A Ovelha Negra

Consequências

A água me fez recobrar um pouco da consciência, volto para a festa e toda minha animação de agora a pouco tinha se esvaído. Minha cabeça começa a doer com força total e o pensamento de que minha tia poderia descobrir o que eu tinha feito me fez  suar.
Justina me chama segurando mais um copo da bebida doce que havia me oferecido antes que eu recuso veemente, não queria perder o resto da minha sanidade é por isso que o padre sempre ensinou sobre o cuidado com as bebidas.

Depois de procurar minha amiga por vários lugares e não encontrar acabo desistindo, olho meu telefone com apenas dez por cento de bateria e envio uma mensagem de texto para ela. Eu precisava estar em casa antes das cinco que era o horário que minha tia se levantava para fazer suas orações, vejo um grupo de pessoas indo embora o garoto segura a menina pela cintura enquanto ela resmungava por ser arrastada. Era Scott e Janine, não éramos muito próximos mas eles não iriam me negar uma carona.
__ Scott, poderia me dar uma carona não consigo encontrar Sky. Janine rola os olhos ao ouvir o nome da minha amiga, eu sei que elas passaram a festa inteira disputando pela atenção de Nickolas Salazar.
__Claro! Ele diz, mas preciso de ajuda com ela. Aponta para Janine que agora estava sentada na grama. Scott era primo de Janine e até onde eu sei morava junto com os pais dela desde que seus pais morreram em um acidente de carro.
Eu não iria dizer a ele que estava me mantendo de pé apenas pela minha perseverança e medo de ser descoberta. Janine passa os braços pelo meu pescoço enquanto Scott segura sua cintura e tenta manter o peso do corpo dela apenas para ele. Depois de alguns protestos e uma longa caminhada pelo jardim da mansão conseguimos colocar Janine no carro.
__ Não se preocupe, eu não bebi, sei como essas festas funcionam e minha prima não é confiável para voltar sozinha. Sinto um pouco de vergonha porque tenho certeza que ele me viu levemente alterada.
__ Eu estou me sentindo péssima! Confesso decepcionada.
__ Nao se culpe, a primeira vez que fiquei bêbado fui acordado por um morador de rua na porta de casa, os vizinhos chamaram a polícia foi uma loucura. Scott era engraçado, bonito e o melhor, não me julgava pela forma como me comportava igual Miguel.
__ Minha tia seria mais extrema.
__ Sua tia com certeza seria mais assustadora do que o policial. Minha tia já tinha sua fama em Saint Augustine, todos a conheciam como a louca da Cruz que jogava água benta nas crianças que batiam na nossa porta no Halloween, ela havia colocado uma cruz de madeira no nosso jardim para afastar os espíritos maus pelo menos era o que ela me falava quando eu perguntava.
__ Desculpe por isso. Scott foi uma das vítimas da minha tia, ela jogou água benta nele e nos amigos.
__ Tá tudo bem, até que foi divertido. Eu não via onde as loucuras da minha tia eram divertidas, mas sei que todos preferiam ignorar.

Depois de convencer Scott que eu estava bem para entrar em casa penso nas minhas opções, escalar a janela como eu havia feito para ir à festa ou entrar pela porta do fundo. Escolho a opção dois, ainda não estava cem por cento segura das minhas capacidades motoras para tentar dar uma de Peter Parck.
A casa estava silenciosa, passo pela cozinha pego uma jarra de água e uma aspirina e subo para o meu quarto. Para minha sorte minha tia ainda não havia acordado, tomei um banho gelado mesmo, aqui em casa não tínhamos chuveiro quente nos quartos apenas no banheiro de baixo. Depois de tomar o remédio e a água apaguei.

__ Grace Divine abra essa porta ou eu vou derrubar. Eu já havia vomitado tudo que bebi noite passada, meu estômago estava vazio e doendo sem falar do suor que escorria do meu corpo com cheiro de álcool.
__ Tia Ada estou com intoxicação alimentar pode me deixar sozinha um pouco. Grito irritada, se ela entrasse aqui seria o meu fim.
__ Dou a você cinco minutos mocinha, você pensa que eu não sinto o cheiro de suas mentiras de longe. Ameaça. Que ótimo! Minha tia falava que os anjos a comunicavam quando eu fazia alguma coisa errada por isso não adiantava mentir para ela, espero que desse vez os anjos me perdoem.
Saio do banheiro e procuro algo curto e apertado no meu armário, as roupas iriam desviar a atenção da minha tia. Decido por um vestido vermelho de alcinhas que ganhei de Sky, era bem curto e tinha um decote em V que mostrava de mais, faço uma rápida oração a Deus pedindo perdão por ontem a noite e por esta mostrando meu corpo, cubro as olheiras com corretivo e base, deixo meu cabelo molhado para secar por conta e por último coloquei meu velho all star.
Tia Ada estava sentada na mesa da cozinha, sinal bem claro de que algo tinha dado muito errado. Seus olhos me analisavam com completa desaprovação, minha tia até seria uma mulher bonita se não reprovasse de forma tão radical a vaidade, ela sempre estava de coque apertado, saia comprida e blusa social.
__ Quando a irmã Telma me disse que você havia chegado com o filho do demônio aqui eu não acreditei, mas vendo a forma vulgar que anda se vestindo esta doida para abrir as pernas para ele e fazer como sua mãe fez. Mesmo que minha tia tenha me criado desde de pequena, suas palavras cruéis nunca deixaram de me afetar.
__ Eu não estou vulgar, e eu não entendo porque sempre chama as pessoas que vão em desacordo com o que a senhora acredita de filhos do demônio. Ela se levanta furiosa, eu nunca elevei a voz para ela.
__ Sua malcriada, você sabe que só existem os filhos de Deus e os filhos do diabo. Aquele garoto veio justamente para te enganar boba, olha pra você Grace, o que acha que um garoto da cidade rico e rebelde como ele vai querer com uma menina simples da cidade pequena? Suas palavras me acertam como tapa na cara.
__ Se tem alguma dúvida das minhas palavras procure os arquivos da família dele, todos demônios e assassinos.
__ Porque não pode agir como uma pessoa normal pelo menos uma vez na vida? tem ideia do que está falando acusando pessoas que nem conhecem de ser assassinas. Eu mal fechei  a boca e já sinto meu rosto queimar com um tapa que ela acerta.
__ Sua burra, ela já está te influenciando vou ligar para o padre Miguel você vai hoje mesmo fazer a ele uma visita. Seco as lágrimas que escorrem dos meus olhos e saio de casa ignorando seus gritos e protestos, que estava tão cansada das cobranças da minha tia, acusações de que eu seria como a minha mãe, eu odiava ser comparada com uma mulher que nem ao menos conhecia.
Decido na metade do caminho matar aula, eu sabia que pelo jeito que irritei minha tia ela chegaria na escola fazendo o maior escândalo. Paro em frente à biblioteca da cidade, aqui tinha todos os jornais antigos da época se eu quisesse descobrir mais sobre a família Salazar devia começar por aqui.