Simone Tebet
Eu estava concentrada em ler e assinar alguns papéis que minha assistente deixou sobre minha mesa. Levei as mãos as têmporas e as massageei para dissipar a fina dor de cabeça que se aproximava. Voltei a caneta para a linha reta da folha e escrevi mais uma vez meu nome ali, até que a porta é aberta abruptamente e uma voz firme e suave se fez escutada:
- Não. Eu não quero, Tebet.
Ouvi seus passos andando de um lado a outro e dei um sorriso de lado sem olhá-la ainda.
- Eu nem sei por que você cogitou meu nome, você sabe como é difícil suportar tudo o que suporto aqui dentro. E agora você quer que eu assuma isso? Não!
- Por que não? -Finalmente levantei a cabeça para olhá-la e aproveitei para me recostar na cadeira macia que eu me sentava e analisá-la.
Sua saia preta apertada até um pouco abaixo do joelho, uma fenda minimalista do lado, a blusa branca de botões com algumas casinhas abertas mostrava sutilmente um decote e o sutiã preto que ela usava, o salto altíssimo em seus pés, brancos para combinar com a blusa, os cabelos perfeitamente escovados, mas que já se tornavam desgrenhados pelas suas mãos inquietas que por muitas vezes iam até eles para mexê-los. Nervosa. Os olhos piscando mil vezes por segundo, as mãos inquietas passando pela roupa, que deixava seu corpo belíssimo muito bem desenhado, andava de um lado a outro impaciente e gesticulando.
- Porque não estou pronta.
- Eu preparei você, então está pronta sim. Eu quero você como minha vice, Soraya Thronicke, e não aceito um não.
- César estava lá durante a ligação e ele disse que eu arruinaria com sua candidatura.
Sempre aquele idiota querendo a pôr para baixo, pensei comigo mesma. Quando Soraya se divorciaria dele? Não entendo. Minha aluna mais brilhante, que me enxia de orgulho, se submetendo a esse tipo de situação.
- Você irá acreditar em seu marido que não vale o pão que come ou na sua excelentíssima professora? -Perguntei com um sorriso de lado.
Soraya virou-se para mim com aqueles olhos claros tão lindos e profundos.
- Eu não consigo, Simone. É demais pra mim, mal estou suportando a CPI, como diacho aguentarei a pressão de uma presidência?
Levantei-me e fui até ela segurando em suas mãos suadas, tentando passar alguma confiança a ela.
- Porque não vejo ninguém ao meu lado para governar esse país se não você. Eu te preparei para isso... você é a mulher mais honrada, responsável, comprometida e perseverante que conheço. Não me faça implorar mais que isso, Thronicke! -Falei e a lancei um olhar marejado e um bico sutil.
Soraya nunca disse não a esse meu olhar, desde o dia que interagimos pela primeira vez na faculdade.
Flashback on
Eu não estava nada bem naquela manhã. Uma cólica horrível, um mal-estar sem procedência e havia tido mais uma briga com Eduardo. Fui para a UNAES arrastada. Entrei na sala de aula mal me sustentando nos próprios pés e com um humor péssimo e a vítima das minhas implicâncias da vez era ela... Soraya Thronicke. Ela tinha algo diferente dos outros, ela tinha potencial. Mas preferia fazer a simpática com todos, perdia tempo com amizades fúteis e em namoricos que a tiravam do foco do que realmente era necessário.
- Refaça, isso está horrível! -Falei rude para a loira.
Soraya piscava muito e suas mãos tremiam, não sei se de medo ou raiva.
- A senhora passou esse trabalho somente para mim, passei a noite fazendo ele, simplesmente por causa de uma vírgula errada que pus no artigo de ontem. Por que você implica tanto comigo? -Perguntou com os olhos marejados- Sou a melhor aluna da classe e mereço mais consideração.
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Minha protegida
RomanceSimone Tebet faz uma proposta para sua ex-aluna e agora colega de Senado, Soraya Thronicke. A loira recusa de imediato, mas a senadora morena é muito envolvente e a mulher acaba aceitando. O desafio da vez é a concorrência à presidência da República...