Hell under new direction

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- Você tem certeza? É assim mesmo? - O lobisomem me questionou impaciente.

- Sim! - Respondi.

- Agora fique em silêncio, eu vou tentar recitar esse feitiço.

- Ele está em latim. Você sabe? - Ele me perguntou, erguendo uma sobrancelha em sinal de sarcasmo.

- Sei ler. - Respondi seca. Uma das famílias que me adotaram há anos deixavam livros de linguagens mortas em todos os cômodos da casa, já que trabalhavam como arqueólogos e sempre faziam escavações e traziam os objetos para averiguar em casa e tentar traduzi-los. - Posso?

Ryan assentiu, mesmo com um pouco de relutância. Apontei minha cabeça com o intuito de pedir para ele se afastar e assim o fez. Coloquei o fio de cabelo na chama da vela, fazendo aquele fedor de cabelo queimado começar e pus minhas mãos acima da mesa e recitei o feitiço lentamente.

- Colores amoris, tactu passionis. - A chama da vela começou a se erguer mais com as primeiras palavras, assim como dizia no livro, então continuei. - Inveniet animam mate et revelare ad me locus, ut post eam possumus ire. - Minhas mãos formigaram e uma pequena névoa de fumaça saiu delas e rodeou o mapa. - Ut post eam possumus ire. - A fumaça começou a rodopiar em sentido horário ao redor da mesa, até ser absorvida pela chama da vela, fazendo o fogo adquirir uma coloração violeta.

Aquela chama cresceu e consumiu a vela por completo, logo em seguida os ingredientes. O fogo pulou para o mapa e começou a caminhar pelo papel. Quando eu e Ryan nos aproximamos, o fogo violeta se alastrou e consumiu o mapa. Ryan pôs seu braço na frente do meu corpo, como se quisesse me proteger. Às labaredas começaram a rodopiar até que saltaram da mesa e voaram até o lobisomem. Tentei usar meus poderes e travei o fogo no ar, mas ele estava crescendo e sua coloração estava escurecendo, como se isso deixasse ele mais forte.

- Saia daqui! - Gritei para Ryan. O lobisomem me puxou, mas isso me fez perder à concentração, o que ocasionou no fogo que estava parado no ar vim na minha direção. Ergui meu braço para o alto e tentei manipular o fogo, mas, era como se tivesse vida própria.

Aquela chama violeta rodeou meu corpo e meu braço e queimou meu pulso, retirando um grito de dor que secou todo o ar de meus pulmões. Quando o fogo desapareceu, eu caí, gemendo de dor. Ryan, que assistiu o fogo me queimando se ajoelhou e me rodeou com seus braços e depositou-me em cima da cama.

Minha visão estava embaçada, meu corpo estava mole, minhas pernas bambas e meu braço doía. O lobisomem havia ido até a janela e gritou pela mãe que se materializou no quarto, junto de todos os outros que estavam com eles no jardim. Lembro-me de Gisele ao lado do pai, abraçada a ele e encarando meu braço que estava em carne viva e cheio de bolhas. Não sei quando, nem mesmo como, mas, na medida que aquela dor diminuía, o meu sono chegava, até que, eu apaguei.

Não sabia que horas eram, muito menos onde eu estava. Eu estava perdida, dentro de uma floresta escura, com diversos olhos roxos me encarando. Onde eu estou?

Caminhei descalça pelos galhos secos e a terra mórbida do local. Era complicado andar com os galhos repuxando o tecido do vestido de cetim branco que eu usava. Havia algo me perseguindo, ouvia patas e rosnados que me fizeram correr por dentro da floresta, tendo minha pele rasgada pelos espinhos. Ao longe, vi uma cabana, com a luz saindo pela janela e fumaça saindo da chaminé. Os rosnados e o barulho de passos havia passado, apenas o vento frio batia sobre minha pele, à luz da lua iluminava meu caminho.

Andei calmamente até o chalé e bati à porta, que se abriu sozinha e me deu à vista de uma pequena sala, onde havia uma mulher sentada na poltrona, próxima à lareira.

Uma bruxa No Mundo Real - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora