A Ovelha Negra

Confissões

Gabriel dormiu com a cabeça no meu ombro durante todo percurso até sua casa, sua respiração estava lenta e pesada, meu olho esquerdo ainda latejava e meu vestido vermelho estava sujo de sangue, minha bolsa e meus materiais estavam jogados ao lado de Sky no bando do carona.
__ Ele está vivo? Sky grita por cima do ombro.
__Por Deus Sky, vira essa boca pra lá. A repreendi. Gabriel resmunga alguma coisa ao meu lado mas não abre os olhos pelo contrário, enfia a cabeça na curva do meu pescoço e minha pele se arrepia com a proximidade.  Quando chegamos em frente a mansão Nickolas estava esperando, sua expressão estava irritada, era como se já soubesse o que tinha acontecido.
__ O que ele fez agora? Pergunta abrindo a porta do carro e tirando o corpo mole do irmão.
__ Bom, primeiro acusaram ele de ter colocado sangue de animais no reservatório da cidade segundo, ele entrou em uma briga com o filho do pastor e do prefeito, Grace tentou impedir e levou um soco no olho. Sky conta tudo na maior naturalidade, Nickolas me olha com pena antes de entrar dentro de casa.
__ Você não tem controle mesmo! Digo para ela,
— gente não sabe se é verdade a história do sangue. Ela dá de ombros.
__ Só estou contando o que me foi repassado. Segue os irmãos para dentro de casa como se nada tivesse acontecido. Nickolas joga o corpo do irmão de qualquer jeito em cima do sofá, isso faz com que Gabriel acorde com grunhido de dor.
__ Porra Nick qual se problema? Retruca irritado. 
__ Então você não está tão mau assim irmão, deviam ter batido mais forte nessa sua cabeça de vento, desse jeito ia aprender a ficar longe de confusão. E você. Aponta para mim, é bom cuidar desse olho está horrível. Ele sai por alguns momentos e volta com uma bolsa de gelo.
__ Obrigado, Agradeço me jogando em uma poltrona. A casa deles era tão bonita por dentro quanto por fora, os móveis eram todos rústicos e organizados dando a casa um ar de realeza.
__ Vocês podem ficar com ele enquanto vou à farmácia comprar alguns analgésicos? Olho para Sky em busca de confirmação, ela logo entrega a chave do carro a ele e o segue. 
__ Onde você vai? Pergunto segurando seu braço.
__ Ele precisa de ajuda, você sabe como os homens são, não sabem comprar nada direito.  Tento não pensa nas suas segundas intenções e fecho os olhos, a bolsa de gelo alivia um pouco da dor.
__ Você é mesmo uma louca, não devia entrar no meio de uma briga, eu dava conta. Abro um dos olhos e vejo que ele não estava mais deitado, estava sentado me olhando daquela forma intimidadora.
__ Pelo seu estado eu tenho certeza que dava conta. Ironizo, um dos cantos de sua boca se levanta dando a ideia de um sorriso.
__ Eu precisava defender minha honra. Diz irônico.
__ Você tem mesmo alguma coisa a ver com a água da cidade? Sua expressão relaxada muda, me olha com irritação.
__ Não que seja da sua conta mas não, eu também não ligo se você acreditar no seu namoradinho e não em mim. Tiro a bolsa de gelo do meu olho e o encaro irritada.
__ Miguel não é meu namorado, e eu não entendo porque sempre me ofende e me trata mal o que eu fiz a você Gabriel, você fala de mim mas não sou eu que tem problemas em confiar é você. Pego minha bolsa e me levanto para sair quando ele fala;
__ Me desculpa, eu sou um idiota, é isso que faço eu afasto as pessoas de mim Grace, e por mais que eu odeie essa cidade eu não consigo odiar você é isso me irrita. Você é uma praga, sempre está na minha mente. Confessa, suas palavras me fazem parar, seu rosto estava sujo de sangue dando a ele uma expressão sombria. Vou à cozinha e pego uma flanela molhada e me sento ao seu lado, ele não diz nada enquanto limpo o sangue seco na sua boca e nariz, sinto seus olhos em mim mas não me atrevo a olhar de volta.
__ Eu li sobre seu pai, é por isso que está aqui? para provar alguma coisa? Não olho para ele, sinto sua postura ficar mais rígida e um longo silêncio se estende sobre nós.
__ Tem coisas que você não deve saber Grace, para o seu bem e sua segurança não se envolva com isso. Seus olhos azuis me fitavam com rancor, eu queria entender ele, queria saber o que ele estava procurando e o mais importante uma parte boba de mim queria ajudá-lo a provar a todos que ele não era tão ruim quanto diziam. __Porque depois de tudo que falaram você continua aqui Grace? 
__ Por que eu sei como é ser julgada por algo que seus pais fizeram. Sua postura rígida começa a se dissipar.
__ Minha mãe foi para Nova Jersey com quinze anos, com dezessete me deixou na porta da casa da minha tia com nada mais que um bilhete e cem dólares. Eu não costumava falar sobre meu passado com muitas pessoas, apenas Sky sabia.
__ Eu sinto muito, diz, sincero.
__ Oque aconteceu com seu pai? Essa pergunta estava martelando na minha mente desde o momento que li os jornais. Por um momento penso que não vai responder, então fala;
__ Depois que fomos embora ele voltou aqui para buscar alguns papéis, foi a última vez que o vimos, uma parte do que me trouxe aqui é saber o que realmente aconteceu com ele. Seus olhos estavam desesperados e eu queria abraçá-lo.
__ Já falou com o padre Ângelo? A menção desse nome faz o ódio brilhar em seus olhos.
__ Não devia acreditar em tudo que falam aqui Grace. Gabriel tira uma mecha do meu cabelo e põe atrás da minha orelha, essa era a primeira vez que estávamos tendo uma conversa decente desde nosso último encontro.
__ O que está fazendo? Pergunto quando ele fica mais próximo, seus olhos azuis intensos e cheios de desejo me prendem e eu não consigo desviar o olhar então ele me beija, um beijo lento e cheio de emoções, fecho os olhos esperando por mas contato  quando ouço vozes. 
__ Eu disse que eles estavam bem. Quase caio do sofá quando vejo Nickolas e Sky, me afasto com o rosto vermelho de vergonha, Gabriel continua me olhando de forma intensa, minha mente ainda estava tentando processar tudo que tinha acabado de acontecer.