E engula o desejo que você tem de provar
Diga sim, diga sim, sim pra mim.
Diga sim que meu amor por ti é puro...
Depende de você deixar o sol brilhar!
Simone Tebet
Para.
Para.
Para.
3 vezes. Ela me pediu para parar 3 vezes e eu ignorei as 3 vezes. Estou me sentindo péssima, horrível, a pior pessoa do mundo. Eu sou mulher, eu luto pelo direito das mulheres e mesmo se não lutasse, mesmo se não fosse mulher, eu deveria ter parado, eu agi como uma tarada idiota que colocou meu desejo acima de seus sentimentos. Por que fiz isso?
Eu não entendi quando ela disse na primeira vez, e a segunda pensei em parar, mas ela parecia gostar e querer aquilo, mas eu deveria ter escutado. Eu nem deveria ter cedido, para ser sincera. Machucá-la nunca esteve e nem estará em meus planos, ainda mais dessa forma. Eu a amo, intensamente, e sou perdidamente apaixonada por ela. E fui uma estúpida! Agi igual César com ela e vê-la tão assustada, com tanto medo e tão recuada me desarmou completamente.
Minutos antes...
Seu gosto é tão doce, seus lábios são delicados e macios, tão quentes e seu beijo é incrivelmente bom. Deus, nem posso acreditar que estou beijando a boca que tanto anseio, algo que nem eu sabia que precisava tanto. É diferente de todas as pessoas que já fiquei, homens e mulheres. Suas mãos delicadas em meu rosto, seu cheiro é embriagante.
Desci meus lábios para seu pescoço e minha mão para sua bunda. Que bunda! Não consegui me conter e deu um aperto suave arrancando-lhe um gemido, aquele gemido rouco, baixo e manhoso me fez ficar incrivelmente quente e com necessidade de mais, muito mais. Eu precisava dela como nunca precisei de ninguém, precisava de seu corpo junto ao meu, precisava que ela deixasse eu explorar cada pedacinho de sua pele, de sua alma, precisava que ela me deixasse provar que existia amor e paixão. Que cuidaria dela e a levaria ao céu com meus lábios, precisava que ela me desse a chance de apaixonar-se por mim como eu estava por ela.
Voltei meus lábios para seus lábios e apertei-a mais em mim, queria fundi-la a mim, transformar-nos em uma só. Queria que ela se encantasse por mim como sou encantada por ela, queria que ela me aceitasse e amasse meus toques tanto quanto estou amando o seu. Queria que ela me desse um sim e me deixasse mostrar a ela o que era cuidado, proteção, segurança, paixão e amor, eu necessitava disso como necessitava de oxigênio.
Fui adentrando sua blusa, sentindo o arrepiar e a quentura de sua pele em minha palma, a puxando para mim, explorando o que ela permitisse ser explorada. Eu estava envergonhadamente enxarcada e precisava tanto dela.
- Sol... por favor! -Pedi gemendo em sua boca.
Subi mais um pouco minha mão e esse foi meu erro, o último dos vários que cometi desde o momento que ela me beijou desesperadamente.
- NÃO! -Ouvi seu grito e aquilo pareceu me despertar de um sonho e entrar em um pesadelo horroroso.
- Ei, me desculpe... -Pedi tentando me aproximar.
Mas ela recuou mais e abraçou o próprio corpo, seus olhos transbordaram de medo e pavor. Medo e pavor de mim. Senti meu coração apertar e uma vontade enorme de chorar, mas antes precisava ajudá-la a se acalmar.
- Perdão, Soraya, me desculpe... eu deveria ter parado! -Falei com a voz embargada.
Ela recuou mais ainda e fechou os olhos. Começou a tremer e falava inúmeros "pare".
- Sol, olhe para mim...
- Não... não, por favor, não... para, César... por favor!
Meu cérebro deu um clique quando ela disse esse nome. Soraya não estava com medo de mim, mas de César. Meus toques foram gatilho para tudo que ela viveu nos últimos dias e eu fui uma insensível ao pensar somente no meu desejo e não levar em consideração todas as merdas que aconteceram com ela.
- Soraya? Querida, por favor, olhe para mim...
As lágrimas caiam de seus olhos fechados e ela não parava de balbuciar para ele se afastar. O que aquele verme já não fez com ela para a deixar tão desestabilizada? Mas eu vou curá-la, vou protegê-la e cuidar dela. Ninguém nunca mais a machucará assim!
- Linda, meu sol radiante... -falei com algumas lágrimas escorrendo- por favor, olhe para mim, sou eu...
