𝐆𝐢𝐬𝐞𝐥𝐥𝐞

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Ergui o tronco sem saber para onde olhar, dois garotos me examinavam levemente assustados.

- Ah, desculpe, eu não queria te assustar. Está tudo bem? Quer ajuda para levar a caixa? - Perguntou o de cabelos escuros

Meu coração titubeou, a pulsação percorria meus braços, pernas e cabeça. Eu me sentia gelada, como se tivessem tirado minha alma do corpo por alguns minutos que pareciam horas. Meu reflexo, uma menina infamiliar, amargurada e aflita. Aquela coisa que quebrou o espelho, aquela figura esquisita e sobrenatural.

Eu tentei recuperar a minha voz.

- O que você disse? - Soei quase inaudível

- Err... perguntei se quer ajuda - Ele franziu as sobrancelhas.

- Não, sim, mas antes disso - Eu balancei as mãos pedindo para retroceder a conversa.

Os meninos se entreolharam.

- Mas eu não falei nada... Está tudo bem?

Eu não podia estar louca, eu ouvi alguém sussurrar, tinha certeza, foi nítido como se respirasse em minha nuca, sensível e poderoso como o sol me tocava a minha pele nesse instante. Ele ofereceu a mão mas eu já estava me levantando envergonhada do chão. Arrumei meu uniforme enquanto ambos acompanhavam cada movimento.

Meu rosto queimou com tanta exposição.

Voltei a ser uma jovem estudante educada.

- Claro, está tudo bem - Espiei de relance o depósito, a porta imaculada e fechada.

Um silêncio desconfortável instalou-se no lugar, o menino de cabelos escuros ajeitou a gravata e jogou uma mecha rebelde para trás.
Ele tinha cabelos castanhos de um comprimento comum, segurados por uma tiara prateada que assemelhava-se aos ramos de café. Sua boca era bonita, rosa e um pouco cheia. Os olhos eram cor de avelã, eles ficavam um pouco avermelhados com a luz do sol que batia em seu rosto, rosado e com traços leves.

Parecia ter a mesma altura de Olívia, apenas um pouco mais alto que eu.

- Deixe-me recomeçar - Ele pigarreou - Oi, você é a Giselle, certo? Faz parte da turma de moda - Seu parceiro ergueu as sobrancelhas e tentou esconder um meio sorriso.

Ele era mais alto que seu amigo. Seu cabelo havia sido raspado, descolorido e algumas chamas foram desenhadas com tinta colorida. Os óculos redondos assemelhavam-se ao azul cobalto da gravata, fazendo um contraste de um estilo descolado e clássico. Seu olhar alongado complementava um rosto afiado, desde seu maxilar marcado ao formato do nariz. Ele tinha ar de inteligente.

O caimento do uniforme ficava muito bem neles.

- Sim, sou eu - Assenti sem graça.

- Meu nome é Jake, prazer - Ele sorriu mostrando todos os dentes de um jeito meio alegre e tímido - E esse é o Jonathan.

Ele levantou o cenho cumprimentando, retribui com uma pequena reverência. Jonathan me parecia familiar, se eu não estivesse enganada ele também fazia parte da turma de costura. Fazia sentido ao analisar todo o seu estilo, transparecendo não apenas seu bom gosto mas sua personalidade.

A escola era dividida por gênero, o internato masculino ficava no prédio de trás, é comum no fim de ano eles deixarem as turmas se misturar, assim todos ajudam com o festival e os preparativos. De certa forma é divertido.

Mas convenhamos, eles só querem esbanjar pelos corredores seu cavalheirismo e cortejar as meninas.

Não estou dizendo que odeio.

- Então, eu queria te pedir um favor, caso não fosse te incomodar - Jake mostrou um casaco no antebraço - Eu jogo no time de futebol do internato e a minha jaqueta acabou rasgando - Eu tomei a liberdade para ver o buraco na costura - Você deve estar ocupada com o espetáculo e tudo mais, mas ouvi dizer que você é a melhor costureira da escola - Levantei o rosto e senti minhas bochechas esquentarem.

𝐆𝐚𝐫𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐝𝐨 É𝐝𝐞𝐧 - Saga MoëbiusOnde histórias criam vida. Descubra agora