Assinando contratos

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9 de Agosto de 1982, 14:32 da tarde. Elektra Records, California

Uma semana depois da minha primeira vez na Elektra Records eu já tinha feito vários amigos. Eu estava me sentindo uma criança no primeiro dia de aula.

Saímos da mesa onde estavam os meninos e fomos para uma sala reservada. Um escritório lindo, alto e com vista para a praia. Grande demais. Na sala tinha um janelão com uma mesa no centro mais a frente, todo trabalho na madeira preta e marrom, com detalhes em branco. Nas paredes tinham prêmios e discos de ouro.

- É seu primeiro contrato de verdade? - me lembro dele perguntar algo assim.

- Não, Harry era produtor. Ele me fez assinar um contrato com a gravadora dele. - lembro de ter respondido algo assim.

Ele pegou uns papeis e leu para mim, enquanto me ensinava lições sobre como nunca se deve assinar nada sem ler. Combinamos de dividir os valores em 40% para mim e 60% para a gravadora. Achei justo na época.

- Então, Jones. Já tem um álbum? Sabe para lançar a música precisa de um, né?

- Já tenho sim. Não está comigo agora, mas eu...

- Ótimo, amanhã você traz. Está morando com o Adler, não? - pensei antes de responder isso, afinal não tinha nada certo.

- Mais ou menos.

Ficamos conversando mais algumas sobre o contrato aquele dia, sinceramente eu não me lembro da conversa, eu tinha bebido antes disso. Assinei alguns papéis com uma assinatura que inventei na hora. O contrato terminou 1 hora depois disso, a entrevista toda foi sobre burocracias e coisas que eu já sabia, no final, fizemos um acordo onde eu deveria entregar um novo álbum até o final do mês, e foi o que fiz.

Saí da sala naquela tarde me sentindo uma outra pessoa. Quando saí, uma mulher me levou até o refeitório da Elektra, onde ela me disse que Steven tinha pedido para separar uma mesa para mim. Aquele refeitório era enorme, como o refeitório de uma escola, ficava ao ar livre da empresa. Tinham várias bandas lá, era como um sonho.

Eu estava andando até a mesa dos meninos, eu acho, eu não me lembro muito dessa tarde, e vi o vocalista de uma banda famosa na minha frente, ele estava sentado de modo relaxado. Não consigo me lembrar do nome da banda ele nem dele.

- Oi, gostei da música. - ele falou comigo quando passei perto, parei meio desnorteado. Ele me olhou, quando olhei de volta, ele desviou o olhar para o horizonte verde da gravadora.

- Obrigada, eu gosto das suas músicas também. - não me lembro de quase nada que ele canta, nesse momento um lembrete de nunca mais ir na Elektra alcoolizada.

Ele me encarava fundo nesse dia, faz tempo, mas eu nunca consegui esquecer a intensidade dos seus olhos azuis nos meus. Seus cabelos eram loiros curtos até o ombro, me lembro de achar isso incrível na hora por quebrar os padrões masculinos de rock.

- Achei bem... boa, sua letra, sabe? bem legal. - ele estava se enrolando nas suas falas, era tão fofo e engraçado, mas meio inesperado para ele.

- Qual seu nome mesmo? - a pergunta o deixou meio desprevenido, o que me deixou muito envergonhada. Ele me olhou confuso e depois com um olhar intrigado. Ele sorriu sutilmente, o que me deixou mais tranquila.

- Kurt... Cobain. Vocalista do Nirvana. - ele estendeu a mão, meio tímido, mas confiante.

- Rose... Jones. - eu disse, imitando o jeito dele de falar. - Vocalista de nenhuma banda. - eu levei minha mão na direção da dele e apertei. Sua mão era grande e com dedos longos, e com alguns calos, provavelmente causados pela guitarra dele.

Senhoras e Senhores... Rose Jones.Onde histórias criam vida. Descubra agora