OITAVO CAPÍTULO

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As manhãs de Maria Susana pareciam exatamente iguais. A cada dia que passava o esgotamento físico e mental sempre estava ali ao seu lado. As pálpebras inchadas e as olheiras embaixo dos seus olhos eram consequências das noites mal dormidas naquele colchão desconfortável. O sono conturbado havia começado logo após a mudança e até mesmo nos sonhos as más lembranças insistiam em assombrá-la. Enquanto devaneava, Susana sabia que era apenas questão de tempo até que fosse arrastada de volta para aquela casa em frente ao lago e tudo se repetisse mais uma vez.

As memórias ruins que tivera se espreitavam no escuro da sua mente, invadindo sorrateiramente seus sonhos. E quando o pesadelo finalmente começava, ela escutava a maçaneta rodando, sentia o suor se misturando com as próprias lágrimas e o medo crescendo nas paredes do seu peito. Era ali que de repente ela acordava com a respiração irregular, os olhos esgazeados e a certeza de que tudo estava perdido.

"Bom-bom dia, mamãe", Gael dissera de pé na porta do quarto de Maria que encarou aquele pijama laranja com listras, dado de presente por Dona Firmina, ele estava amarrotado no corpo do garotinho que não parava de coçar seus olhos enquanto bocejava

"Bom dia, meu amor", respondeu apoiando seus cotovelos na cama para que pudesse ver mais claramente o rosto do filho. " com fome?", ela indagou se sentando na cama com um semblante afável entre os lábios.

O sol acabara de chegar ao céu quando os olhos de Maria Firmina se abriram, com a visão borrada e sonolenta ela bocejou, sentindo aquela pontada rotineira na coluna. Seus pés já longe do edredom buscavam os chinelos naquele chão glacial enquanto Fia juntava todas as mechas daquele seu cabelo crespo umas nas outras e as prendia em um coque.

Assim que seu corpo abandonou a cama, ela caminhou até a cozinha e preparou rapidamente um café forte e sem açúcar, no qual tomou acompanhado de praxe de um cigarro.

Quando Dona Fia terminou de tomar seu café da manhã, ela desceu as escadas, ultrapassou o portão do prédio e se sentou na calçada observando a rua vazia. O vento matinal era fresco e agradável, Maria não se incomodava com aquela brisa amena que batia no seu rosto ou com o balançar dos fios soltos do seu cabelo.

"Tenho que parâ de fumar", ciciou para si mesma tragando o cigarro preso em seus dedos.

O tabagismo acompanhava Firmina já há alguns anos, Susana odiava e no passado chegara a brigar com a mãe incontáveis vezes por conta do vício, mas com o tempo deixou de se importar e com isso dava de ombros toda vez que via o polegar enrugado de Dona Fia deslizar sobre a roda acionadora do isqueiro. Maria Iolanda por outro lado, havia puxado o mal hábito da própria mãe e iniciara no vício bem nova junto da prostituição.

O pai da sua primeira filha, Matias, também era um fumante nato que sempre estava ao lado da ex-mulher, acompanhado de um shot de cachaça. Para Firmina foi difícil parar de fumar durante a gravidez e a abstinência não demorou muito para chegar. Os estresses que passou sem a nicotina fizeram ela chorar diversas vezes na guarita do prédio em que trabalhava, se sentava durante as pausas na calçada em frente ao edifício e lá com Maria Susana em seu ventre seus olhos se enchiam de lágrimas. Fia perguntava a si mesma com aquela voz chorosa: "Como é que eu cuidar dessa minina?"

Agora se lembrando superficialmente desses momentos havia um meio-sorriso em sua face e por mais que não gostasse de pensar nos seus antigos amores, Dona Firmina estava orgulhosa de si refletindo o quanto que tinha batalhado para criar aquelas duas mulheres em meio a tantas dificuldades.

"Uai, Fia, é ocê?! Ô Fia!", aquilo afastou Maria de seus pensamentos, fazendo-a direcionar seus olhos na direção em que escutara seu nome.

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⏰ Última atualização: Jan 30, 2023 ⏰

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ᴛʀês ᴠᴇᴢᴇs ᴍᴀʀɪᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora