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Aquela situação se repetiu algumas noites durante essa turnê, Sodo entrava no quarto no meio da noite ou madrugada, mas como da primeira vez, ele simplesmente sumia antes do amanhecer, não era o que ele queria, mas era o que haviam acordado silenciosamente quando tudo começou. Às vezes, era chamado discretamente por Rain, em outras noites ele simplesmente aparecia se rendendo ao desejo. Aqueles momentos eram intensos, quentes, uma mistura incontrolável de luxúria e tensão. Rain enlouquecia ao ter a pele já suada de Sodo grudada na sua, os beijos que viravam mordidas, os suspiros que cresciam para gemidos facilmente, as mão que acariciam e agarravam cada parte possível, manchando ambos os corpos com arranhões e marcas roxas. Línguas enérgicas deslizavam para além da boca, descendo pelo pescoço, massageavam os mamilos, escorregavam ao abdômen e além dele e eles precisavam se controlar para não gritar naquele quarto de hotel, controle esse que se perdia no meio da ânsia por mais. O gosto de Rain era incomparável, fazia Sodo salivar e só de imaginá-lo em chamas dentro de si, ele já delirava de prazer, era demais para ele. Era ardente, um incêndio, tão brutal quanto angelical, era indescritível o que acontecia, a força de Rain, a entrega de Sodo, a batalha pelo comando que apimentava ainda mais o ato, Sodo sorria cândido, o garoto tímido quase sempre ganhava e era ele que era preso entre suas pernas, mas Rain se excitava com a resistência do parceiro nessa dança sensual, amava o desafio, dominá-lo era sublime, ouvir sua respiração descompassada era música, senti-lo se derreter em suas mãos, na sua boca, no seu corpo era tão divino que beirava o pecado, ele queria mais, Sodo queria mais. Aquilo não era uma transa, era um ritual e ambos eram a oferenda.

Mas quando o dia se iniciava, eles não trocavam uma única palavra sobre e Sodo ainda dava todo suporte que Rain precisava, especialmente quando esse tinha seus momentos escuros, mas fazia parecer que as noites simplesmente não existiam, por mais que ambos não conseguissem parar de pensar nisso. Essa quietude era realmente necessária? Sodo já não aguentava mais, ele queria cuidar de Rain, queria ser o farol que ele precisava nessa tempestade, mas também não queria mais esconder o que ele sentia, porque ele de fato sentia e já havia aceitado isso! Estava apaixonado por Rain, por cada centímetro do seu corpo e sua alma, de como o maior o fazia sentir coisas que nenhuma outra pessoa já o havia feito sentir e não apenas fisicamente, ele encontrou em Rain alguém para proteger, para viver. Amava seu jeito tímido e provocador, sua fragilidade e sua força, quanto mais o conhecia, mas queria estar com ele além de uma cama e algumas horas. Quando transavam, não era só desejo, pelo menos não por parte de Sodo, era amor, ele podia não entender o que Rain pensava, se ele queria apenas descarregar toda angústia que ele sentia, descontar suas frustrações consigo mesmo, mas Sodo precisava conversar com ele, não era justo ter seus sentimentos deixados de lado assim. Ele amava Rain, já não havia dúvidas disso, mas se fosse para terem algo de verdade, isso precisava ficar claro para ambos ou simplesmente colocar limites na relação de amizade deles. Apenas noites não era o que ele tinha nos planos e após a turnê, que já estava finalizando, eles precisariam quebrar esse silêncio de uma vez por todas.

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Rain on

-Ele ainda vai me enlouquecer, Swiss!- murmurei chateado com as mãos nos cabelos. Finalmente havíamos retornado para casa e Swiss se tornou meu confidente durante o tempo que estávamos em viagem.

-Cara, uma hora você precisa falar para ele como isso está te afetando. O Sodo é a porra do seu melhor amigo. Vocês têm intimidade suficiente para enfiar coisas dentro um do outro, mas não para conversar sobre o que estão sentindo? Que porra é essa? E, bro, pelo que eu entendi, é justamente você que está com medo, porque se você percebesse a forma como o Sodo te olha, você ia pedir ele em casamento na hora, ele está doidinho por você, Rain.

-Exatamente por isso! Ele é meu melhor amigo! Não quero perder isso, não quero que fique um clima ruim entre a gente. Tipo, e se ele não quiser mais que isso? E se for só sexo para ele? Isso afetaria tudo, afetaria a banda!

-Olha, quando é com a gente, você é um gênio dos conselhos, mas consigo mesmo o senhor é um imbecil sem tamanho, Chuvisco.

