Boulevard Hills

116 6 1
                                    

 24 de outubro de 1981, Los Angeles, Califórnia.

Rose Jones

 Comecei a tocar aqui no Rainbow Bar & Grill todas as sextas tristes desde agosto. Cada dia é mais solitário que o outro, parece que sou invisível aqui. Odeio esse lugar. Os funcionários são rudes e ignorantes, e os clientes, piores ainda. Uma dia distante vem a minha mente, quando uma mulher reclamou com os funcionários do RB&G que tinha que pagar 1 Dólar a mais pela minha música "ruim". Não apareci lá na sexta seguinte. 

 O movimento de hoje foi o mesmo de sempre. Eu estava cantando minhas músicas ruins e recebendo 10 dólares por isso. Era uma situação... deprimente.

 Um grupo de meninas entra fazendo barulho pela porta. Reconheço uma, Charlotte Graysen, uma ex-colega da banda da escola. Não a vejo a anos, Terminei as aulas no reformatório, nunca precisei voltar naquela escola. A cada dia mais loira e mais magra. O barulho que as 4 fazem é alto, a ponto de eu ter que parar de cantar por não escutar minha própria voz. Claro que estão sob efeito de algo. Elas se sentam perto do palco, ficando de frente para mim. Me sinto desconfortável, todas elas me encarando com aqueles olhos perfeitamente contornados com um delineado que eu passaria horas tentando fazer me dá aflição.

- CANTA ALGUMA COISA, ROSE JONES! - Charlotte grita para mim em tom de ansiedade. 

Não entendi bem o que estava acontecendo. Só sei que obedeci. Não é muito o meu estilo obedecer e nem ficar com medo de mulheres perfeitamente perfeitas. Deve ser efeito da minha Heineken. (Contei que não esperei nem um mês fora do reformatória para voltar a beber e cheirar?) 

 Peguei minha guitarra e ajustei as cordas para minha ultima composição recente: Yayo. Escrevi no banho esses dias. Tomara que minhas 4 fãs gostem. 

"I like the snake on your tattoo
I like the Ivy and the
Ink blue, yayo, yeah you, yayoYou have to take me right now
From this dark trailer park
Life now, yayo, how now, yayoPut me onto your black motorcycle
Fifties baby doll dress for my 'I do"
It only takes two hours to Nevada
I wear your sparkle
You call me your mamaLet me put on a show for you daddy
Let me put on a show
Let me put on a show for you tiger,
Let me put on a showI need you like
A baby when I hold you
Like a drug
Like I told youYayo, yes you, yayoPut me onto your black motorcycle
Fifties baby doll dress for my 'I do"
It only takes two hours to Nevada
I wear your sparkle
You call me your mamaLet me put on a show for you daddy
Let me put on a show
Let me put on a show for you tiger
Let me put on a showHello Heaven
You are a tunnel lined with yellow lights
On a dark night (Dark night)Yayo, yes you, yayoPut me onto your black motorcycle
Fifties baby doll dress for my 'I do"
It only takes two hours to Nevada
I wear your sparkle
You call me your mamaLet me put on a show for you daddy
Let me put on a show
Let me put on a show for you tiger
Let me put on a show"

 Terminei de cantar e bebi agua antes de olhar no rosto delas. Assim que olhei em seus rostos pude notar varias expreções diferentes. Analise, vindo da morena alta e magra. Micro felicidade, vindo de uma loira de olhos castanhos com 140 de altura. Convencimento, no rosto de Charlotte e desaprovação no rosto de outra loira alta e magra. elas se viram umas para as outras e começam a alternar entre cochichar e me encarar

 Depois desse desastre, ou sei lá como chamar isso, pedi licença na microfone e fui ao banheiro com passos rápidos e decididos. não quero ser seguida, mas escuto o barulho do sofá onde estão sentadas.

Entro logo no banheiro e vou direto a pia para lavar o rosto, nesse momento percebi o quão cansada eu estava e o como a minha rotina era horrível. Fui tirada dos meus pensamentos quando a porta do banheiro feminino abriu.

