Simone Tebet
A minha psicóloga Daniella Satte me ligou avisando que já estava a caminho. Me apressei em ir ao banheiro e lavei o rosto, olhei-me no espelho e meus olhos estavam inchados e o nariz vermelho, péssima me definia. Suspirei resignada e pus uma maquiagem leve para disfarçar a cara de choro.
Depois de me recompor um pouco, fui até o quarto acordar Thronicke. Apesar do que aconteceu, fico feliz que ela tenha dormido um pouco e que Fernanda não está em casa para se revoltar com o que houve e gritar aos quatro ventos que devo enfiar César em um foguete só de ida para a puta que pariu.
Olhei a hora em meu relógio de pulso e marcava 19:30. Entrei no quarto e estava na penumbra por causa da luz fraca do banheiro, sentei-me na ponta da cama e fiquei olhando aquela mulher tão apreciada por mim, minha aluna mais brilhante, meu maior orgulho como professora, minha amiga, parceira política... como tudo isso aconteceu com ela sem que eu pudesse fazer nada?
Tirei alguns fios loiros de seu rosto e fiquei admirando-a um pouco. Linda! Soraya era incrivelmente linda... lembro das palavras que César utilizou para se referir a minha relação com sua ex-esposa... eu nunca a usaria, nunca a “comeria” como se fosse uma puta, nunca! Sol era especial demais para mim para eu fazer isso, foi desnecessário sua colocação.
- Srta. Thronicke, hora de acordar.... -falei baixinho e acariciei seu rosto- Thronicke, vamos lá, sua psicóloga está chegando!
Soraya não se mexeu. Olhei para a cômoda e vi o frasco de zolpidem, suspirei chateada. Ela já estava tomando remédios fortíssimos e já estava sonolenta, não tinha necessidade alguma de tomar zolpidem.
- Soraya Thronicke, acorde! -Falei mais firme.
A loira se mexeu e abriu os olhos devagarinho.
- Simone? -Murmurou levando uma mão aos olhos e coçando-os.
- A psicóloga está chegando. Vamos levantar? -Chamei carinhosamente.
A loira levou sua mão a minha mão repousada em seu rosto e segurou-a ali fechando os olhos novamente e suspirando baixinho, dormiu mais alguns minutos e ri de sua expressão calma e relaxada. Ela franziu o cenho e resmungou com manha pedindo mais tempo.
- Você não tem mais nenhum segundo. -Falei e puxei minha mão debaixo da sua.
Ela sentou-se na cama e ficou olhando para o nada, ainda piscando lentamente por causa do sono. Acendi o abajur e passei as mãos em seus cabelos, ela me olhou e foi se achegando mais em mim e me surpreendeu ao deitar seu tronco em meu peito e suspirar manhosa. Fiquei sem jeito, mas tentei abraçá-la desengonçadamente.
- Estou cansada, podemos deixar para amanhã? -Pediu baixinho.
- Não mesmo! Você precisa de ajuda psicológica o quanto antes. -Falei e acariciei seus cabelos.
- Meu corpo dói.
- Eu sei, querida, mas Dani já está vindo vê-la. Será rápido, depois poderá descansar à vontade.
- Promete?
- Prometo. -Afirmei e depositei um beijo em seu rosto.
Com uma dor no coração me desvencilhei de seus braços e fiquei em pé, estendi uma mão para ela e ela a segurou. A senadora sorriu e ficou de pé, mas quando deu a primeira passada liberou um gemido suave de dor, me preocupando imediatamente.
- O que foi? Está doendo? -Perguntei preocupada olhando todo o seu corpo.
- Estou bem, Professora Tebet! -Mentiu lançando-me um sorriso de lado.
Sempre que mentia para mim, ela me chamava de professora para me provocar, pois sabia que eu sabia que ela mentia, fazia isso quando dava desculpas na faculdade por deixar de fazer algo que eu pedia. Reverei os olhos.
- Ele... -hesitei- te machucou muito? -Perguntei pigarreando logo em seguida.
- Estou bem, Simone, sério. -Ela virou-se para mim e segurou em meu rosto com delicadeza, levou seu indicador em minha testa e sorriu suavemente- tire essa ruga de preocupação daqui, ficará marcado e você vai ter de fazer outro botox!
Revirei os olhos e ela riu.
- Às vezes você é tão idiota! -Falei envolvendo minhas mãos em sua cintura e não resisti em trazê-la para meus braços e abraçá-la fortemente.
Não demorou muito para eu sentir meu ombro molhar e ela deitar a cabeça ali, enquanto eu fazia um carinho em suas costas. Demorou uns 5 minutos com ela tremendo em meus braços em um choro silencioso, não aguentei e derramei algumas lágrimas também enquanto apertava-a mais em mim e sussurrava que estava tudo bem, que eu estava ali com ela e por ela.
- Vou tomar um banho, Estepe! -Murmurou depois de passar um tempo de ter parado de chorar.
Dei um beliscão suave em sua cintura, fraco para ela não se machucar mais ainda, mas o suficiente para ela dar um tapinha em meu ombro e se afastar, com um sorriso largo e os olhos vermelhos, de mim.
- Não seja uma trambiqueira, Thronicke.
Ela riu e saiu em direção ao banheiro, eu conseguia ver seu desconforto ao caminhar e sua carinha de dor ao passar as mãos pelas costelas enquanto sumia do meu campo de visão. Quando ela não podia mais me ouvir, peguei meu celular e disquei um número muito conhecido por mim:
- Preciso que faça algo para mim! -Falei assim que o homem atendeu.
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Minha protegida
RomanceSimone Tebet faz uma proposta para sua ex-aluna e agora colega de Senado, Soraya Thronicke. A loira recusa de imediato, mas a senadora morena é muito envolvente e a mulher acaba aceitando. O desafio da vez é a concorrência à presidência da República...