Me aproximei, toquei seu braço, ela puxou o ar e abriu os olhos. Graças a Deus! Suspirei.
- Simone? -Ela estava pálida e tremia muito- Não... quero, não... estou... pronta!
- Tudo bem, gente? -A porta se abriu e olhei para trás vendo Fernanda entrar- Tia, você não parece bem...
Voltei meu olhar para Soraya a tempo de vê-la fechar os olhos e graças a minha aproximação, consegui segurar seu corpo antes dela cair no chão.
- Ai, meu Deus! Fernanda?! -Chamei minha filha indo ao chão com o corpo de Soraya junto ao meu.
Coloquei sua cabeça em meu colo e tirei alguns fios de cabelo de seu rosto, ela estava pálida. Peguei uma de suas mãos e estava gelada. Ouvi Maria jogando as coisas em algum lugar e não demorou muito para eu vê-la olhando tão assustada quanto eu para a senadora desacordada.
- O que ela tem? O que aconteceu? Vamos ao hospital?
- Calma, Maria. Pegue um álcool para mim, ok? Possivelmente é só uma queda de pressão. -Pedi e encarei minha filha confiante.
Precisava passar confiança, pois minha Maria estava completamente assustada. A garota desapareceu do meu campo de visão e me ajustei trazendo a mulher loira melhor para meus braços.
- Thronicke? Vamos, querida, fale comigo. Acorda, por favor! Não me assuste assim. -Pedi apreensiva.
Não gosto dessa posição, não me sinto nada confortável em tê-la desacordada em meus braços e acho que já tive cota suficiente dela passando mal por uma vida inteira.
Fernanda trouxe um algodão embebedado com álcool e levei ao nariz da loira. Ela foi se mexendo e abrindo os olhos devagarinho e eu e Nanda suspiramos aliviadas.
- Ei, tia Sol, abra os olhos! -Pediu Maria segurando firmemente a mão da mulher.
- Fernanda? -Murmurou ainda de olhos fechados e logo depois abriu aqueles orbes castanhos para meu completo alivio.
- Você desmaiou. -Minha filha disse e Soraya me olhou confusa.
- Consegue levantar? -Perguntei preocupada e ela acenou devagar- Vamos sentar um pouco e já levantamos, tudo bem?
Ajudei ela a sentar e depois de alguns minutos ajudei-a a levantar. Apoiei seu corpo no meu quando ela titubeou e a levei para o sofá.
- Aqui, tia, beba essa água com açúcar. -Nanda disse aparecendo com um copo d'água.
Fiquei em pé de braços cruzados observando Fernanda cuidar de minha amiga. Nem sei como agir depois disso, o que falar, o que fazer, como me portar.
Tenho medo de alguma atitude minha ativar algum gatilho dentro dela e fazê-la passar mal novamente. Depois de Maria Fernanda se certificar de que ela já estava bem, Soraya me olhou e estendeu sua mão.
- Me ajuda a chegar no quarto? -Pediu com os olhos marejados.
Acenei positivamente e segurei sua mão. Entramos em meu quarto e percebi uma coisa. Tenho quartos de hóspedes suficiente nesse apartamento. Por que diabos estávamos dormindo juntas ainda? Claro, eu não queria deixá-la sozinha, ela poderia passar mal, como passou naquela madrugada, ter pesadelos, ficar com medo..., mas chega! Hoje eu me mudo para o quarto de hóspedes.
-Soraya, precisamos conversar, olha...
- Me desculpa, Simone! -Ela me interrompeu.
- Não, Soraya, não peça desculpas, você não tem culpa de nada, fui eu que...
- Não, você foi perfeita. Por favor..., eu só... só não estou pronta para falarmos disso ainda, mas... eu quero falar disso, só que... não agora. Não casada, não confusa, não machucada. E eu preciso de você.. -seus olhos lacrimejaram e lágrimas começaram a descer por sua face, me fazendo ir até ela e limpá-las- você é minha melhor amiga, é a pessoa que mais confio nessa vida, por favor, não se afaste de mim.
- Ei, eu nunca me afastaria de você, eu nunca deixaria que nada afetasse nossa amizade. -Falei e a abracei fortemente.
- Vamos esquecer o que aconteceu, por enquanto. Eu sei que você quer muito falar disso, mas eu ainda não posso, por favor...
- Calma, vamos falar disso quando você estiver pronta, tudo bem? Calma, minha querida!
Ficamos naquele abraço mais alguns minutos, até eu me afastar.
- Vou tomar um banho e preparar algo para comermos...
