𝖕𝖗𝖔𝖑𝖔𝖌𝖔

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Dezembro de 2021.
Worcester, Massachusetts.

Louis Tomlinson.

O chiado da televisão ressoa pela sala parcialmente vazia, causando um eco insuportável que martela em minha cabeça. Os últimos meses da minha vida passam como flashes enevoados bem diante de mim, como um filme em preto e branco de um cinema antigo.

Pisco com uma certa incredulidade para a televisão apenas para confirmar. Minha imagem, juntamente com o meu nome, estampado no jornal noturno da cidade.

Foi leviano da minha parte pensar e acreditar fielmente que isso jamais fosse acontecer. Para falar a verdade, com nosso amadorismo explícito, isso até demorou a acontecer.

Meu nome.
Com todas as letras.
Estampando a tela da televisão.

ㅡ Merda, merda, merda! ㅡ Liam vocifera ao se levantar do sofá, passando as mãos pelos cabelos castanhos curtos de forma frustrada.

A fricção dos pequenos blocos de madeira é o único som que se escuta enquanto ele caminha em círculos pelo piso com seus coturnos. Olho para minha direita e me deparo com olhos azuis arregalados ainda presos na tela.

A boca de Niall está levemente aberta e posso jurar que ele está tendo um mini ataque de pânico. Seu olhar desvia da tela apenas para me encarar como se eu fosse uma assombração. Seus olhos piscam rapidamente e percebo suas mãos, que estão no meio de suas pernas, começarem a ficar inquietas.

Sou incapaz de dizer qualquer coisa. Acho que todos nós sabemos que inevitavelmente ultrapassamos a linha que juramos que não ultrapassaríamos. Sinto como se estivéssemos chegado ao fim da corrida, e logo a frente, uma viatura nos espera. Um turbilhão de sensações me invadem. Mas o que mais pesa agora é o desespero de me situar que tudo o que fizemos nos últimos meses está prestes a cair por terra.

ㅡ Calma, porra! ㅡ Zayn quebra o silêncio com a voz firme, mesmo que nenhum de nós tenhamos pronunciado nada a respeito. ㅡ Não é o fim do mundo.

ㅡ Como não? Eles sabem o nome dele, tem imagens com a cara dele estampada para qualquer um ver.

Ouço a voz de Harry.
A insuportável voz de Harry.

Desvio o meu olhar para encará-lo e percebo que ele olha diretamente para Liam à medida que se ajeita sem jeito no braço do sofá, bem ao lado de Niall.

Nesse momento, sua voz grossa e alta é a última coisa que gostaria de ouvir. Sinto uma pontada em minhas têmporas e levo meus dedos até a lateral do meu rosto, massageando de forma firme, enquanto permaneço sentado na poltrona de couro desgastada.

ㅡ Eles só sabem o nome dele. A filmagem está uma merda e a resolução uma porcaria. Não tem como identificá-lo assim. Não sabem o nosso paradeiro, não sabem que estamos nessa juntos. Não sabem de nada. Só têm o nome.

Ergo meu olhar para a televisão e percebo que Zayn tem razão. A imagem está embaçada e distante, apesar de meu nome estar bem nítido.

ㅡ Eu sabia que uma hora ou outra ia acabar dando merda ㅡ Niall diz com a voz baixa e trêmula.

Eu sei que de todos, ele sempre é o primeiro a entrar em pânico.

ㅡ Pelo amor de Deus! ㅡ Harry praticamente grita, batendo as mãos nas coxas fortemente. ㅡ Não começa, Niall.

ㅡ Não grite com ele, Harry ㅡ interfiro, o encarando. ㅡ Ele está nervoso. Você não vê?

ㅡ Coisa que era pra você estar. Já que acabou de foder tudo pra gente.

Sinto meu sangue ferver em minhas veias por suas palavras e por seu olhar verde me queimando como se eu tivesse estragado tudo sozinho, mas antes que eu possa rebater, Liam faz isso por mim.

