You will never walk alone- Rain X Sodo

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Sodo on

Os meses voaram e lá estávamos em mais um ritual insano, estar no palco me transformava e eu fazia valer o título de "Fire Ghoul", a energia corria em meu corpo como um rio desgovernado e com certeza poder interagir com Rain ali melhorava tudo, não eram mais brincadeiras, por mais que os fãs não soubessem e aquilo era violentamente delicioso.

Em Mummy Dust eu o tinha nas mãos, literalmente, em Square Hammer nossa sinergia era contagiante e poderosa e Darkness at the Heart of My Love era toda nossa, como se a tivéssemos escrito um para o outro em outro multiverso*. A próxima música do setlist seria Call me Little Sunshine, assumi meu lugar no palco, a esquerda do Papa, concentrado, a introdução era delicada, marcante, eu tocava e a sentia no âmago, fechei meus olhos, deixei as notas fluírem por meus dedos suavemente, esperei pela voz do Papa, mas o que me atingiu foi a voz vigorosa de Rain e eu simplesmente não pude evitar parar de tocar e olhar estupefato para o microfone.

"Call out in the middle of the night

For when else would I hear you?"

Sua voz ecoava naquele estádio, Aether e Swiss cobriram de forma improvisada minha parte na guitarra, ninguém além de mim e do público parecia surpreso. O Papa sequer estava ali. O que estava acontecendo?

"Fall out in the cold starlight

I can save you, if you do"

E então ele me olhou e seu olhar pareceu me atravessar por completo, seu sorriso atraente, de repente o mundo deixou de existir, tudo o que eu ouvia era ele, ele e nada mais. Sua presença era a coisa mais estonteante que eu podia imaginar e me perguntei como ele nunca havia cantado no palco antes. Era divino, tão divino que parecia errado.

"You will never walk alone

You can always reach me

You will never ever walk alone"

Tentei retomar a música na guitarra, mas minhas mãos tremiam, quase esqueço como se respirava, a voz provocante e arrastada de Rain me espancava, me invadia, eu não sabia o quanto eu precisava ouvi-lo cantando com tanto sentimento quanto agora. Me vi agarrando-me a ela para sobreviver.

"(Call me) Little Sunshine

(Call me) call me Mephistopheles

(Call me) when you feel all alone

Just call me Little Sunshine"

Ele cantava a plenos pulmões, entregue, Swiss e Cumulus o acompanhavam entusiasmados, perfeitos, eu estava hipnotizado e quando ele fechou os olhos, ah! Aquela imagem ficou gravada na minha mente, era um turbilhão de emoções acontecendo ao mesmo tempo, em mim, nele, eu me sentia viciado naquela cena, não podia me desligar dela, suas mãos fortes firmes no baixo, se agarrando a ele como se sua vida dependesse disso, cantando cada frase com um misto de espírito e universo, sua alma em forma de som, tão vívida, tão sublime, tão intensa, era como o nascimento de uma nova galáxia ali na nossa frente..

"Light up in the middle of the day

For how else could you see me?

Ease up to the hunter from thе prey

And transform indefinitely"

O tempo congelou, o mundo congelou, se eu estava morto, eu iria feliz vendo aquele demoniozinho cantar. Caminhei até ele, ele sorriu ao ver-me chegando e abriu um espaço como se me convidasse a cantar junto, a viver aquilo junto com ele. Não havia nada que ele me pedisse que eu não aceitasse agora.