- Oi Rose! - entra Charlotte, com sua voz irritante e finíssima. - Tenho uma proposta para você. - ela sempre foi muito direta.

Não a via desde que deixei a escola para ir ao reformatório. Ela não mudou, continua com o mesmo estilo de roupas coloridas e curtas de sempre. Nesse momento ela está usando um óculos escuro (a noite) e uma saia mid rosa que mostra quase toda a região da barriga, também graças a sua blusinha azul quase transparente. Os homens sempre gostavam mais dela por causa de suas roupas, e com razão, ela é linda.

- Oi Charlotte, quanto tempo não é? Senti sua falta. - minto.

Vou devagar em direção a ela para um aperto de mãos. Porém desisto do ato quando ela atropela minhas ações com palavras.

- Então amiga, essas são Laura Becker, Alina Robert e essa é a Daniella Hills. São minhas amigas da faculdade. - ela aponta para cada uma delas. Sinceramente acho todas iguais. O estilo, o corte de cabelo. Tudo estranhamente parecendo como se quisessem parecer o que não são.

Laura Becker é alta e loira, mas um loiro que, vendo de perto agora, foi muito mal pintado, claramente o cabelo dela era castanho. Estava usando um vestido preto simples que escondia o corpo e botas cano médio altas para caramba. Ela é baixinha, dá para perceber, essas botas deixaram ela estranha. Ela me olha com emoção. Como se eu fosse algo importante.

Alina Robert é morena com a pele pálida. Eu a reconheço da escola, ela era líder de torcida. Nunca conversei com ela e nem sei como ainda lembro dela, mas é difícil esquece-la graças ao seu jeito gracioso de chamar atenção.

Daniella Hills é a típica garota californiana. Eu não precisaria falar mais nada, mas é impossível não comentar sobre seu mini short azul claro e suas botas de cowboy de couro. Ela me olha com um ar de desconfiança. Eu ignoro. 

- Oi. - digo com um aceno para todas. - Prazer em conhecer. - Só tenho paciência para dizer isso, estou cansada e triste.

- Enfim, temos uma banda, Boulevard Hills. - ela fez uma pausa. - Estamos precisando de uma guitarrista.

Eu entendi o que ela queira dizer, queria que eu tocasse. Meu negócio sempre foi mais cantar do que tocar, mas acho que isso não vai acontecer nessa banda. Não sei como negar. Eu queria uma banda, queria mesmo, mas queria cantar e não tocar.

- E já encontraram alguém? - me diz de desentendida. É o melhor nessa situação.

- Enfim... Queria saber se você está interessada em tocar com a gente. - Charlotte fala com um ar de desespero. Até agora nenhuma das outras disse uma palavra.

Respirei fundo e comecei a elaborar um discurso de "não e tudo de bom para vocês" na minha mente. Charlotte vai insistir, sei que vai, e não tenho paciência agora. Quero ser curta e grossa mais minha educação não deixa.

- Então Charlotte, estou muito ocupada com algumas coisas, sabe? - fiz uns gestos confusos com as mãos para distrair os olhos sobre mim. - Eu agradeço pelo pedido, mas, não vou poder, sinto muito.

Eu não tinha nada na vida. Depois do reformatório, voltei em casa, peguei dinheiro do meu pai e fui embora. Uns 1000 dólares, ele não deve fazer falta. Peguei um apartamento na Sunset por 100 dólares por mês e é assim que estou vivendo a 2 anos. Consigo dinheiro pela música. Cantando em qualquer beco que me aceite.

- Olha, Rose. Por favor, pense e me ligue. - ela pegou um papel com o telefone dela. - Por favor, pense com carinho. - ela foi se distanciando e saindo do banheiro junto com as outras.

Ouvi a porta bater e fiquei lá sozinho com o papel. Eu não ia ligar.

Senhoras e Senhores... Rose Jones.Onde histórias criam vida. Descubra agora