-E se ele estiver fazendo isso só porque eu quero...?

-Rain, você acha mesmo que ele está transando com você só porque você está tristinho? Você está maluco? Você só quer achar desculpas para não ver o óbvio.

-Que seria?

-Quer saber? me passa seu celular aqui.

Na maior inocência, entreguei sem ao menos pensar.

-Tá, mas o quê voc...

Merda. Merda. Merda. Ele estava escrevendo uma mensagem para o Sodo!

-Me devolve isso aqui, desgraçado!

Me joguei em cima dele e tentei arrancar o aparelho de suas mãos, mas o infeliz era forte e me prendeu contra o sofá com os pés e só me libertou quando terminou seu plano maligno, jogando o celular em meu colo. Eu estava tremendo, tentei desbloquear a tela, mas errava a senha constantemente, até ele bloquear por alguns segundos.

-Relaxa, nuvenzinha, eu só chamei ele para conversar, agora vocês combinem como. De nada.

Suspirei e decidi ignorar a mensagem que havia chegado para mim, eu não queria encarar isso nesse momento. Eu não estava com raiva do Swiss, mas com temor pelo que viria.

Passamos o resto da tarde conversando sobre como eu me sentia e sobre trivialidades, tentando me distrair, apesar de tudo que estava acontecendo, era bom essas pequenas férias entre as turnês e as gravações. E quando ele se foi, me senti estranhamente solitário naquele apartamento frio. Era hora de finalmente enfrentar a armadilha em que eu mesmo havia me metido e no pior dos caso, choraria no colo do Swiss até perder minha dignidade ou beberia com o mesmo objetivo.

"Eu também preciso conversar com você. Passo aí a noite. Precisamos resolver isso, Rain e você sabe do que estou falando"

Olhei para fora, o sol já sumia, minha cabeça estava a mil, eu não teria muito tempo para me preparar mentalmente para isso, mas no fim, Swiss tinha razão, nós tinhamos ido longe demais para agora termos receio de falar de sentimentos, apesar que eu considerava aquilo muito mais intimo do que todo sexo que já haviamos feito.

Me deitei no sofá e comecei a me lembrar de como ele entrou na minha vida, não apenas como meu amigo, mas como alguém essencial, um ser incrível que me acolheu em uma noite de bebedeira e me protegeu dos meus próprios monstros. Eu o rejeitava pois tinha medo de não ser correspondido, tinha medo de não vir amor do seu lado, tinha medo de ser substituído ou trocado, tinha medo do término de algo que sequer havia começado. Ele, repetidamente, me dizia que eu era forte, mas agora eu contorcia-me de pavor, eu não me importava de nunca mais tocá-lo, mas não suportava que ele pudesse me olhar com desprezo, que ele não me fosse mais tão carinhoso, tão amável, tão...ele! Eu estava com medo de me envolver, mas eu já estava envolvido nisso desde o início! Sem ele, onde eu estaria? Eu ainda estaria aqui? Sodo era meu melhor amigo, meu companheiro e sim, mil vezes sim, meu amor! E se ele se afastasse por não poder corresponder meu sentimento? Como eu compartilharia com ele o mesmo espaço nos ensaios, nos shows, nas rodas de amigos? Como eu iria me encarar sem ele? Ele me era paz, aconchego, brandura, ao mesmo tempo que era força, autoridade, persistência. Eu só queria estar com ele todos os dias, acordar ao seu lado...Ah! Eu nunca havia acordado ao seu lado depois de ter estado entrelaçado com ele a noite toda. Como eu queria amá-lo enquanto a lua reinasse no céu e ver seu sorriso próximo ao meu quando a luz nos acordasse, como eu queria ouvir sua voz suave no meu ouvido, me provocando, fazendo-me arrepiar, brigar com ele por alguma brincadeira idiota. Como eu queria segurar sua mão além das crises, poder bagunçar seus cabelos, abraçá-lo sempre que eu quisesse e eu sempre queria!

Como eu era um covarde! Covarde e Covarde!

E então, o temido som da campainha soou pelos cômodos. Era hora de ser responsável por tudo que eu estava fazendo e queria fazer.

Caminhei vagarosamente para a porta, numa ideia débil de atrasar um pouco o momento e quando a abri, um Sodo de olhar firme estava ali.

E no segundo seguinte, meu rosto entre suas mãos e o beijo mais apaixonado e desesperado que eu já havia recebido.

You will never walk alone- Rain X SodoOnde histórias criam vida. Descubra agora