Easy on me

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Simone Tebet

Senti meu olho esquerdo tremer ao ouvir Soraya dizendo que não vai denunciar aquele miserável por causa de política.

- Não traga essa responsabilidade para nossa campanha, Sra. Thronicke. Seu marido quase a matou, não quero que o fato de eu tê-la convidado para ser minha vice seja empecilho para fazer algo que queira, ou se não quiser denunciá-lo, não use minha candatura para esconder-se. - Fui firme em minhas palavras e lhe encarei extremamente séria.

- Simone... -Balbuciou com os olhos cheios de lágrimas- Admito que não é algo que estou pronta para dividir com o mundo. Aquele senado... aquele povo já me odeia tanto e torcem todos os dias para que eu caia e agora darei munição para me machucarem ainda mais. É a minha carreira também, Tebet. Minha vida! -Falou com a voz embargada e algumas lágrimas caindo.

Dei meia volta e passei as mãos pelos cabelos. Soraya sempre está mais preocupada com as aparências do que em fazer o certo.

- Irá retirar também a denúncia feita ao Farias? -Indaguei voltando a olhá-la.

- E-eu... n-não sei... talvez seja o certo, já que terá o burburinho do meu divórcio, não quero trazer mais atenção para mim do que o necessário.

- Você representa as mulheres desse país e se tomar essa atitude, Thronicke, irá representá-las de uma forma mal, bem mal. Todos viram o que o excelentíssimo senador fez a você dessa vez, então não precisa ter medo das retaliações, estaremos lá por você. Não seja uma covarde pelo menos dessa vez, basta você não ter denunciado quando aquele imbecil tentou beijá-la a força, Soraya Thronicke, não envergonhe todos os ensinamentos que passei a você.

Soraya estava incrivelmente pálida e eu tremia de raiva. Não dela, mas de toda situação. Queria que ela reagisse, que se impusesse, que fizesse algo que punisse todos aqueles que ousaram tocá-la. Por mim, por ela, por todas as mulheres que passam todos os dias por isso.

- Simone, eu... -A loira levou uma das mãos aos olhos e deu passos vacilantes para trás e se encostou na pia.

Já vi aquela cena antes, me apressei em chegar até ela e me praguejei baixinho por tê-la pressionado. É óbvio que ela não está bem e o banheiro do hospital não era o lugar apropriado para esta conversa.

- Desculpa, querida... eu não deveria...

- Tudo bem! -Murmurou baixinho- Só fiquei um pouco tonta, acho que são muitas informações de uma vez.

Abracei-a até que melhorasse. Fechei os olhos e apenas fiquei ali sentindo seu cheiro e aconchegando-a como eu podia em meu corpo. Ela estava bem e somente isso importava.

Batidas suaves nos tiraram daquela bolha de afeto e pedi para quem quer que fosse para entrar. Fernanda pôs o rosto para dentro e disse que o médico estava ali para nos ver. Guiei Soraya para cama novamente e o médico repassou todas as instruções de cuidados que a loira deveria ter e eu e Fernanda ouvíamos tudo atentamente e vi em alguns momentos Nanda anotando o que era de mais importante.

- Por fim, está liberada, excelentíssima Senadora. -Disse o médico e aquilo foi música para meus ouvidos.

- Vamos para casa! -Fernanda disse animada.

Fui até a pequena bolsa que eu tinha e tirei uma peça de roupa para Soraya, eu estava feliz que pudéssemos finalmente ir para casa, mas meu sorriso morreu ao encarar os olhos claros de Soraya cheios de medo.

- O que houve, Sol? -Perguntei indo até lá rapidamente e segurando suas mãos, ela recuou e me olhava apavorada- Ei, minha Sol, calma... sou eu. O que está acontecendo?

Minha protegidaOnde histórias criam vida. Descubra agora