CARDINAL [L.S]

17

Dez meses antes.

Harry Styles.

Vou retirando as faixas das mãos ao me jogar no sofá. Respiro fundo. Eu estou exausto.

Desde que nos mudamos para o apartamento, Heráclito não nos deu sossego, como eu pensei que não daria. São horas incansáveis de exercícios físicos por dia, incluindo corridas e lutas. Alguns dias é boxe, nos outros, jiu-jitsu, na outra semana luta livre. Fora os treinamentos de autodefesa e de tiro. É uma rotina extremamente pesada para quem, em sua maioria, era completamente sedentário.

Heráclito nos presenteou com uma espécie de relógio tecnológico. Ele apita e a tela avisa qual será a atividade do dia. Normalmente, nos dias de exercícios físicos, o relógio de todos nós apita no mesmo instante, e temos meia hora até chegarmos à academia reservada algumas quadras daqui. As lutas, no entanto, são individuais, assim como os outros treinamentos. Mas sempre acontecem neste mesmo lugar.

Nunca ultrapassamos o tempo e nunca faltamos às atividades. Vindo de Heráclito, sabemos que se isso acontecer, haverá alguma consequência. Desde que nos mudamos, não quisemos pagar para ver o que aconteceria se não cumprissimos as regras impostas.

Sinto meu corpo mudando. Meus músculos mais evidentes. E apesar de detestar o processo, me aprecio mais ao me olhar no espelho. Impressionante como em menos de um mês, tanta coisa pode mudar.

Liam se joga no sofá ao meu lado, suando e ofegante. Normalmente, sua presença não me incomoda, já que de todos, ele é o menos insuportável para mim.

Depois que fomos obrigados a morar juntos, tudo aquilo que eu já detestava, naquele quartinho branco, se tornou ainda mais evidente.

Zayn só sabe reclamar de tudo; ele reclama da comida, da cama, da rotina, do dia, da luz, do sol, dos barulhos, do universo. Se um dia ele parar de reclamar de alguma coisa, acredito veemente que é bem capaz dele cair duro no chão. Ele vive pra reclamar e xingar aos quatro ventos toda a sua indignação. Todos os dias ele recita seu ódio por Heráclito e todos os dias somos obrigados a ouvir.

Niall é apenas Niall. Se me dissessem que ele não está presente em casa, eu acreditaria. Ele sempre fala baixo, vê televisão num volume baixo, não faz muitos alardes. Sem contar que quase nunca nos cruzamos durante o dia, já que seus treinamentos são diferentes. E apesar dele também fazer algumas aulas de tiro e de autodefesa, a maioria do tempo, ele passa no computador, sendo treinado a distância por sabe-se Deus quem.

Liam é tranquilo. Não fala muito. Não reclama de muita coisa e normalmente é o que cozinha melhor de nós cinco.

Apesar das despesas estarem pagas, só nos é ofertado comidas para serem preparadas. Ninguém tem coragem de gastar o dinheiro que Heráclito depositou em nossa conta para pedir comida pronta. Então, a maioria de nós, evita brigar com Liam para não passar fome.

E tem Louis. O insuportável.

Descobri que ele tem TOC por limpeza e está sempre falando de alguma toalha fora do lugar, ou das vasilhas sujas na pia, ou de algum lixo espalhado pela casa. Ele continua tentando ser o centro das atenções, mas surpreendentemente, não me enche tanto o saco.

Não trocamos muitas palavras, apenas o necessário. Acho que, no fundo, ele ficou com um certo receio depois que me contou sobre ser um ex militar. Ele normalmente reclama da bagunça de todos, e apenas ignora a minha. Praticamente obriga os outros a lavar as vasilhas e quando eu deixo alguma na pia, ele mesmo lava. E minha toalha, quando esqueço de pendurar, sempre aparece pendurada de alguma forma.

Não tenho muito o que reclamar. Posso até dizer que a convivência está razoável. Ainda não nos matamos. Mesmo eu já tendo pensado nisso algumas vezes.