A Ovelha Negra

O Anjo Vingativo

Não queria ser rude e dar a ele mas motivos para falar das minhas crenças, então tento recusar educadamente.
__ Eu agradeço sua gentileza mas não precisa eu sei o caminho já fiz isso várias vezes, não precisa sair da sua festinha para me dar carona. Retruco, seja qual for o joguinho eu não estava a fim de participar, Gabriel só havia feito duas coisas desde que eu o conheci, me humilhar e zombar de mim.
__ Eu não sei se já percebeu Grace mas aquilo ali não é meu tipo de festa gosto de coisas mas selvagens, com cordas e chicotes. Minha cabeça vira tão rápido em sua direção que dói, ele sorri como se fosse algo normal de se dizer. — agora não seja teimosa é uma hora daqui até sua casa, eu não vou oferecer de novo. Disse em um tom cortante.

Eu não sei quais motivos me fizeram entrar no carro com ele, não sei se minha curiosidade para saber o que tanto me atraía a está perto, ou minha tia me ligando de cinco em cinco segundos, provavelmente os dois.
__ Está com medo Divine Grace? Pergunta de forma  ameaçadora.
__ De você? Porque teria. Minto,
__ Porque talvez eu esteja nessa cidade patética para fazer um ritual, e pra isso preciso de uma virgem inocente e  intocada.
Parecia que realmente estava falando sério. Mordi o lábio inferior ficando extremamente assustada, então ele sorri.
__ É incrível como eu não preciso fazer muito para te assustar, se eu quisesse fazer alguma coisa com você teria feito, então pode  ficar tranquila. Seu tom era cortante.
Por hora resolvi não falar mais nada, Gabriel aumentou o ar condicionado do carro e eu tenho certeza de que fez isso porque meu vestido estava molhado e grudado ao corpo. Percebo o exato momento que seus olhos se demoram nas minhas coxas visivelmente marcadas pelo tecido molhado.

__ Como sabe onde eu moro? Só agora me dei conta de que não passei meu endereço para ele, ele era novo na cidade não tinha como saber a não ser que.
__ Está me seguindo? Acuso, Gabriel nem ao menos moveu um músculo do corpo.
__ Você não é tão interessante assim Divine Grace, eu nasci nessa cidade sei onde todos moram inclusive sua tia louca com uma cruz no jardim.
__ Para de me chamar assim, repreendeu-o.
__ É seu nome. Rebate,
__ Você tem a capacidade de trazer meu pior lado a tona, qual seu problema comigo? só tem me humilhado desde o primeiro momento que me conheceu.

__ Ou talvez eu só trago seu lado verdadeiro à tona, aquele que você esconde por detrás dessas roupas ridículas e dessas tranças de criança, quem é você de verdade Divine Grace? Seus olhos azuis me fitavam com fúria e nesse momento eu percebi que seja o que foi que trouxe Gabriel Salazar de volta a Saint Augustine não era saudades de casa.
Eu queria não me sentir tão afetada por suas palavras, mas ele tinha esse poder sobre mim, era como se soubesse o que falar para me desestabilizar.
__ Porque está aqui Gabriel tá na cara que não gosta dessa cidade parece que não gosta de ninguém a não ser você mesmo.
__ É a primeira coisa certa que diz até agora, você está certa, eu odeio esse lugar e odeio essas pessoas, eu só quero fazer com que todos paguem, Saint Augustine vai queimar com todas as pessoas e suas mentiras nela.
Suas palavras me chocam e se eu não estava com medo antes agora tinha motivos de sobra pra ficar.
__ Não acha que isso é um pensamento muito  narcisista não pode odiar a todos porque uma pessoa fez mau a você. Gabriel apertou os cílios e abriu um sorriso perverso.
__ Não sabe de nada! É apenas mais uma fanática religiosa que só se preocupa com o que os outros pensam de você, está sempre querendo agradar a todos e julgando aqueles como eu que não seguem as regras ridículas dessa cidade.
Seus olhos azuis me atravessaram e os cantos de sua boca se ergueram. Meu coração deu um salto e nessa hora uma sensação horrível e desesperadora me envolveu como se uma sombra tivesse passado por mim. Encarei por um momento abalada, como sabia tanta coisa sobre mim.
__ Viu só, já está me julgando, fazer julgamentos apressados é a sua fraqueza é o pior de todos sempre confia nas pessoas erradas.

Senti um arrepio na nuca e a temperatura no carro pareceu subir, em uma situação normal eu já teria pedido para sair do carro mas não queria que ele pensasse que podia me intimidar.

__  Alguma vez já saiu de casa? Já se masturbou ou fez algo realmente louco. Meu queixo quase caiu, mas me mantive no lugar.
__ Você é a última pessoa a quem eu contaria isso, será se não pode falar como uma pessoa decente ou perguntar algo normal como que faculdade eu quero fazer que músicas eu gosto?
__ Não vou perguntar algo que já está óbvio.
__ Não sabe que músicas eu gosto ou para qual faculdade eu vou.
__ Clássico, barroco, você gosta de controle aposto que canta na igreja e sabe o que mas deve tocar alguma coisa e que tal violoncelo.

Falou com se tivesse adivinhado tudo, estávamos na rua da minha casa, peguei minha bolsa e sai do carro antes mesmo que ele estacionasse.
__ Não precisa ficar com raiva, eu não tenho culpa se não sabe esconder suas emoções, vou dar uma festa hoje à noite na minha casa, é a hora de provar que estou errado Divine Grace. Da partida no carro e acelera.

Antes que eu entre em casa vejo Miguel encostado em um árvore ao lado da minha casa, era só o que me faltava não poderia lidar com ele hoje não depois do que aconteceu com Gabriel.

__ Grace tá tudo bem? Ele te machucou? Pergunta segurando meus braços e inspecionando cada parte do meu corpo.
__ Me solta Miguel ninguém me machucou.
__ Qual seu problema Grace? Primeiro vai para um lugar com aqueles delinquentes, depois pega carona com o filho do diabo, Gabriel Salazar não é confiável não quero você perto dele. Me afasto do seu toque estava cheia de pessoas tentando
me controlar.
__ Miguel não é o que você tá pensando eu não estava com Gus e seus amigos, eu estava sozinha e o Gabriel ele não me fez nada, então por favor me deixe em paz.
Deixo ele no meu jardim e entro em casa, tia Ada me lança um olhar desconfiado.
__ Grace é o Miguel que está lá fora? Porque não deixou ele entrar,  Acusa.
__ Não é ninguém tia, ele já foi embora.