ㅡ Todos nós estamos fodidos, Harry. Todos nós. Estamos juntos nessa. Então aconselho que todos permaneçam calmos. Não podemos nos desesperar. Vamos dar um jeito nisso.

ㅡ Que jeito? Que jeito daremos, Liam? ㅡ Harry se levanta e aponta pra mim, inclinando a cabeça, dando um sorriso extremamente falso e sarcástico. ㅡ O nome dessa praga já está estampado nos jornais.

ㅡ Praga é o meu caralho, seu imbecil.

Quando ele abre a boca para retrucar e ameaça dar alguns passos em minha direção, estou pronto para me levantar também, mas somos impedidos quando Niall solta um grito alto, tampando os ouvidos.

ㅡ Mas que porra! ㅡ Nos assustamos, e todos os olhares da sala se voltam em direção a ele. ㅡ Nem num momento como esse vocês conseguem parar de brigar? 

Me levanto e me sento no lugar vago ao lado de Niall, passando meu braço por seu ombro, o trazendo para o meu peito.

Sei que Niall tem crises graves de ansiedade. Acho que por sofrer do mesmo transtorno, sinto uma necessidade de zelar por ele e impedir que as coisas piorem. Ele permanece com as mãos nos ouvidos, começando a embalar o corpo levemente para frente e para trás no sofá. Posso sentir seu corpo tremer, e isso de certa forma, desencadeia a minha ansiedade também, mas tento respirar fundo para não pirar.

ㅡ Se ele soubesse fazer assaltos bem feitos, não estaríamos com o cu na mão agora ㅡ Harry dispara, não calando a boca.

ㅡ Você já parou para pensar que o meu trabalho aqui é o pior? Que sou eu que dou a cara a tapa? Que sou eu que estou à mercê de tudo? ㅡ Retruco, com o tom mais alterado. ㅡ  Você fala com toda essa arrogância, mas age como se a coisa mais difícil do mundo usar esse seu charme barato para seduzir velhas e roubá-las.

ㅡ Vai tomar no cu, Louis. Pelo menos não é meu nome que está nos jornais.

Tenho vontade de dar um murro em Harry, mas percebo a respiração de Niall se acelerar e volto a minha atenção para ele, ignorando completamente o gigolôzinho em minha frente.

ㅡ Respire… ㅡ instruo baixo para Niall.  ㅡ Respire. Vai ficar tudo bem.

ㅡ Argh! O salvador da pátria…

ㅡ Cala boca, Harry ㅡ Juro que essa frase sai da minha boca, mas ela sai da de Zayn. ㅡ Dá pra você parar de implicar com o Louis ao menos por um instante? Que caralho, velho. Dá um tempo! Eu preciso pensar...

Harry só implica comigo, só destrata a mim, só aumenta o tom de voz quando é direcionado a minha pessoa, mas fica calado quando Zayn aumenta o tom de voz. Acho que no fundo, ele tem medo de Zayn, sabendo que ele não teria a paciência que eu tenho para as suas picuinhas, e provavelmente já teria quebrado a sua cara sem pensar duas vezes. Bufando como uma criança pirracenta, ele se senta no braço do sofá novamente, cruzando os braços em frente ao peito.

ㅡ Nós vamos fugir ㅡ Liam fala abruptamente e todos nós o encaramos. Inclusive Niall, que destampa os ouvidos.

Há um breve silêncio, então, me arrisco a perguntar:

ㅡ Pra onde eu irei?

Iremos. Nós entramos juntos nessa e nós saímos juntos. Nós acharemos uma saída. Mudaremos de identidade, de visual, de país se necessário... Mas presos nós não seremos.

Prendo a respiração enquanto Zayn encara Liam, concordando em afirmação. Niall volta a abaixar a cabeça, tampando os ouvidos e eu olho para Harry, que está me fuzilando com os olhos semicerrados, lançando logo em seguida o dedo do meio em minha direção.

Reviro os olhos e solto um suspiro pesado.

Eu estou fodido.
Nós estamos fodidos.

CARDINAL [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora