Minha protegida

Um dia você vem com a rosa, já no outro...

Soraya Thronicke

Abri os olhos lentamente. Senti meu corpo pesado e dolorido, mas estava entorpecida demais para sentir alguma coisa. A primeira coisa que minha visão, mesmo embaçada, me deixou ver foram o formato alvo de um rosto com cabelos negros revoltos ao redor. Simone Tebet.

- Tebet? -Chamei baixinho.

- Graças a Deus você acordou! -Ela exclamou aliviada e tomou uma de minhas mãos entre as suas.

- O que aconteceu? -Perguntei e fechei os olhos novamente. Me sentia tão cansada, fraca e sonolenta.

- Qual a última coisa que você lembra? -Me perguntou preocupada.

Senti ela se sentando no colchão da cama e tirando alguns fios de cabelo do meu rosto.

- Não sei direito... acho que a mão de César me fazendo tomar remédios... não sei bem!

Me forcei a abrir os olhos novamente e logo uma enxurrada de lembranças vieram em minha mente. Meus gritos pedindo para meu esposo me soltar, a dor das cintadas que eu levava, suas lágrimas em meus ombros me pedindo mil perdões depois de me deixar completamente machucada em cima da cama, seus braços me levando ao banho e me ajudando no chuveiro, meus gemidos de dor, minhas lágrimas me deixando completamente fraca. Lembro de ficar completamente sem ar durante uma crise e dele cuidando de mim depois de ter a causado, seu cuidado em me medicar, me aninhar em seu peito e cantar para mim até eu dormir.

- Lembra de ter vomitado? -Simone me perguntou e balancei a cabeça negativamente ou a menos acho que balancei.

- Você não foi ao trabalho e fui atrás de você, pois César me deu as chaves e pediu para ir até a casa de vocês. Te encontrei completamente apagada na cama, te acordei e você começou a passar mal, teve início de uma overdose pela quantidade de remédios que ele te deu. O que aconteceu, Soraya? -Me perguntou apertando minha mão.

- Ele me machucou, porque não quis mudar de ideia em relação ao Farias. -Murmurei sentindo meus olhos queimarem em lágrimas.

Simone ficou calada, talvez pensando em cada palavra que me diria. Senti meus olhos fechando-se novamente e estava quase pegando no sono quando ouvi a porta ser aberta e logo a voz de Maria Fernanda preencheu a sala.

- Ela acordou?

- Sim, mas já está quase dormindo novamente. -Simone respondeu.

- Ele está aí fora, está fazendo um escândalo.

Senti meus pelos arrepiarem, pois sabia exatamente quem era ele que elas falavam. Abri meus olhos e apertei suavemente a mão de Tebet, que ainda segurava a minha.

- Não... -murmurei e tive a atenção das duas- não o quero ver agora, por favor...

- Não vai. -Simone disse firme- Ele não chegará perto de você nunca mais nessa vida.

- E nem em outras. -Fernanda completou e veio até mim e me deu um beijo na testa.

- ME DEIXE PASSAR AGORA MESMO. É A MINHA ESPOSA, PORRA! -Ouvi gritos vindo de fora do quarto e me encolhi de medo.

- Vou resolver isso. -Simone afirmou pondo-se em pé.

- Simone, não... -Balbuciei baixinho, pois estava completamente sem forças.

- Não o deixe entrar aqui. -Maria falou a mãe. Acho que elas não me ouviram.

- Fique com ela, Nanda, volto logo.

- Simone...

Ela veio até mim e apertou minha mão, encarei-a preocupada. Nunca me perdoaria se César a machucasse.