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Dezembro de 2021.
Worcester, Massachusetts.

Harry Styles.

Na última semana eu fiquei tenso. Mais tenso que o normal. Passei os dias com aquela sensação estranha martelando no peito de que a qualquer instante algo de ruim poderia acontecer. E, apesar de manter essa sensação comigo, os dias se encaminharam com tranquilidade. 

E esse é justamente o problema: tranquilidade nunca foi um forte para nós.

Desde que entramos nessa vida, não houve um dia sequer em que pudemos respirar completamente tranquilos; nem quando Hetaclito sumiu.

Quando fomos entregar a ela os sacos, preferimos não comentar sobre os acontecimentos daquela madrugada. Apenas entregamos o que ela havia pedido e saímos. Não ficamos esperando por uma afirmação, um elogio ou uma conversa, apenas saímos da academia e viemos para o apartamento.

Não fomos recompensados por essa missão, o que era de se esperar, já que ela disse que estávamos dando prejuízo. Em contrapartida, também não houve reclamações a respeito. Sinal que ela conseguiu o que queria.

A tensão entre nós cinco é notória, mas tenho percebido que Louis é o que mais aparenta estar tenso. Ele tem ficado mais pensativo e mais recluso do que o habitual nos últimos dias. Sei que ele está remoendo a ideia de ter deixado a carteira para trás, e se martirizando por ter falhado.

Mas Louis não falhou. Em nenhum momento.

Aquela missão tinha tudo para dar errado. Foi toda programada para dar errado. Não pareceu uma missão comum. Parece que fomos arrastados para o fracasso.

Eu ainda fiquei impressionado por termos conseguido pegar os sacos, já que, se dependesse de mim, teríamos saído de lá e deixado tudo para trás na primeira oportunidade.

E, apesar de querer muito, tenho me contentado em não conversar com Louis a respeito de tudo o que aconteceu. Ele, pelo visto, cansou de ser ignorado por mim, já que também não faz nenhuma questão de me abordar desde o ocorrido.

O que Louis não sabe é que eu apenas o ignoro para que não entremos em guerra novamente. Ignoro porque sei que não consigo controlar a minha impulsividade, e tenho medo de quão fundo minhas palavras podem atingi-lo. Tenho medo de que o estrago seja irreversível, por isso, prefiro ignorar sua presença, sabendo que ele está aqui e que não estamos nos ofendendo, do que ao contrário. Por mais difícil que isso seja.

Desligo o chuveiro, e começo a me secar, me vestindo sob a névoa causada pela água quente. Estou terminando de vestir minha calça quando ouço Liam gritar meu nome.

Reviro os olhos e ignoro enquanto limpo o espelho embaçado para me olhar, mas, após alguns segundos, ele berra o meu nome mais alto e mais desesperado, e meu coração gela.

Que não seja o Louis. Que não seja o Louis.

Repito como um mantra, sentindo o ar se prender em meus pulmões.

Saio do banheiro em desespero, correndo até a sala, tropeçando nos meus próprios pés. Quando meus olhos mapeiam o ambiente, percebo que estão todos ali, inclusive Louis, que está sentado no sofá, com a mandíbula retraída e as sobrancelhas franzidas. Solto uma respiração pesada que faz meus pulmões doerem e olho para Liam, que permanece olhando para televisão.

ㅡ O que foi, caralho? ㅡ Pergunto com o coração acelerado, não obtendo resposta.

No entanto, meu corpo gela completamente ao ouvir o nome de Louis no noticiário da manhã. Estalo a minha cabeça em direção a tela em um movimento tão repentino que faz o meu pescoço  doer, e meus olhos se fixam na imagem exata de Louis colocando os explosivos na porta de metal da financeira.

CARDINAL [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora