A pior parte de ter ferrado com tudo, é ter a consciência que foi sua culpa. As lágrimas saem mais salgadas, seus olhos doloridos e seu nariz não aguenta mais ser esfregado nas costas de sua mão. O peso gigantesco da culpa. Seu corpo implora por descanso, enquanto sua mente lhe afirma de todas as formas possíveis e impossíveis o quanto você é ruim e desnecessária para o mundo.Muitos dizem que é muito melhor viver sem pensar nas consequências, mas para outros, cada ação distorcida de sua vida pode gerar grandes traumas e inseguranças.
Se culpa. Se odeia.
As três da madrugada andando com os pés descalços e exaustos, seus braços também doidos já que se matinha dobrados levando os dedos até a boca. A mania de roer as unhas tinha sido seu gesto mais ansioso desde que era pequena. Os passos decorados até a geladeira, devagar igual um rato sorrateiro. O bolo já pela metade gelado descia por sua garganta.
Depois de comer até não aguentar continuava o vazio, sem conter as lágrimas por encarar a figurar desconhecida no espelho de si própria, voltava para o banheiro e vomitava toda a comida. Outra vez o ciclo vicioso e triste recomeçava.
As noites. Os dias. Tudo era mais longo, solitário.
Mentir para a família, ouvir palavras duras de sua mãe não foi a pior parte da história de três dias. Quebrou seu coração escutar de quem mais admirava, amava e colocava em pedestal.
Era óbvio que sua irmã não queira ela mais perto, rejeitou suas ligações, não visualizou os emails. Stella tinha sido a filha que nunca deu trabalho, irmã perfeita e uma boa pessoa. Quando mais precisou do apoio da mãe foi silenciada com falta de amor, e outra vez foi silenciada por sua irmã. A decepção veio de quem não esperava, e isso lhe doía e fazia desejar voltar atrás.
Durante dois dias esperou por um pedido de desculpa, ou talvez uma ligação dizendo que tudo seria esquecido e voltaria a ser como antes. Depois de fazer três dias perdeu a vontade de tudo. Se sentia solitária, muito mais que antes.
Sentada abraçando as pernas dobradas com o queixo apoiado no joelho, olhando vagamente para a janela aberta com os olhos perdidos. A brisa fresca fazia com que as cortinas dançassem em um ritmo calmo e o vento leve batesse no seu rosto. O dia estava bonito, claro e sem nuvens escuras.
Duas batidas na portam foram dadas sem muita força, mas só ouviu na quarta batida. Levantou quase se arrastando com um cansaço não físico, mas mental. Caminhou sem se importar no estado que estava até a porta e abriu.
— Stella! — O grito da felicidade podia de ouvir até no final do corredor, suas mãos abraçaram o corpo pequeno e magro da garotinha sorridente.
Recebeu um beijo carinhoso na bochecha, viu os olhos de April brilhar e admirar com tanto amor.
E lá estava ele. Parado com um sorriso de lado no rosto, encarando a cena com suas iris azuis radiantes. Camisa azul, calça preta e tênis branco. Augusto além de bonito seu perfume forte e bom fez passar por sua cabeça a noite em que esteve mais perto dele do que nesses últimos anos.
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Enrolados
Romance* CONCLUÍDO* Duologia Enrolados em um acordo Livro | Quais eram as chances de uma mentira se torna realidade? Bem, para nossa secretária de 23 anos era quase impossível tal realidade. Dedicada, gentil e dona de um sorriso amoroso. Stella Amazzo, é s...