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Sodo on

Quando cheguei em casa, me peguei pensando na situação de Rain. Ele sempre foi nosso caçula, nossa nuvenzinha de chuva de verão e agora parecia uma nuvem nublada e emburrada. Algo o estava afetando, o término com a namorada parecia ser uma delas, mas parecia que havia algo mais naquela cabecinha, algo que eu não conseguia decifrar. Ele sempre foi muito na dele e, mesmo que fôssemos próximos, eu não sabia o que estava acontecendo e isso fez com que eu me sentisse um péssimo amigo.

Durante seus delírios alcoólicos, ele balbuciou sobre não se sentir útil para alguém, sobre não se sentir merecedor de amor. Ele era maluco?? Não havia um só integrante da banda ou da equipe que não amasse esse desgraçado. Até o Papa tinha ele como um queridinho a ser protegido a todo custo!

Olhei pela janela e o clima parecia agradável para uma caminhada, então decidi mandar uma mensagem para Rain para darmos uma volta juntos, talvez fosse bom para ele sair um pouco, respirar outro ar, conversarmos, afinal fazia um bom tempo que não tinhamos um momento assim.

Nos encontramos em um parque após o almoço e ele aparentava estar melhor que pela manhã, menos pálido e com um pouco mais de disposição. Isso me trouxe um pouco de alívio.

-Desculpa por ontem, Dew- disse meio acanhado depois de um tempo.

-Todos nós já tivemos uns dias e muitas noites de porre, irmãozinho, você mesmo já presenciou alguns meus e muitos mais do Mountain e nem vamos contar quantas vezes do Aether.

Ele riu, imagino que lembrando de algumas boas festas que já havíamos participado juntos. Uma coisa que podíamos dizer é que os ghouls e ghoulletes eram uma diversão à parte em qualquer festa já dada, especialmente se tivesse álcool. E sempre tinha.

-Talvez você tenha razão, mas só talvez, então não se ache muito, hein.

Dei um empurrão de leve em seu ombro. Rain sempre me chamou a atenção desde que entrou para a banda, ele tinha uma luz única. No palco, ele podia ser tímido, mas era extremamente cativante, tinha uma presença absurda e fora dele podia ser quieto, mas tinha um senso de humor ímpar, com umas tiradas sarcásticas que nos desmontava, e era alguém com quem podíamos contar sempre que estávamos encrencados, porque ele sempre nos cobria ou nos salvava, mesmo sendo o bebê do grupo. Ele sabia de coisas sobre cada integrante da banda que certamente nos mandaria para a cadeia ou pelo menos acabaria 100% com nossa reputação.

-Você está feliz sendo o Water Ghoul? Tipo, você está feliz aqui?

E então, seu semblante se fechou. Não era raiva, nem perto disso, era uma melancolia, como uma lembrança ruim.

-Eu sou feliz no Ghost, de verdade, é só que...

-É só que...?

-Você já teve a sensação de estar vazio? Sabe, anestesiado do mundo?- disse com um olhar preocupado parando de caminhar.

-Você sabe, já tive uma fase muito ruim da minha vida, que eu preferia esquecer, onde eu fiz muita merda. Eu usava qualquer coisa, fazia qualquer coisa unicamente pra ter a sensação de estar sentindo alguma coisa. Me sentir vivo de alguma forma. Mas por satã, isso é passado e eu não quero nem pensar onde eu estaria agora.

-Eu sinto que é diferente, eu não tenho um motivo, sabe? Parece que tudo simplesmente tem ficado escuro, tá tudo indo bem, minha vida está maravilhosa, até meu término aconteceu de forma tranquila, mas é como se eu tivesse sido arremessado na porra de um poço e eu me sinto um puta ingrato com a vida por isso e vira uma bola de neve sem fim. Estou mal por estar vazio, estou vazio para estar mal. Deu de sacar ou é muita loucura?

Nesse momento, eu o encarei. Sei que é muito errado, mas acho que eu sempre vi o Rain como nosso irmãozinho, que ouvia nossos problemas, nos tirava de enrascadas, mas que estava sempre bem, ou ao menos aparentava estar. Quando foi que nós deixamos de olhar para ele com a atenção que ele sempre mereceu? Não é possível que nenhum de nós não tivesse percebido que ele estava entrando nesse ciclo depressivo...

E então, no meio desse turbilhão, tudo que pude fazer foi abraçá-lo, eu não tinha palavras, não era uma situação a ser solucionada com palavras e isso era uma merda, não havia algo a ser feito, resolvido, não de forma prática, não aqui e agora. Aos poucos, ele retribuiu o abraço e de repente me senti segurando o universo em meus braços. Eu não ligava para as pessoas que passavam e olhavam, nada era maior do que o que estava acontecendo ali.

Eu não ia deixar o Rain sozinho nessa. Nunca mais.



-xx--xx-

Hello, meu povo querido! 

Avisando que fiz um pequeno ajuste no capítulo anterior para encaixar melhor com o rumo desse aqui, então talvez valha a pena uma olhadinha.


You will never walk alone- Rain X SodoOnde histórias criam vida. Descubra agora