"Não sei dizer o que mudou, mas nada está igual numa noite estranha a gente se estranha e fica mal"
Simone Tebet
Meu olhar estava perdido no teto, meu coração estava disparado e minhas mãos tremiam, a boca seca, o ar rarefeito e minha cama nunca pareceu tão dura. Soraya iria me beijar? Quando voltei da cozinha e não a vi, quase morri de preocupação. Eu sei que ela só fez aquilo por estar perturbada e a responsabilidade seria toda minha, Sol está vulnerável e fragilizada demais com tudo isso.
Mas... ela que ficou me olhando daquele jeito, que me chamou de linda (Soraya é a única pessoa que realmente faz eu me sentir linda, porque todas nós sabemos que não sou, mas ela acha e ... faz eu achar também, as vezes), ela que se aproximou. Mas eu sou a cabeça, eu que estou no controle da situação, ao menos acho que estou!
- Oh Deus! -Murmurei passando as mãos no rosto.
Virei-me para olhá-la. Ela dormia profundamente, estava exausta e fraca de tanto que vomitou.
- O que você está fazendo comigo? -Sussurrei e tirei alguns fios de cabelos de seu rosto- Quando você passou a significar outra coisa pra mim? Por que parece ter borboletas em meu estômago quando escuto sua voz ou te abraço?
Não sei dizer o que mudou ou quando, mas sei que é assustador. Ela é casada, ela é minha ex-aluna, minha colega de trabalho, minha amiga. Eu não posso me apaixonar por Soraya Thronicke, não é certo. Ela ainda ama o esposo, ainda é casada, está machucada e precisando de ajuda e não de alguém querendo... minha respiração ficou pesada. Querendo o quê? Beijá-la, fazê-la minha... minha o quê? Deus!
Levantei-me e comecei a andar em círculos, meus olhos grudados em uma Soraya adormecida, lindamente adormecida. Entrarei em uma disputa para a presidência e a última coisa que preciso é me envolver em uma polêmica, ainda mais ter um caso com a minha vice. E ela quer? Ela aceitaria? Por que estou surtando com isso? É errado de tantas formas. Eu fui casada com um homem e tirando alguns casinhos que tive, por exclusivamente curiosidade, com algumas mulheres, nunca passou de uma noite.
Eu queria somente uma noite com Soraya? Não, não posso pensar isso! Soraya não é mulher de uma noite só. Ela é linda, isso eu jamais neguei, mas é minha amiga!Saí do quarto e fui até meu lugarzinho com a imagem da virgem Maria, acendi uma vela, pus meus joelhos no chão e deixei meu coração transbordar no mais sincero e desesperado pedido que já fiz em minha vida:
- Tire Soraya Thronicke de minha cabeça e do meu coração, minha Virgem!
Depois de proferir mais alguns argumentos de porque a Rainha do Céu precisava me ajudar, fiz uma “Ave Maria” e voltei para a minha cama e embalada pelo cheiro de Soraya, acabei finalmente, dormindo.
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Abri os olhos graças a claridade que entrava pela minha cortina. Praguejei todos os santos possíveis, como esqueço essa porcaria aberta? Levantei-me resmungando e fui me erguer. Olhei ao redor e não vi a loira que tinha dormido comigo. Será que ela havia ido embora? Suspirei cansada, eu espero realmente que não. Detestaria ter de ir ao velório de uma amiga.
Fui ao banheiro tomar um banho e fazer minha higiene matinal, não pude deixar de pensar no que poderia ter acontecido entre aquelas paredes se Maria Fernanda não tivesse chegado. Precisava conversar com Soraya, não poderia deixar que aquilo interferisse na nossa amizade!
Estava descendo as escadas quando ouvi um fungado, me apressei em chegar lá embaixo e vi Fernanda agarrada em Soraya, minha filha chorava e a loira falava alguma coisa em seu ouvido.
- O que houve? -Perguntei extremamente preocupada quando as vi.
Soraya engoliu em seco, os olhos marejados.

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Minha protegida
RomansaSimone Tebet faz uma proposta para sua ex-aluna e agora colega de Senado, Soraya Thronicke. A loira recusa de imediato, mas a senadora morena é muito envolvente e a mulher acaba aceitando. O desafio da vez é a concorrência à presidência da República...