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Aquele beijo tinha sabor de vinho tinto com hortelã, era um sabor confuso, como tudo que veio com ele em seguida.

-Sodo... - começou Rain tentando afastar levemente seus lábios do outro, mas não o suficiente para que não se tocassem.

-"Sodo" é o caralho, Rain, cala boca!- falou entre os dentes enquanto o empurrava para dentro do apartamento e fechava a porta atrás de si. Ele agarrou a cintura de Rain firmemente com as mãos, quase o machucando, enquanto retomava o beijo necessitado, ao mesmo tempo que tentava caminhar para dentro do cômodo, esbarrando nos móveis de forma desengonçada, sem se importar, juntos formavam um furacão fora de rota.

Ficaram alguns minutos imersos um no outro apoiados no balcão da cozinha, até que Sodo finalmente decidisse que era hora de parar para respirar, deixando Rain ali, sem reação, com as pernas moles, enquanto ele se dirigia para a sala da forma mais decidida que podia naquele momento.

-Agora sim podemos conversar, Rainboy!

Rain o encarava abismado sentado ali no sofá, como se nada houvesse acontecido a poucos segundos atrás, como se ambos não estivessem totalmente perdidos naquele beijo, como se algum deles não quisesse levar aquilo além, sair dali para o quarto. Isso o lembrou daquele primeiro selinho, numa brincadeira, aquilo que o atingiu tanto. Levou um tempo para que conseguisse sair do torpor que se encontrava e o acompanhasse, sentando-se de frente a ele, de cabeça baixa, desviando o olhar. Era hora da verdade e não havia mais como adiar isso e ele percebeu que era ingenuidade esperar estar pronto, ele jamais estaria.

-Você bebeu, Sodo?

-Apenas um pouco para reforçar a coragem, mas estou inteiramente sóbrio para termos essa conversa que já passou da hora de acontecer.

-E sobre o que seria...?- tentou iniciar inseguro, apesar de saber exatamente sobre o que era.

Sodo ergueu a sobrancelha, sério. Ele queria só pegar Rain em seu colo, ele estava claramente assustado, queria acalmá-lo, confortá-lo, mas isso também era sobre ele e ele precisava seguir em frente. Ele disse a Rain que não sentia pena dele e isso era real.

-Eu sou um brinquedo para você?

Rain se sentiu desnorteado com a pergunta.

-Quê? Não, nunca!

-Então por quê? Por que você julga que é melhor fingir que nada está acontecendo entre nós? Você está com vergonha? Eu sou só o calor que você deseja na sua cama e nada mais? Me fala, Rain! Seu problema é perceber que está transando com um homem? para quem você está fingindo? Para nós ou para si mesmo?

-Eu...eu não sei... Sodo, só de pensar em ter algo contigo e você me abandonar, eu... eu não consigo suportar...

-Sei que você passou por uma separação não a tanto tempo atrás, mas eu não sou ela, eu não sou qualquer relacionamento que você teve, sei que você se envolveu com pessoas de uma noite, você se sentia sozinho, mas eu sou eu e eu estou disposto a entrar de cabeça nisso. Estar com você não é só uma diversão para mim, e não estou falando só de sexo, estou falando de sentimentos e eu estou seguro dos meus, mas e você, Baby? O que você realmente quer?

-Eu quero ser amado...

-Porra, Rain. Você quer ser amado ou quer ser amado por mim? É absurdamente diferente, sabe. Para você qualquer um que te dê atenção e carinho serve?

Sodo tentava manter-se sereno e seguro, mas era possível notar que sua voz se alterava, suas mãos se moviam sem que ele percebesse, seu corpo já estava na beirada do sofá, como se tentasse ficar o mais próximo que pudesse do outro, como se estivessem compartilhando um segredo só deles em um multidão.

-Tenho medo de te perder!

-Rain, eu estou bem na sua frente! Estou dizendo que te amo, o que mais você precisa? Quer que eu anuncie para a banda? Te traga uma aliança? Estampe isso em um outdoor no centro da cidade? Sei que o futuro te assusta, mas eu vou segurar a sua mão o caminho todo! Não tenho estado aqui esse tempo todo? O que mais você quer para confiar em mim?

Rain tremia, seus olhos já marejados, as mãos também inquietas presas aos cabelos, era sempre essa sua fuga. Tentava não puxá-los, mas estava aterrorizado, sua cabeça rodava, seus pensamentos iam para lugares desconexos, sua respiração logo começou a acompanhar esse fluxo, ele estava desabando.

-Dew...

Tão rápido quanto pode, Sodo já estava ajoelhado entre as pernas do companheiro, puxava suas mãos para as suas, terno, gentil, encostou sua testa na dele, de olhos fechados sussurrava:

-Hey, Rainboy, fica comigo. Fica aqui comigo. Fica para sempre comigo. Mergulhe em mim e eu não te deixarei se afogar, eu prometo.

A nuvem de chuva se transformou em tormenta.

-Deixe sua mente aqui, não se perca nesse labirinto. Vamos, minha nuvenzinha, siga minha voz. Quem eu sou?

Ele tentava distraí-lo antes que aquilo piorasse.

-De-dewdrop...

-Isso! Sou sua Gotinha de Orvalho, Baby! Qual sua melhor lembrança comigo?

-Quando dormiu comigo no sofá naquela primeira noite.. T-Te ver ao acordar...Você babava e s-sorria... eu me senti precioso e você me beijou na-naquele dia. Ali e-eu percebi que queria estar com v-você...

-Então você quer estar comigo?

O aperto nas mãos ficou mais forte, Sodo sentiu seu coração descompassar, errar a batida.

-Q-quero...

-Se eu dormir aqui, eu poderei acordar ao seu lado e poder ver o rosto mais lindo que já surgiu na minha existência?

-Sim...

-Eu poderei te amar sem medo? Você aceita ser minha nuvenzinha de chuva tempestuosa?

-Sodo...

-Duas opções, Baby: Sim e não. Você aceita?

-E se você se arrepender?

-Pare de pensar tão a frente, pense no agora, no nosso presente. E agora o meu coração diz que eu jamais irei me arrepender disso.

-Eu sou uma confusão, Sodo! Eu nunca sei como estarei, você não merece passar ainda mais por isso.

-Você não tem o direito de decidir por mim o que eu mereço ou não. Eu quero você, somente você, inteiramente você, com suas qualidade, seus defeitos, sua depressão, sua ansiedade, seu corpo, sua alma, seu humor duvidoso, seu fogo e sua chuva. Eu quero você!

-Eu quero acreditar nisso!

-Então acredite, Baby. Eu já menti para você?

Uma das mãos de Rain foi delicadamente aos cabelos do rapaz a sua frente, puxando para um beijo singelo, quase casto, com gosto salino, com gosto de amor, com gosto de esperança, de alento, de comunhão. Logo ambos estavam abraçados, Sodo ainda de joelhos consolava mansamente o homem que amava. Ele queria morar naquele abraço, queria que aquele momento durasse a eternidade, que pudesse sempre ter esse vínculo, essa ligação.

-Dewdrop...

-Sim?

-Eu te amo...

You will never walk alone- Rain X SodoOnde histórias criam vida. Descubra agora