Antonella Bittencourt
MESES ANTES
O que você faria se estivesse com o seu e o futuro da sua filha em mãos? Claro que, quando o seu bebê nasce, ele se torna uma parte sua, algo seu, que você tem que cuidar, mas, a situação que eu estava era totalmente diferente, eu estava dividida entre a morte e a justiça.
Respirei fundo, limpando a lagrima que havia escorrido e peguei uma caneta, seguida de uma folha lisa branca, começando a dizer ali tudo o que eu nunca tive coragem, por acreditar que ele não seria capaz de cometer tal ato.
Querida Jhu.
Eu não sei com quantos anos você está lendo essa carta, muito menos onde você está, se estamos juntas ou separadas, mas, a única coisa que eu tenho certeza é que independentemente de onde eu esteja, eu sempre estarei aqui por você, minha filha, por você. Quando eu engravidei, eu vi meu mundo desabar, seu pai sempre foi o galinha da turma, e como em contos clichês, eu fui à nerd que cai em seu papo em uma noite, a qual fez com que você esteja hoje aqui. Eu era tão, mas, tão nova, que pensei até em abortar, peço desculpas por tal pensamento ter passado em minha cabeça, mas, imagine uma garota de dezesseis anos, grávida do maior pegador do colégio, com o pai e mãe de famílias tradicionais e com tendências antigas. Foi o maior sufoco, foi o maior perrengue, mas, eu não me arrependo de nada. Não me arrependo um segundo se quer de ter lutado até o fim por você. Você é a filha que eu sempre pedi a Deus, educada, gentil, doce, inteligente, e eu queria ter certeza que estaria aqui para ver os meus netos, seus filhos, crescerem e se tornarem mini peças de você, assim como você se tornou minha...
Suspirei limpando as lagrimas que começavam a cair, enquanto me preparava para escrever a parte da carta que mais me doía... Há alguns dias descobri algo que me deixou horrível, me deixou com medo, medo por você, medo por nós. Se algo acontecer comigo, tenho certeza que essa carta, uma hora e outra chegará em suas mãos, mas, quero antes de contar tudo, dizer que, seu pai te ama, você deve estar rindo por isso parecer mentira, mas, não. Ele te ama, mas o dinheiro e o poder o cegou, sua tia, e todo o resto da sua família sempre foram assim. Sedentos por mais, por ter tudo, por ter o controle. Debbie é a mais louca de todas, uma psicopata, que junto com um bando de loucos fizeram a cabeça do seu pai contra nós. Peço-lhe perdão por não ter tido a chance e nem a coragem para os entregar, mas saiba que, eu fiz o que pude para que nada disso ocorresse, eu te amo tanto, minha querida. Por favor, eu lhe imploro, suma da vida dessas pessoas, suma da vida de toda essa gente, porque eles não vão cansar até te terem morta, assim como provavelmente eu vou estar. Não deixe ter o mesmo fim que eu. Não lhe peço que vá atrás de vingança, e sim atrás de um novo futuro, onde você possa viver em paz.
Suspirei sentindo meu pulso doer, porém, continuei escrevendo as ultimas linhas.
Eu te amo, Jhulie, você é a minha vida!
Perdoe-me.
Antonella.
Escutei o barulho da porta de casa e virei meu corpo rapidamente em direção a porta fechada do meu quarto, assim que escutei os passos na escada, corri até meu closet, abrindo a última gaveta que havia ali e enfiando a carta no recipiente em que apenas a Dra. Azalea sabia onde estaria.
Escutei o barulho de uma porta abrindo-se, e fechando-se em seguida. Mas não era no meu quarto, e sim no quarto... no quarto de Jhulie.
Apressei meus passos, eles não iriam tocar na minha filha.
Assim que estava prestes a abrir a porta do quarto, senti uma mão tapar minha boca e antes que eu esperneasse, eu já estava sendo levada a força para o andar de baixo. Eu tentei de tudo, me agarrar às paredes, chutar, gritar. Mas eu estava sendo impedida, dois brutamontes me seguravam com força e eu sentia as lágrimas pesadas descerem pelo meu rosto, fui jogada com força no chão e assim que abri minha boca para gritar, senti uma forte queimação em meu peito. E com uma mão coberta de luva tapando minha boca, deixei que apenas uma última lágrima caísse, que implorava para que protegesse a minha filha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cell 23
RomanceSua cabeça estava baixa enquanto o juiz decretava a sua sentença. Seu olhar brilhava de inocência, suas mãos tremiam em seu colo enquanto pagava por um crime que não cometeu. Um delegado preso aos encantos de uma presidiária. Um homem com seus valor...