas semanas, algumas vezes, como da primeira vez, foi até seu apartamento, em algumas ficou com ele no telefone até Rain se acalmar, em ligação ou vídeo chamada.

-Lembra o que eu te disse naquele dia? Quando me ligou pela primeira vez durante uma crise?

Um aceno negativo sem energia.

-Você é a chuva mais aconchegante em que já tive a oportunidade de me molhar. Sei que para você isso é algo estranho nesse momento, sei que seu mundinho está desabando, mas era, é e sempre será verdade, Baby.

Rain tentou desviar o olhar, porém Sodo segurou seu queixo, direcionando seu rosto para o espelho mais uma vez.

-Eu colocaria fogo no mundo por você e eu tenho certeza que você não duvida disso, meu principezinho choroso. Agora vamos para o banho, antes que eu te devore, docinho, e o Aether coma o meu cu por isso.

-Quê?

O guitarrista riu enquanto virava Rain de frente para si e, tão delicadamente quanto pode, começou a despir seu corpo. Ele não se orgulhava, mas seu membro pulsou algumas vezes durante esse processo, mas ele tentava afastar todo pensamento pervertido e impuro que vinha, ele apenas queria cuidar dele, não podia fazer merda, sequer pensar, ainda mais com Rain em um modo tão vulnerável quanto estava.

Quando terminou, deu dois tapinhas leves na bunda de Rain, indicando para que ele entrasse no box enquanto retirava a camisa para não se molhar tanto durante a empreitada.

O próprio Rain ligou o chuveiro e deixou a água escorrer diretamente sobre si, enquanto Sodo colocava shampoo nas mãos.

-Vem aqui, Baby...

E Rain de fato veio, mas veio com um abraço, seu corpo já molhado junto do outro e Sodo não teve palavras, apenas começou a cantarolar para o homem que estava junto de si e continuar com a atividade que se propôs, lavando gentilmente seus cabelos sem desfazer o abraço em que estava envolvido, ouvindo o rapaz em seu peito chorar torrencialmente. Foi um banho silencioso, onde era possível ouvir apenas o pranto de Rain e o cantarolar amável de Sodo, que o tocava com tanto afeto e tanto respeito que nem parecia que estava tentando controlar os impulsos do seu corpo.

Por fim, ali estava um Sodo encharcado mais uma vez secando os cabelos dele com uma toalha e isso trouxe lembranças aos dois, mas o pacto de silêncio entre eles os impediu de qualquer alusão sobre.

-Acha que consegue terminar e se vestir enquanto eu tomo um banho também?

-Eu consigo sobreviver sem você alguns minutos, Dewdrop- respondeu dando um fraco sorriso.

-Mas eu não sobrevivo sem você, minha nuvenzinha de chuva. Agora sai daqui, pois eu sou um rapaz envergonhado.

Rain não precisou perguntar o porquê dele precisar sair do banheiro, ele sabia e saber que Dewdrop o desejava e ainda assim se manteve firme cuidando dele, sem segundas intenções, o fez sorrir ao sair, o fez sentir amado e esse era o sentimento mais recorrente quando estava na presença de Sodo.

Enquanto esperava, percebeu que precisava desabafar com alguém sobre eles ou explodiria, com alguém que conhecesse ambos, que pudesse opinar. Swiss disse que sempre poderia contar com ele e isso era algo que Rain sequer tinha coragem de questionar e decidiu que iria ao seu encontro no dia seguinte, pois agora, ele só queria morrer para o mundo.

E reviver com Sodo na manhã que se seguiria.

You will never walk alone- Rain X SodoOnde histórias criam vida. Descubra agora