- Pizza! -Ela disse com os olhos brilhando e logo um sorriso brotou em seus lábios ainda trêmulos.
- Você querendo comer pizza, Soraya Thronicke? -Brinquei, pois ela vivia em uma dieta restrita.
- Me deu vontade, uai! -Disse dando de ombros.
- Como você quiser! -Falei jogando o cabelo para o lado.
Ela me olhou e sorriu, levou sua mão a minha face e fez um carinho, me desestabilizando completamente.
- Obrigada por estar ao meu lado, Tebet! -Falou suave.
O que essa mulher está tentando fazer comigo?
Acenei e saí para o banheiro. Ouvi ela dizendo que ligaria para a mãe e só confirmei, saindo rapidamente antes que eu a beijasse, e aquilo estava fora de questão.
Tomei um banho longo e gelado, precisava acalmar meus ânimos e permitir que algumas lágrimas saíssem de mim, pois estava me sentindo péssima. Preciso tomar um rumo pra minha vida, não posso ficar beijando Soraya, não posso tê-la, não posso! Ela não gosta de mim assim, é minha melhor amiga, minha colega de trabalho, meu Deus, disputaremos a presidência juntas, sem falar que é uma mulher. Já tive casos com mulheres, mas não passaram disso: casos!
Me sequei, coloquei um roupão e saí para procurar uma roupa. Soraya estava sentada na cama, os olhos perdidos e vermelhos, havia chorado mais depois que saí, o celular jogado em cima da cama e a mente parecia bem longe dali.
- Tudo bem? -Perguntei.
Ela me olhou e deu um sorriso mínimo.
- Tudo sim, professora Tebet. Minha vez de tomar banho. Não esqueça minha pizza.
- Frango com catupiry, presumo? -Falei com um sorriso forçado. Odeio quando Soraya mente pra mim.
- Pepperoni!
- Pepperoni? -Perguntei surpresa puxando meu pijama, não sairia de casa mesmo, ficaria confortável- Você odeia!
- Mas hoje eu quero. -Falou pondo-se em pé e sorrindo sapeca- E é a sua favorita, Vossa Excelência, quero saber o que tem de bom nisso.
- Metade metade. -Falei dando de ombros- Como foi com sua mãe?
Ela me deu as costas e resmungou em alemão.
- Sabíamos que não seria fácil. -Falei e segui-a até o banheiro.
- Ela é impossível. -Resmungou e começou a se despir.
Corei e fechei a porta. As vezes acho que ela faz de propósito!
Depois de arrumada, fui até o quarto de Maria Fernanda e conversamos um pouco sobre seu dia e a sua ida no dia seguinte à casa de Eduardo.
- Eu já tenho 19 anos, não entendo porque tenho que ir pra lá! -Mafê reclamava enquanto comíamos a bendita pizza na sala de jantar.
- Porque ele é seu pai. -Apontei o óbvio- A ama mais que tudo nesse mundo e você o ama também.
- Legalmente você não precisa. Pode muito bem não ir! -Sol disse fazendo careta ao provar a pizza de pepperoni e a encarei brava.
- Viu, mãe, eu não preciso... a lei está ao meu lado!
- Ele continua seu pai, independente da lei, Maria Fernanda. Ele dá um duro danado por você, paga seus estudos...
- Estudo em uma Universidade pública. -Revidou com aquele ar arrogante que detesto.
- Mas antes disso foi ele que bancou. Ele te ama e você é o maior orgulho dele, passar algumas horas com seu pai não deveria ser um sacrifício!
- Olhar aquela cara feia dele, sim, é um sacrifício! -Soraya disse irônica comendo um pedaço de sua pizza de frango.
- Se não vai ajudar, não atrapalhe. -Revidei revirando os olhos.
- Ela não quer, deixe a menina. Ele enfiou aquele esperma nojento dele em você, o mínimo que pode fazer é bancar os estudos da garota e agradecer por ela ter a aparência da mãe!
- Soraya Vieira Thronicke! -Bronqueei e a Nanda começou a gargalhar.
- Maria Fernanda, você vai e não se discute. -Falei firme e ela acenou resignada.
Olhei para Soraya e ela me olhava divertida.
- Se fosse eu, também não iria querer ir!
Joguei uma azeitona nela e ela gargalhou. Amo seu sorriso!

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Minha protegida
RomansaSimone Tebet faz uma proposta para sua ex-aluna e agora colega de Senado, Soraya Thronicke. A loira recusa de imediato, mas a senadora morena é muito envolvente e a mulher acaba aceitando. O desafio da vez é a concorrência à presidência da República...