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Um mês antes.

Louis Tomlinson.

As vezes sinto como se estivesse vivendo em uma realidade paralela. Como se minha vida real tivesse parado enquanto estou preso em um sonho que não tem fim. Um sonho que eu não consigo acordar.

Preciso confessar que os nossos dias eram melhores quando tínhamos missões, mesmo que eu odiasse cada segundo. Ao menos, quando estávamos ocupados com Heraclito, não tínhamos tanto tempo livre.

E tempo livre às vezes é um martírio.

Estar sozinho, com sua própria mente, te faz, muitas vezes, pensar demais. E pensar demais normalmente desperta sentimentos ruins, que não deveriam vir à tona, mas vêm, como uma onda, tomando lugar de tudo aquilo que um dia foi concreto.

Não sei como ficou a situação de Hetaclito com Zayn, não sei sobre o que conversaram, o que ele disse, o que ela disse, mas o fato dela ainda não ter nos procurado me faz pensar em inúmeras possibilidades. Já pensei em propor a eles que fugíssemos sem destino certo, já pensei em atacar Heraclito agora que ela está frágil, já pensei em sumir do mapa por conta própria.

A possibilidade de fugir é a que tem sido mais frequente em minha cabeça, a única coisa me impossibilitando de sugerir isso é Zayn. Ele se transformou em outra pessoa depois que soube do aborto. Ele mal conversa conosco. Mal fica em casa. Eu não sei o que se passa na cabeça dele, se está sofrendo, se está planejando algo, se está se desmoronando.

Sendo sincero, depois que isso aconteceu, eu também me tranquei um pouco. Minha confiança em Zayn foi quebrada. Eu já não confiava nele completamente, mas agora, parece que a situação piorou. Não que ele tenha dado outros motivos, mas acho que ter engravidado a líder dessa facção já é motivo suficiente para que tenhamos um pé atrás.

Solto um suspiro e me levanto da cama. Vou até o banheiro, escovo os dentes e me olho no espelho. Meu semblante não está tão acabado como estava há uns meses atrás, mas não me reconheço completamente.

Eu só queria que isso acabasse. Que tudo voltasse a ser como era antes, e às vezes, me arrependo de ter aceito aquele cartão.

Mas se eu me arrepender disso, estaria me arrependendo de tudo, inclusive de ter conhecido quatro caras singulares.

Liam, sempre tão centrado, responsável, companheiro, presente.

Niall, sempre tão doce, tão frágil e tão forte, tão parceiro e amigo.

Zayn, que apesar dos pesares, sempre esteve aqui, e sempre estendeu a mão para mim quando precisei.

E Harry…

Harry é um assunto delicado. Ele não chegou na ponta dos pés, explorando com delicadeza o território frágil que era meu coração, pelo contrário, ele chegou metendo o pé na porta, escancarando cada uma das janelas, mudando todos os móveis de lugar. Harry é uma constante incerteza e contradição. Sempre tão aberto, mas fechado como ninguém. Sempre tão expressivo, mesmo não sabendo se expressar. Seco como a chuva. Doce como fel. Frágil como uma rocha. Inquebrável como vidro. Tão parecido comigo e ao mesmo tempo tão diferente.

E mesmo querendo a minha liberdade a todo custo, eu viveria cada instante novamente, passaria por tudo de novo, se esse fosse o preço a se pagar para conhecê-los e tê-los em minha vida.

Talvez eu jamais saiba expressar a minha gratidão, mas sou grato a cada um deles por ter me tirado do buraco que a morte de Hugo e os traumas nas forças armadas me colocou.

Nunca foi só flores. Mas nada nunca é. No entanto, nesse jardim que criamos juntos, há mais árvores frutíferas do que ervas daninhas.

Saio do banheiro e vou para a cozinha preparar algo para comer, mas no momento que entro no cômodo, vejo que Harry está acabando de colocar os ovos mexidos que ele fez em seu prato. Seu olhar se encontra rapidamente com o meu, mas ele o desvia de imediato.

CARDINAL [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora